Da corrupção na Botocúndia à malandragem do imperador de araque

Maus exemplos no esporte embalam a corrupção e anestesiam a capacidade de discernimento da sociedade

A irresponsabilidade já era conhecida, mas com o anúncio feito pelaFifa na tarde deste domingo (31) em Nassau, nas Bahamas, agora já é possível saber os doze endereços da corrupção que a Copa de 2014 proporcionará ao Brasil, um país com dimensões continentais e problemas em tamanho idêntico.

É verdade que nesse megalômano e desnecessário projeto tem gente séria, mas a experiência deixada pelos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro nos leva a imaginar o que vem pela frente. Com despesas cinco vezes superiores ao orçamento inicial, o Pan do Rio ainda não teve suas contas definitivamente aprovadas. Como o Estado sabe muito bem como e quando usar a teoria do “pão e circo”, com boa dose de certeza a roubalheira será monumental.

Alguns podem até questionar a razão do descrédito em relação à lisura da Copa no Brasil – de lado ficam os comentários sobre a necessidade –, mas o comportamento do torcedor diante de escândalos é simplesmente desanimador. E nesse quase interminável imbróglio uma boa parte da imprensa tem grande parcela de culpa.

Comecemos, então, a analisar os fatos pela irresponsabilidade da mídia. Quando Ronaldo Nazário, que agora é jogador do Corinthians, começou a despontar no mundo do futebol, não faltaram à época os alarifes de plantão, que sempre lucram com a fama alheia. E não demoram muito para que uma alcunha lhe fosse conferida. Fenômeno. Ronaldo sempre foi um jogador acima da média, mas daí a afirmar que ele foi um atleta fenomenal é utopia. Mas isso aconteceu porque cifras milionárias turbinaram um projeto ilusionista.

A fragilidade desse projeto era tão grande, que quando Ronaldo passou a dar trabalho para a balança os seus aduladores por encomenda ficaram sem saber o que dizer. De volta aos gramados, agora com a camisa 9 do alvinegro paulistano, Ronaldo retomou a condição de alvo dos mesmos salamaleques interesseiros de alguns midiáticos, que recheiam a carteira com esse condenável comportamento.

Na mesma esteira da ilógica está o jogador Adriano. Contratado para reforçar a equipe da Internazionale, Adriano precisou de pouco tempo para ter problemas em Milão, uma das mais belas e charmosas cidades europeias. Antes de seus conhecidos entreveros, Adriano foi rotulado irresponsavelmente como “Imperador”. A besteira cometida pela imprensa italiana ganhou força com a participação de alguns jornalistas tupiniquins, sempre acostumados a esse inexplicável “puxa-saquismo”.

O ser humano tem uma necessidade cada vez maior de encontrar ídolos. É uma forma de compensar as frustrações que a vida via de regra nos impõe. Quem não sabe lidar com a perda ou o adiamento de um desejo, sempre acaba fazendo de um ídolo uma válvula de escape. Essa busca por um ídolo é tão perigosa quanto ir ao supermercado com muita fome. Se com fome o prejuízo já é grande, com excesso o estrago ganha proporções inimagináveis. Sempre compramos o que não precisamos, a começar por besteiras. E assim funciona na busca por um ídolo.

Quando Adriano retornou ao Brasil para uma temporada no São Paulo Futebol Clube, muitos afirmaram que ter deixado a Itália foi resultado de uma conjunto de dificuldades psico-emocionais que o jogador vinha enfrentando. Bobagem, pois Adriano é um esperto de ocasião, que faz do corpo mole o mais eficiente passaporte para a indolência ricamente remunerada. O SPFC foi obrigado a mudar o seu esquema tático para dar guarida a um suposto perturbado emocional. Além dos parcos gols que marcou, resultado de um corpanzil que na área adversária nada tem de diplomático, Adriano simplesmente foi uma experiência desastrosa na história do São Paulo.

De volta aos gramados milaneses, Adriano continuou a criar problemas para os cartolas da Inter. Foi quando o jogador decidiu voltar ao Brasil e se enfurnar na favela carioca onde foi criado. Após ser flagrado na garupa da moto de um traficante local, Adriano disse que havia perdido a vontade de jogar. Mentira, todo esse enredo cinematográfico foi muito bem estudado e planejado. Para encerrar tão circense espetáculo, a diretoria do clube italiano optou por rescindir o contrato do jogador. Era o que Adriano e o Flamengo tanto queriam. Semanas mais tarde, Adriano foi contratado pelo Flamengo. O que deveria ser condenado com veemência virou uma enorme festa.

Ontem, diante do Atlético Paranaense, Adriano marcou um gol e voltou a ser chamado de imperador pela parcela irresponsável da imprensa. Fosse um profissional de qualquer empresa, Adriano, com atitudes semelhantes, dificilmente conseguiria trabalho nos próximos anos. Mas o futebol é uma coisa malandra, que para manter esse vexatório “status quo” carece de gente com o mesmo código genético.

Mas Adriano não está só nessa empreitada. Se a bandalheira pode ser “fulanizada”, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, é uma ode ao tema. Da pequena cervejaria que trouxe de maneira camuflada no avião da seleção brasileira ao lobby lamacento que faz no Congresso Nacional, impedindo a instalação de CPIs, Teixeira será, daqui até 2014, o dono da bola.

No país onde Ricardo Teixeira é celebridade e Adriano é adulado pela imprensa depois de uma palhaçada não é difícil imaginar o que acontecerá em termos de jogadas criminosas e dribles fraudulentos no rumo da Copa.