Promessa da presidente eleita Dilma Rousseff sobre ministério técnico fica pelo caminho

Sem cumprir – Tão logo teve a vitória nas urnas confirmada oficialmente, a eleita Dilma Vana Rousseff começou a tratar da escolha da equipe ministerial. Ao falar pela primeira vez sobre o assunto após a eleição, Dilma disse que as escolhas seriam técnicas. Foi um recado transverso que a ex-ministra da Casa Civil mandou ao seu mentor como candidata, o sempre messiânico Luiz Inácio da Silva.

Assimilado o recado, o companheiro Lula disse à imprensa que a equipe ministerial deveria ter o perfil da presidente eleita. Mas o recuo do presidente-metalúrgico em relação aos palpites teve duração curta.

Se por um lado o mais conhecido dos petistas retomou a ingerência, colocando por terra o desejo de Dilma, por outro os conchavos políticos aniquilaram a meritocracia que Dilma fez questão de anunciar como sendo o parâmetro do processo de escolha de assessores. Para provar que o quesito competência foi deixado de lado, o ucho.info faz uma análise dos ministros já confirmados por Dilma Rousseff.

Reeleito para o Senado Federal, o maranhense Edison Lobão (PMDB) voltará a comandar o Ministério de Minas e Energia, mas pelo que se sabe essa não é a sua especialidade. Empresário do setor de comunicação, Lobão é na verdade um estranho na seara energética. Tanto é assim, que foram estapafúrdias suas explicações por ocasião do apagão elétrico de novembro de 2009.

Também reeleito para o Senado Federal, o potiguar Garibaldi Alves Filho (PMDB) foi confirmado pela presidente eleita para o Ministério da Previdência. Perguntado se estava preparado para o novo desafio, Garibaldi disse “acho que sim”. Político hábil e experiente, Garibaldi não pode se valer de “achismos”.

Deputado federal pelo PMDB do Maranhão, Pedro Novais foi escolhido para assumir o Ministério do Turismo, assunto que ele só conhece por conta de suas viagens como parlamentar. Morador do Rio de Janeiro, Novais sempre faz a mesma pergunta quando encontra a bancada maranhense: “Como está o Maranhão?”. Mas essa disparidade geográfica que emoldura o status político de Pedro Novais tem uma explicação. O parlamentar tem um esquema montado há muitos anos para distribuição dos recursos de suas emendas parlamentares.

Ex-governador do Rio de Janeiro e ex-diretor de loterias da Caixa Econômica Federal, Moreira Franco foi indicado para a Secretaria de Assuntos Estratégicos. Assunto que o homem de confiança do vice-presidente eleito Michel Temer desconhece totalmente.

Ex-ministro dos Transportes, a amazonense Alfredo Nascimento (PR) foi confirmado para mais uma vez comandar a pasta. Candidato derrotado ao governo do Amazonas, Nascimento está sendo investigado pelo Ministério Público Eleitoral por compra de votos na última eleição. Se condenado, Alfredo Nascimento ficará inelegível por pelo menos oito anos. Mas a indicação do seu nome para o Ministério dos Transportes tem ao menos uma coincidência. A estrada que o MP lhe prepara terá buracos e solavancos de sobra.

Candidata derrotada ao Palácio da Agronômica, sede do Executivo catarinense, a petista Ideli Salvatti ganhou como prêmio de consolação o Ministério da Pesca (anteriormente tinha status de secretaria). Quem analisa o currículo da ainda senadora de Santa Catarina logo percebe que pesca não é a sua especialidade. Quando muito Ideli passou algumas raras vezes na peixaria da esquina. A explicação para a bisonha indicação não está apenas em premiar uma companheira derrotada nas urnas, mas de manter o Ministério da Pesca como um reduto exclusivo de catarinenses. Segundo maior pólo da indústria pesqueira sul-americana (está atrás apenas do Peru), Santa Catarina tem enfrentado sérios problemas no setor.

Atual ministro da Defesa, o gaúcho Nelson Jobim (PMDB) foi convidado por Dilma Rousseff para permanecer no cargo, o que deve acontecer por apenas dois anos, segundo apurou o ucho.info. Advogado e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Jobim não é um especialista em Defesa, mas tem obtido sucesso ao fazer a ponte entre as Forças Armadas e o palácio do Planalto. Fora isso, está à frente do processo de reaparelhamento da Força Aérea Brasileira.

Entre os cotados há também discrepâncias enormes. Senador pelo PT e candidato derrotado ao governo paulista, Aloizio Mercadante pode assumir o Ministério de Ciência e Tecnologia. Nos oito anos em que esteve senador, Mercadante pouco fez para o mais rico e importante estado brasileiro. O ministério será uma recompensa pelo sacrifício feito nas recentes eleições.

Ex-líder estudantil e deputada federal reeleita em outubro passado, a gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB) pode ser indicada para substituir Orlando Silva Júnior no Ministério dos Esportes. Jovem, Manuela é namorada do deputado federal José Eduardo Martins Cardozo (PT), cotado para assumir o Ministério da Justiça, mas a sua especialidade nem de longe é a área esportiva. Faltando menos de quatro anos para a Copa do Mundo de 2014, o Ministério dos Esportes precisa de alguém competente e com experiência no setor.

Deputado federal reeleito, o baiano Mário Negromonte, que fez do Partido Progressista uma base de articulações em benefício próprio, pode assumir o Ministério das Cidades na condição de indicado do governador da Bahia, o petista Jaques Wagner. A eventual indicação de Negromonte para o Ministério das Cidades pode comprometer ainda mais a difícil situação política do PP, nos últimos anos foi transformado em uma espécie de bambolê político dos seus gulosos caciques.

Atual ministro de Relações Exteriores, pasta onde destilou a sua conhecida incompetência, Celso Amorim pode permanecer na equipe ministerial da eleita Dilma Rousseff. Amorim, que na época da ditadura foi escorraçado da Embrafilme, juntamente com Samuel Pinheiro Guimarães, é cotado para o Ministério da Cultura.

Com um cipoal de escândalos e espetáculos de incompetência desde que chegou ao Ministério da Educação, o ministro Fernando Haddad foi indicado por ninguém menos que Luiz Inácio da Silva para permanecer no cargo. Nem mesmo o fiasco do Enem, em dois anos consecutivos, está sendo levado em conta por Dilma Rousseff.

Para que não surjam os inconformados para nos acusar de parcialidade, algumas nomeações são pertinentes sob a ótica da competência ou da convergência profissional do indicado com o cargo. Deputada federal pelo PT gaúcho, Maria do Rosário será a nova titular da Secretaria de Direitos Humanos. Assunto que a parlamentar petista domina com certa destreza.

Integrante da equipe de transição, José Eduardo Cardozo é advogado e professor de Direito. Economista reconhecido internacionalmente e atual diretor de Normas do Banco Central, Alexandre Tombini é um bom nome à frente da instituição responsável pela política monetária do País.

Jornalista, com passagens pela Rede Globo e SBT e ex-diretora de jornalismo da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Helena Chagas substituirá o também jornalista Franklin Martins na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. De resto, o que se vê é fisiologismo barato e da pior qualidade.