Mais um desafio de Obama – a paz com o Irã

    (*) Fátima Pimenta

    “A paz não pode ser mantida à força. Somente pode ser atingida pelo entendimento.” (Albert Einstein)

    Barack Obama propôs aos iranianos um novo começo nas relações internacionais. Enquanto a ‘linha dura’ em Teheran se mostra intransigente, uma grande parte da população iraniana esperam pela reconciliação.

    Na antiga embaixada dos Estados Unidos em Teheran pode-se ainda ver as pichações anti-USA, com a Estátua da Liberdade com rosto de caveira no meio da bandeira americana. Os jovens vem toda sexta-feira, em massa, através do portão da Universidade de Teheran, os homens agacham-se no antigo ginásio esportivo e as mulheres sentam-se no caminho de pedras. Eles discutem e desembalam suas provisões. Quando as palavras de ameaça “Morte para os Estados Unidos!” ecoam dos altofalantes, a massa coloca-se em movimento e respondem com um grito comum: “Morte para os Estados Unidos!” liderados pelos religiosos barbudos. Este é um ritual conhecido. Mesmo assim, é somente um aspecto no todo.

    Há 30 anos é a religião que conduz a política. A maior parte aqui é formada por pobres, fiéis ao regime e os de escolaridade restrita, que se manifestam em uma só voz. Um exemplo de como este grupo percebe esta reconciliação é Fatimeh, 64 anos, analfabeta. Ela diz que ouviu dizer sobre a negociação entre os Estados Unidos e o Irã, mas ela não considera muito esta possibilidade, pois ela acha que os Estados Unidos são contra o islamismo, fora isso ela não tem nada contra os americanos. “Se eles aceitarem o islamismo, então eu acharia boa uma negociação”, diz Fatimeh.

    A negociação entre os Estados Unidos e o Irã poderia estar diante de uma transição, 30 anos depois da ruptura das relações diplomáticas. O Presidente Obama disse, em seu vídeo-mensagem de votos de Ano Novo, que os Estados Unidos querem que a República islâmica do Irã ocupe seu lugar de direito na sociedade internacional. É a primeira vez que um presidente norte-americano propõe abertamente uma proximidade, sem impor condições. Obama lançou sua mensagem poucos dias antes da conferência internacional do Afeganistão em Den Haag. Como outro sinal de abertura, os Estados Unidos convidou o Irã para o evento. Mas resta ainda a dúvida de como será a continuação deste processo no Irã, uma vez que os Estados Unidos foi considerado por décadas “o grande Satã”.

    Washington e Teheram discordaram, sobretudo, sobre o duvidoso programa atômico. Além disso, o estado de Mullah foi acusado de receber o apoio de militantes islamistas. As reações oficiais demonstram menos motivo de esperança: “Se os Estados Unidos mudarem, nós mudaremos nosso comportamento”, disse Ayatollah Ali Chamenei, o chefe religioso do Irã – e expôs do seu lado exigências: primeiro os Estados Unidos deveriam finalizar com o apoio a Israel e suspender as sanções econômicas contra o Irã. Porém, o notório processo, ainda obscuro, segue sem grandes esclarecimentos. Até então se tratava de deixar todas as opções abertas no círculo diplomático em Teheran. Mas dentro do país, a orientação por um futuro promissor seria fortemente discutida. De acordo com o ponto de vista de Ebrahim Yazdi, a atitude sem compromisso da ‘linha dura’ no país já começou a se desmoronar. O Secretário Geral do Movimento de Liberdade, um partido democrático oficial proibido, alega que “há 5 anos atrás isto seria impossível, e também somente por dizer: ‘nós temos que nos comunicar com os Estados Unidos’”, assim Yazdi. O país precisa urgentemente de um parceiro. Ele afirma ainda que vê uma disposição para um trabalho de ambos os lados. O antigo Ministro do Exterior do Irã está convencido que a população está muito mais à frente do que o Regime: “Nos Estados Unidos vive um iraniano milionário, quando seus parentes querem visitá-lo, tem que ir até Dubai para providenciarem um visto, eles ficariam aliviados se existisse uma embaixada americana em Teheran”.

    O prédio da antiga embaixada fica no centro. As bandeiras dos Estados Unidos na fachada estão rasgadas, mas ainda podem ser identificadas. Poucos meses após a revolução islâmica de 1979, estudantes invadiram o imóvel e pegaram como reféns 52 diplomatas durante 444 dias. Desde então o prédio ficou abandonado. Pinturas coloridas decoram os muros com mensagens negativas contra os Estados Unidos. Este tipo de propaganda foi durante décadas um símbolo de apoio da ideologia do Regime para colocar o povo na linha, ou pelo menos tentar.

    “Os Estados Unidos é o coração da economia mundial. Naturalmente seria melhor para nós, se tivéssemos uma boa relação”, diz o jovem Hamed, 21 anos, redator chefe de um jornal universitário. Por causa do seu trabalho como jornalista, ele tem problemas suficientes com o Regime. Hamed está entusiasmado com Obama, ele já viu seu discurso de campanha mais de quatro vezes no Youtube e espera que a promessa de mudança (“CHANGE”) de Obama chegue até seu país. Ele reflete sobre os Estados Unidos e chega a conclusão de que eles tem a democracia, a liberdade, a multiplicidade, e de tudo há somente um pouco em sua terra natal, um pouco desta influência poderia melhorar as coisas no Irã.

    Mais uma vez, Obama mostra que seu propósito de mudança é real e não só para os Estados Unidos. Mas barreiras deverão ser rompidas e ainda há muito que fazer para mudar a imagem dos Estados Unidos.