Novo ministro da Agricultura recebe ordem de Dilma para fazer o que está habituado a fazer

Caindo de paraquedas – “Faça o que tu estás habituado a fazer com toda a cautela que é alguma coisa que tu sempre tivestes. Pronto.” Essa foi a instrução ouvida pelo ministro Agricultura, Mendes Ribeiro (PMDB-RS), da presidente Dilma Rousseff, em reunião nesta sexta-feira (19). Após o encontro com Dilma, Mendes se dirigiu à Liderança do Congresso, localizado na Câmara Federal, e concedeu entrevista coletiva à imprensa. Quando perguntado sobre o que ele teria dito à presidente foi lacônico, “obrigado”. “Ela me conhece, ela sabe quem eu sou. Como é que eu trabalho”, acrescentou. A posse está agendada para terça-feira, às 11h00. A reunião durou cerca de 40 minutos, segundo o novo ministro.

Sobre a conversa com a presidente, o novo ministro inicialmente manteve uma postura “ensaboada”. A impressão que ficou após a entrevista é que mais um ministro caiu de paraquedas na pasta. Aliás, é o que se verifica ao longo da Esplanada dos Ministérios. E não precisa ser especialista para constatar que os assessores têm cada vez mais trabalho para responder às dúvidas de ministros. Nem sequer entrando no âmbito de como se “evitar” a corrupção. Esse é o resultado do loteamento político, panorama diferente do sempre preconizado pela própria presidente. Mas não será nesse e nem nos próximos mandatos presidenciais que o técnico se sobrepujará ao quesito político na escolha dos titulares dos ministérios.

“Falamos sobre política, as questões do Congresso que eu ainda tive que relatar a presidente. Marcamos a posse para terça-feira, às 11h00“, esquivou-se Mendes.

Mendes explicou que sua entrada no ministério não será marcada por uma faxina. “Eu vou levar uma equipe. E para levar uma equipe eu tenho que tirar os que lá estão”. Não se trata de uma faxina. “Eu diria como o fato de um novo ministro assumir. Eu não vi nenhum ministro assumir sem levar a sua equipe.”

Faxina ou capina?

Questionado se não seria um capina ao invés de uma faxina. “Eles são terríveis. Eu vou fazer o que eu tiver que fazer.” O ministro informou que se reunirá com ex-ministros da Agricultura José Pratini de Morais e Francisco Turra, no começo da próxima semana. Com o antecessor, Wagner Rossi, o novo ministro ainda não conseguiu agendar um conversa para se inteirar de como está o pasta.

Mendes Ribeiro informou também que se reunirá com o ministro-chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, sobre quem disse “irá me passar um relatório daquilo que porventura já possa ter sido detectado.” Ele adiantou que poderá abrir as portas para os demais órgãos de controle. “Todos que quiserem fazer investigações a trabalhos ligados a qualquer tipo de controle vão ter toda a liberdade no ministério.”

Em relação à equipe, citou um nome para assessorá-lo. “Eu não quero começar a adiantar coisas que eu estou pensando. Hoje já mandei subir o Caio Rocha, ex-secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul no governo Rigotto. Ele vai ficar como meu assessor especial”, disse o ministro, acrescentando que não havia conversado com ele, mas que pediu sua presença em Brasília.

Na visão do ministro, o seu papel será de um “facilitador” entre o governo e os agricultores. “A agricultura vive um bom momento. Eu tenho que fazer uma força muito grande para que eu possa ser um facilitador do pensamento de quem está na rua com o pensamento de quem está no governo. Às vezes parece que não existe identidade. E existe, só que tu não consegue mostrar para a sociedade. E aí eu vou entrar em detalhes que eu vou falar depois da minha posse.” E nesse diapasão, perguntou: “Por que o discurso do governo no Código Florestal não pode ser igual ao de quem produz? Todos tem preocupação com o meio ambiente e a produção.”

“Por que eu tenho que compreender que o remédio do campo custe tão caro quando tu tem o genérico para a cidade, para o cidadão? As pessoas não entendem. O defensivo fora é um e dentro é outro. Existem coisas que a gente tem que afinar o discurso. Mostrar as dificuldades que o governo tem para fazer aquilo que precisa ser feito”, argumentou.

Lobby

Já com relação especificamente ao lobista Júlio Fróes, o ministro foi rigoroso. “Se o Júlio Fróes entrasse no ministério da Agricultura. Ele precisa entrar identificado. O poder executivo tem que ter a sua regulamentação de lobby. Tem que ter um regulamento de quem pode freqüentar a sala. Tem que ter câmara para depois serem checadas”. Ou seja, se identificado e sabido o motivo para entrar no ministério ele será atendido na recepção.

A presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), sugeriu na quinta-feira (18) que deveria a Conab deveria ser extinta. “Você sabe que eu participei de um governo no Rio Grande do Sul, fui chefe da Casa Civil. Um assessor chegou e disse, ‘ah! tem que fechar esse órgão’. Eu acho que não é esse. Eu acho que é o outro (risos). A Conab tem uma função extremamente importante. Ela protege quem produz. Na medida em que ela intervém no mercado. E eu não posso resolver o problema terminando com o problema.”

Em contradição, o ministro retomou o tema Conab e remendou. “Pombas, se estão dizendo isso é porque alguma coisa está faltando. Ou a Conab está agindo, né, de forma errada, e não é o caso de fazer uma análise, mas eu tenho que examinar cada uma e vou fazer com toda a tranquilidade e calma.”

Evitando causar qualquer tipo de problema de relacionamento com a CNA, emendou: “Desta forma tenho muito respeito pela Kátia. Já inclusive conversei com ela e merquei uma visita e tenho certeza que vou aprender muito com ela.”

Com os repórteres insistindo sobre o que mais Dilma teria dito ao ministro, foi sintético. “Confio em ti”, com o sotaque gaúcho.