A suruba das bactérias ambulantes

    (*) Marli Gonçalves –

    Lavo minhas mãos. Mas só dormirei com a consciência tranquila depois de ter conversado com vocês sobre esse assunto, digamos, desagradável. Informações que a gente poderia passar sem saber, mas já que…

    Mas já que eu soube, cumpre-me o dever de dividir com vocês a paranóia, ops, a preocupação. Você já sabia (ou nem lembrava mais) e não me contou que temos trilhões e trilhões (sim, algo perto de 10 trilhões) de bactérias habitando nosso corpo, indo junto aonde a gente vai, sabendo de tudo, inclusive o que você come? (Ou deixa de comer, seus marotos). Para cada célula de nosso corpo, mais de 10 bactérias. Somadas, só as bactérias, pesariam até quatro quilos. Não dá para separar homem de um lado e bactéria de outro. Morreríamos. Somos dependentes dessa droguinha. Elas são uma comunidade que carregamos para baixo e para cima. E que agora fico sabendo que podem nos dominar.

    Para não parecer um filme de terror essa história, interrompo apenas para dizer que não é porque é bactéria que é ruim. Elas podem ser boas; até ótimas. Mas como em tudo – todas as profissões, todos os tipos de gente e caráter – tem as bactérias do Mal, infiltradas, insidiosas, venenosas e, pior, transmissíveis. Graças a Deus são bem menos numerosas, embora possam chegar aos nossos organismos pelo ar, pelo beijo, pela picada (dos mosquitos hospedeiros), e principalmente pelo etc e tal. O maniqueísmo das bactérias. Ou são do Bem. Ou são do Mal.

    Essa semana li no jornal um artigo que me perturbou. Tratava de obesidade e bactérias. Contava que cerca de 100 trilhões desses outros trilhões vive acomodadinha no nosso intestino, na nossa flora que para mim agora também já virou fauna intestinal. Alguns têm as suas bacterinhas mais ávidas de uma forma ou outra, comem, comem de tudo e de todos e continuam magrinhos de “ruim”. Outras pessoas (devo ser uma delas) mantêm de estimação umas preguiçosinhas, mais “rastas”, mais axé. Quem as tem acaba engordando até com pensamento. Os cientistas estão estudando – e acho bom que o façam logo! – para entender melhor essas criaturinhas microscópicas, seus três tipos: Bacteroides, Prevotella, Ruminococcus.

    Fui atrás de saber mais e descobri coisas verdadeiramente encafifantes. Segundo estudos, quando nascemos descendo por aquele conhecido canal natural por onde as mulheres parem naturalmente, logo ali na passagem já pegamos a nossa primeira turminha, que acompanhará nossa vida. A genitália feminina embute alguns trilhões desses garotinhos e garotinhas unicelulares, as bacterinhas. Ambiente acolhedor. Refeições caseiras. No corpo, calculam, tem uns dez bilhões de bactérias na boca e no nariz; um trilhão, espalhados pela pele, além disso. Isso aí: dobrinhas gostosas têm bactérias. Sovacos têm bactérias. Juntas juntam outra turma. Sorte que a convivência, em geral, é pacífica, principalmente quando aliadas a bons banhos, desodorantes, higiene. As bactérias são organizadas, se agrupam, movimentam-se. Principalmente, comunicam-se.

    No Planeta Bactéria particular que cada um de nós, repito, carrega para cima e para baixo com seus olhos espreitando tudo o que fazemos, há várias comunidades. Igual aqui fora nesse mundo. Há as que se entendem. Há as que guerreiam entre si; há as que envenenam as outras para ocuparem seus espaços. Há as que nem se ligam mais nos antibióticos exocets que mandamos lá para dentro. Pedem coisas mais fortes, Sam! Play it again.

    Na minha incursão paranóica, li frases de fatos espantosos, como: “Bactérias são os organismos mais bem sucedidos do planeta em relação ao número de indivíduos”; “As bactérias podem se reproduzir com grande rapidez, dando origem a um número muito grande de descendentes em apenas algumas horas. A maioria delas reproduz-se assexuadamente, por cissiparidade também chamada de divisão simples ou bipartição”. (E olha que bactérias gostam de um nheco-nheco). “O tamanho e a composição da flora intestinal variam de pessoa para pessoa, dependendo de fatores como dieta, uso de antibióticos e “quanta terra” você comeu quando criança”. Caramba! Só me contaram que uma vez me acharam comendo meu próprio barrinho.

    Pronto. Agora que já acabei com seu sossego, pense que há uma vantagem de eu ter te contado (ou lembrado) tudo isso: nunca mais você vai se sentir sozinho.

    Aliás, quem é você? Quem somos nós?

    São Paulo, minhocas na cabeça, 2011

    (*) Marli Gonçalves é jornalista. Depois dessas chocantes verdades, parou bem para pensar na possibilidade de vida em outros planetas. Não seríamos, também, bactérias?

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