Mubarak resiste com o apoio do Exército e de simpatizantes, mas Obama defende transição imediata

Situação complicada – Quando, na terça-feira (1), tratou da incontrolável revolta que toma conta do Egito, o presidente Barack H. Obama, dos Estados Unidos, mandou um recado ao povo da terra dos faraós. “Ao povo do Egito, particularmente aos jovens do Egito, quero ser claro: nós ouvimos as suas vozes”, declarou Obama. O discurso do mandatário norte-americano foi um sinal de que a começava a minguar a capacidade do presidente Hosni Mubarak de resistir à pressão popular. A confirmação surgiu nas primeiras horas desta quarta-feira (2), quando Mubarak ordenou aos militares que pedissem o retorno do povo egípcio à normalidade.

O presidente Hosni Mubarak, que tenta permanecer no poder até setembro próximo, deu outra cartada na tentativa de debelar a crise que já dura nove dias. Restabeleceu o acesso à rede mundial de computadores, suspensa desde que o levante popular ganhou corpo através das redes sociais. Mesmo assim, a oposição, liderada pela Irmandade Muçulmana, exige a saída imediata de Mubarak do poder e do país.

O dia começava a raiar no Cairo quando Barack Obama, ainda na madrugada ianque, já estava convencido que a transição política no Egito deveria começar imediatamente. A mudança de postura de Obama diante da crise no Egito, um histórico aliado dos EUA, pode ser o resultado inicial de uma conversa com Mohamed ElBaradei, Prêmio Nobel da Paz e encarregado de fazer a interlocução entre o gabinete de Mubarak e a oposição egípcia.

Da suposta conversa entre representantes do governo norte-americano e ElBaradei pode ter surgido a promessa dos rebelados de, após a saída de Hosni Mubarak do poder, respeitarem o tratado de paz assinado com Israel. Até então, o tal tratado de paz era o único ponto que dificultava um apoio mais declarado dos Estados Unidos para a ejeção do presidente egípcio.

A rebelião no Egito surgiu no rastro de duas outras manifestações populares que acabaram emparedando os presidentes da Tunísia e do Iêmen. O general Zine El Abidine Ben Ali foi obrigado a deixar às pressas a Tunísia, depois de um forte levante popular que começou a partir da internet. Depois da fuga, Bem Ali viu boa parte das suas reservas financeiras serem bloqueada em contas bancárias mantidas no exterior.

Presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh garantiu nesta quarta-feira que não disputará a reeleição em 2013 e muito menos entregará o poder ao seu filho Ahmad, que atualmente dirige a guarda republicana. Acontece que o povo do mais pobre país do mundo árabe não se deu por satisfeito e Saleh, há 32 anos no poder, pode cair a qualquer instante, movimento que será impulsionado pelas péssimas condições de vida da população. Para complicar, Ali Abdullah Saleh decidiu suspender as eleições legislativas marcadas para 27 de abril.

Retornando ao entrevero egípcio, a situação de Hosni Mubarak tende a piorar nas próximas horas, o que pode o brigar o presidente a mandar os militares para as ruas das principais cidades do país, como Cairo, Suez e Alexandria. Como reforço de sua teimosa resistência, Mubarak conclamou grupos aliados para manifestações em sua defesa, o que provocou confrontos violentos com os rebelados.

O grande desafio de Mubarak para cumprir o mandato até o fim é driblar a oposição local, capitaneada, como citado anteriormente, por religiosos. E o único erro que um governante autoritário não deve cometer é desdenhar da capacidade organizacional de uma oposição religiosa, especialmente quando o Islã é o combustível da indignação.

Na conturbada situação que reina no Egito há um fator extremamente preocupante e que pode repetir o que já acontece na Tunísia, onde muçulmanos locais passaram a perseguir os judeus após a queda do então presidente Zine El Abidine Ben Ali. No caso de a situação ora vivida na Tunísia ecoar nas terras cortadas pelo Rio Nilo, a situação deve se agravar de forma incontrolável em todo o mundo muçulmano.

Ciente de que uma reação contra Israel pode acontecer a partir do Egito, a Casa Branca jamais defenderia o início imediato do processo de transição se não tivesse as garantias mínimas necessárias de que o Oriente Médio não irá pelos ares, pelo menos por enquanto. Do mais, o melhor a se fazer é continuar acreditando que o tempo sempre será o senhor da razão.