Crise financeira nos EUA e na Europa obriga a presidente Dilma a acionar o sinal amarelo do governo

Tempestade à vista – O mercado de ações mundial fechou em queda nesta segunda-feira (8). No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou queda de 8,10%, pouco antes do final do pregão, acompanhando a Bolsa de Nova York (New York Stock Exchange), que registrou queda 5,23% do índice Dow Jones e 6,40% do Nasdaq. A insegurança que ronda o mercado global encontra resposta especialmente na possibilidade de um calote norte-americano e a instabilidade financeira no Velho Mundo.

As preocupações dos investidores também chegaram, há cerca de dez dias, com grande intensidade ao Palácio do Planalto. A presidente Dilma Rousseff (PT) tem dado mostras de que o futuro reserva nuvens negras para a economia mundial, que podem levar de arrasto as reservas brasileiras e provocar recessão. Diferentemente do messiânico e galhofeiro Luiz Inácio da Silva, a presidente, por conta de sua formação técnica, tem dispensado olhar econômico à planilha de números.

O fantasma da economia chegará ainda nesta semana ao Congresso Nacional. Os ministros da área econômica, incluindo o da Fazenda, Guido Mantega, têm encontro marcado com os parlamentares. Figuras da política próximas à presidente Dilma, no entanto, estão avaliando se o momento é adequado para que os ministros falem no Congresso Nacional. Há dúvidas se ainda é cedo para falar sobre a crise financeira.

Na terça-feira (9) são esperados na comissão geral da Câmara dos Deputados os ministros Guido Mantega, Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento Econômico). Eles têm a missão de explicar as medidas do governo para conter o impacto, no Brasil, da crise fiscal dos Estados Unidos e da Europa. E também deverão falar sobre a nova política industrial anunciada no último dia 2 de agosto, mas que gerou um cipoal de críticas nos setores produtivo e sindical.

Enquanto discute-se politicamente sobre a necessidade de um debate aberto em função dos prováveis danos que serão causados à economia nacional, o Palácio do Planalto está preocupado com o calote norte-americano aos títulos que o Brasil do governo da Terra do Tio Sam. Se o Tesouro ianque deixar de honrar parte dos títulos, o consumidor final pagará a conta, como sempre. Os efeitos serão gerais, inclusive sobre a produção e o consumo.

No governo, os analistas mais preocupados enxergam problemas políticos sérios. É que uma faixa significativa da classe média, que nos últimos anos deixou para trás as camadas socioeconômicas mais baixas, não tem interesse em perder seu poder de compra. Pesquisas em poder dos ocupantes do Palácio Planalto apontam para um cenário em que milhões de famílias não se interessam pela leitura de jornais, mas sentirão quando o bolso ficar menor.

Segundo essas mesmas consultas, a nova classe média investe muito em artigos de cozinha, inclusive com alimentação, e os estudos dos filhos. Em resumo: ninguém quer perder o que já conquistou. Mas uma recessão seria nefasta para os interesses desse segmento da sociedade, que nas últimas eleições garantiu a vitória do projeto Dilma Rousseff. Na verdade, a nova classe média, que recentemente recebeu 39 milhões de novos e incautos consumidores, representa metade do eleitorado brasileiro.