Na corrida à presidência do Ibama, biólogo leva vantagem ao autorizar Belo Monte

Conflitos e interesses – Presidente substituto do Ibama, o biólogo Américo Ribeiro Tunes fincou a primeira estaca para ser efetivado no cargo. A vantagem sobre os demais candidatos pode ter acontecido com a autorização para desmatar uma área para implantação da infraestrutura da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingú, no Pará.

Tunes é ligado ao Partido dos Trabalhadores e assinou o polêmico documento na tarde de quarta-feira (26), atendendo a interesses do Palácio do Planalto, do Ministério das Minas e Energia e do consórcio Norte Energia, que venceu o leilão promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica.

O presidente anterior, Abelardo Bayma Azevedo, teria sido demitido há duas semanas por não concordar com a licença. Até ontem, o Ibama não estava disposto a flexibilizar algumas das 40 condicionantes impostas para a licença prévia. De imediato serão desmatados 280 hectares para implantação do acampamento, canteiro industrial e área de estoque de solo e madeira.

A presidência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente é disputada por facções dentro do próprio órgão e por partidos políticos. Por conta dessa briga intestina, a presidente da República, Dilma Rousseff, teria adiado a nomeação para após a eleição da Câmara dos Deputados. Dilma estaria preocupada com a “contaminação” do processo político-partidário com a indicação para o cargo.

A Usina Belo Monte é um caso polêmico que se arrasta desde 1979, quando técnicos do governo federal apresentaram estudos favoráveis à construção de cinco barragens no Xingu e uma no rio Iriri. Da proposta inicial, de cinco barragens, ficou-se com uma. E para a usina, ao invés das convencionais, decidiu-se usar turbinas bulbo, que operam a fio d’água e exigem menor área de alagamento.

O Greenpeace acredita que isso diminuiu, mas não tornou o impacto da obra mais aceitável. Ela vai causar um desmatamento de quase 12 mil hectares. Seus efeitos sobre a fauna, a biodiversidade e sobre os indígenas que dependem do Xingu para sua sobrevivência, segundo os próprios técnicos do Ibama, ainda estão longe de terem sido adequadamente avaliados.

O governo começou dizendo que Belo Monte custaria R$ 7 bilhões, passou para R$ 16 bilhões e agora estima em R$ 25 bilhões. Há quem acredite que o custo possa chegar a R$ 30 bilhões. A primeira unidade geradora da hidrelétrica de Belo Monte deverá entrar em operação comercial em fevereiro de 2015. A Eletronorte fará a operação e manutenção do empreendimento.