Os desavergonhados

    (*) Marli Gonçalves –

    Com a permissão de vocês, daqui vou abrir fogo de vogais e consoantes contra eles, vocês bem sabem quem, todos eles, usando minha metralhadora de letras: dissimulados, desaforados, mentirosos, desonestos, safados, enganadores, hipócritas, mascarados, insolentes e indolentes, atrevidos, cínicos, asquerosos, repulsivos, desagradáveis, repelentes, torpes, repugnantes, sórdidos, descarados, vis, ordinários, tratantes, velhacos, biscas ruins, espertalhões, embusteiros, trapaceiros, impostores, caras-de-pau, enganadores, falsos, rancorosos, tenebrosos, traiçoeiros!

    Pápápápápápápápá. Ratatá… Ratatá …Ratatá Ratatatatatá.

    Tem mais sugestões? Deve mesmo existir mais algumas dezenas de palavras para dizer para eles todos, esses zinhos (e infelizmente, algumas zinhas) que, com suas ações e decisões, nos atingem e nos tornam tão mais infelizes e sem esperança. Nos ameaçam e reprimem. Nos dão medo e nos fazem temer por tudo, desde a ida de alguém querido até ali, a padaria, até o que será que vai sobrar da corrosão interna implantada no país. Iguais pragas daninhas florescem nas sombras, nos corredores e gabinetes, nas mansões e carros de último tipo e agora também em aviões, helicópteros, jatinhos. Só falta se articularem em balões e começarem a mandar mensagens entre si usando as pipas das crianças. Celulares atirados com arco e flecha para dentro dos presídios, ah, isso já fazem.

    “Eles” são os assassinos de nossos amigos ou de amigos de nossos amigos. Eles são os que roubam e muito, inclusive do prato das crianças, da merenda, e corróem como traças os livros que deveriam ser usados para educá-los. Eles são os que deviam nos proteger – afinal, foram eles que resolveram ser policiais e sabiam que o pagamento é ruim – mas nos ameaçam, quando estão com farda, ou à paisana, quando trabalhando como seguranças ou capangas.

    Eles não têm pena, ideal, não têm dó, não tem remorso ou coisa igual. Capaz de terem é inveja de quem rouba mais do que eles; são capazes é de caguetar os concorrentes para dominar o mercado da roubalheira. Eles têm família, parece. Mas agem como se não as tivessem, atuando com uma espécie de dupla personalidade, dupla moral.

    Eles também são os corruptos, os vermes pegajosos que desfrutam de contratos milionários fraudados das administrações públicas deste enorme Brazilzão de Deus, tão grande e tão incontrolável, e talvez até por isso tão facilmente corroído. Só de vez em quando uma rede de arrastão, randômica, os flagra – e sempre quando eles próprios brigam entre eles ou se excedem, querendo mais, sempre mais, vampiros do sangue. Atacam a jugular da Saúde, da Educação, da Habitação, do desenvolvimento básico. Uma espécie que também é frugívora, frugal: adora laranjas, para espremer, bananas (como nós) para amassar e tomates, nos quais pisam à vontade. Os morcegos, ratos que ficam de cabeça pra baixo e só saem nas trevas, são assim.

    Eles também são os enrustidos sexualmente que odeiam o que desejam e querem, e matam por isso, para ver se deixam um dia de querer e não conseguem, não dominam nem os seus próprios íntimos, seus sentimentos de culpa e seus errôneos sentimentos justiceiros. São todos os que matam, ou por falta de coragem para enfrentar, anônimos, contratam matadores, incentivam a violência, se infiltram nas mentes fracas, lideram grupos do mal.

    Eles todos – esses inomináveis – já nem se preocupam mais com argumentações, explicações, nem mais tentam ou se proclamam como inocentes, já que muitos, entre os mais poderosos, temos mesmo de engolir zagalísticamente. “Fiz. E daí? É o meu poder que me dá direito e não vejo nada de mais”. “Ah, andei sim. Peguei carona, sim. Mas sabe que não sei de quem era o lindo aviãozinho que me levou? Esqueci”. “O que tem de mais a conta que cobrei?”. “Uai, só porque o cara é meu amigo não pode ganhar, sem concorrência, uma obra?”

    Outro dia um lindo ingênuo me perguntou, curioso – a propósito de uma reunião partidária que tinha sido noticiada – se eu sabia como exatamente eram feitos os acordos, se eram abertos, ou seja, se eram feitos por todo o grupo, na sala. Ele queria saber se os caras fechavam a porta do banheiro antes de fazer o “número 2” que combinavam para as votações. Não respondi até agora porque ainda não parei de rir, imaginando os bandidos – bigodudos em geral, empertigados, caras de mordomo, cabelos asas da graúna ou acaju – cochichando cuidadosos nos ouvidos uns dos outros.

    Taí: houve apenas as quedas de tantos números dois, que levaram só a outros afastamentos, e as histórias e sujeiras principais ficaram, estancaram esquecidas no canto.

    Ou à beira do cais do porto de Santos. Em algum recôndito do Amapá; debaixo dos Lençóis maranhenses. No nosso Curupu.

    São Paulo, candidatos a granel, 2011, como se já fosse 2012

    (*) Marli Gonçalves é jornalista. Claro que não esgotou os xingamentos-bala, mas buscou usar termos mais contidos. Como a coisa parece que só piora, melhor guardar armamento pesado, o colete de dizeres e o capacete, para os próximos protestos. Esperando a primavera brasileira, a primavera nacional.

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