Vergonha: imprensa se rende ao dinheiro oficial e evita apontar os culpados pela tragédia no RJ

Bolso cheio – Desde as primeiras notícias sobre a tragédia que tomou conta de cidades da região serrana do Rio de Janeiro, ficou clara e evidente a ditadura silenciosa a que se submete a grande imprensa nacional, que diante de um extenso caos se limitou, como ainda se limita, a noticiar os fatos. Quando os veículos de comunicação entrevistam as autoridades, as desculpas oficiais são perpetuadas como verdades supremas, sem que os responsáveis pela maior tragédia natural da história brasileira tenham sido contestados ou criticados.

Esse tipo de situação ocorre porque o Estado, como um todo, é um grande e poderoso anunciante. E como no mundo capitalismo rasga-se a coerência, mas o vil metal jamais, não demorará muito para que a opinião pública se convença que a natureza é a grande e única culpada pelo rastro de destruição que por pouco não dizimou algumas cidades fluminenses.

Para provar que alguns órgãos midiáticos não se envergonham de deixar a coerência de lado, a Rede Globo não se fez de rogada e gerou reportagens a partir da sede da Legião da Boa Vontade (LBV), em São Paulo, que como sempre atua em benefício dos mais necessitados. Sob o comando de José de Paiva Netto, a LBV capitaneia uma enorme operação de coleta e distribuição de donativos para as vítimas da região serrana fluminense.

Para quem não sabe, a Vênus Platinada patrocinou tempos atrás, sob os auspícios de Roberto Marinho, uma covarde campanha contra Paiva Netto, apenas porque o líder da LBV não se curvou aos interesses da emissora que cresceu à sombra do ranço criminoso da ditadura. Mas José de Paiva Netto não foi o único que experimentou a artilharia virulenta do então todo-poderoso Roberto Marinho. Ex-ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel também teve o nome envolvido em um escândalo faccioso, apenas porque contrariou interesses da emissora carioca. O mesmo ocorreu com o médico Alceni Guerra, deputado federal pelo Paraná, que quando ocupou o Ministério da Saúde no governo Collor de Mello foi alvejado por um cipoal de mentiras disparado a partir do Jardim Botânico.

Nas reportagens exibidas nos últimos dias, as emissoras de tevê, principalmente, pouparam os culpados e enxertaram na programação depoimentos dos próprios repórteres, que falaram sobre a cobertura jornalística de episódios semelhantes, como se a opinião pública brasileira fosse composta por pessoas afetadas pelo vírus da idiotia. O enfadonho e dominical Fantástico, atendendo a ordens oficiais, levou ao ar matéria em que um geólogo explica o que ocorreu na região serrana do Rio de Janeiro. E como era de esperar, a natureza mais uma vez foi a grande culpada.

A genuflexão da imprensa do País chega a causar náuseas, pois muitos dos que participam dessas reportagens encomendadas trocaram a própria consciência pelo salário, não importando neste momento que a verdade seja mostrada à sociedade e que o dedo seja, sim, apontado para os culpados, que devem ser tratados pelo Estado como criminosos. Diferentemente do que ocorre nessa banda nada confiável da imprensa brasileira, o ucho.info volta a afirmar que, fosse o Brasil um país minimamente sério e responsável, o governador Sérgio Cabral Filho já estaria preso.