Dando continuidade à vida

Dados apontam crescimento de 11% na doação de órgãos no primeiro trimestre do ano

(*) Ana Carolina Castro

O brasileiro tem pensado um pouco mais no próximo. É o que os números do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) apontam. A pesquisa, realizada pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), constatou que no primeiro trimestre de 2009 houve um aumento de 11% na taxa de doadores efetivos no país, comparado com o mesmo período do ano passado, tendo atingido pela primeira vez oito doadores por milhão de população. Esse aumento alimenta as expectativas da ABTO de atingir a taxa prevista para esse ano de 8,5 doadores por milhão de pessoas.

A doação de órgãos beneficia milhares de pessoas todos os anos. Márcia Ferreira Maluf, 56 anos, é um exemplo. Em fevereiro de 1996, a tradutora foi diagnosticada com miocardiopatia dilatada, uma inflamação da parede muscular do coração. Seu coração cresceu tanto que afastou órgãos adjacentes, como o estômago. Segundo o médico, se o transplante não fosse feito, ela não teria mais do que três meses de vida. Por sorte, ela só esperou 12 dias pelo transplante que a tornou a primeira mulher do Brasil a receber um coração.

No momento do transplante, Márcia estava debilitada e pesava apenas 35kg, mas conta que o sucesso da cirurgia se deu em grande parte ao apoio incondicional que recebeu do marido e dos filhos. Hoje leva uma vida normal. “Trabalho feito louca e danço toda sexta-feira. Minha filha tem necessidades especiais e depende totalmente de mim, e eu estou aqui há 13 anos, firme e forte”, diz. Com seu jeito alegre de ver a vida, Márcia não aparenta a idade que tem. “Tenho 56 anos, mas meu coraçãozinho é realmente 20 anos mais jovem”, brinca Márcia e completa: “Estou nesta vida a passeio, nada me tira do sério. Se coisas ruins acontecem, é sinal de que estamos na luta. Afinal, você já viu algum morto ter problemas?”.

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Infelizmente, nem todos tem a sorte de Márcia. Muitos aguardam há tempos em filas de espera pelo transplante dos órgãos que podem salvar suas vidas. Segundo a Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (ADOTE), a doação pressupõe critérios mínimos de seleção. Idade, o diagnóstico que levou à morte clínica e tipo sanguíneo são itens estudados do provável doador para saber se há receptor compatível. Todos são doadores, desde que a família autorize. Assim, a atitude mais importante é comunicar para a família o desejo de ser doador. No entanto, não são apenas órgãos de falecidos que podem ser doados. Órgãos como rim, parte do fígado e da medula óssea podem ser doados em vida.

Um único doador tem a chance de salvar ou melhorar a qualidade de vida de pelo menos 25 pessoas. As partes do corpo que podem ser aproveitadas para transplante são: os rins, pulmões, coração, fígado e pâncreas, córneas, válvulas cardíacas, ossos do ouvido interno, cartilagem costal, crista ilíaca, cabeça do fêmur, tendão da patela, ossos longos, fascia lata, veia safena e também a pele. Todos os anos, milhares de pessoas contraem doenças cujo único tratamento é um transplante. E elas estão à espera de um doador, que muitas vezes não aparece a tempo.