Campeão de vendas de livros religiosos, padre Fábio Melo diz que lê Adélia Prado e pensadores

Onda de sucesso – Professor universitário, cantor, compositor, apresentador do programa Direção Espiritual transmitido pela TV Canção Nova, escritor e sacerdote. Este é Fábio José de Melo Silva, o padre Fábio Melo.

O mineiro nascido em 1971 afirma que seu primeiro compromisso é com a evangelização. Mas assim como o padre Marcelo Rossi, o padre Fábio Melo navega na popularidade por conta especialmente de seus livros e, especialmente, dos shows. Nesta entrevista concedida ao radialista José Geraldo Oliveira, do Espírito Santo, nesta semana, ele afirma que procura se equilibrar e manter a serenidade, “focado no trabalho, sem me ocupar com questões como assédio e exposição”.

Na Bienal do Livro, os padres junto com bispa Sonia Rodrigues e pastor Silas Malafaia, ajudaram a bater recordes de público. Foram 2,8 milhões de exemplares vendidos, contra os 2,4 milhões anteriores com faturamento de R$ 58 milhões, contra R$ 51,5 milhões. Os religiosos que dão expediente como escritores ajudaram a alavancar as vendas.

A presença de Marcelo Rossi e Fábio Melo repercutiu nas vendas de outros livros católicos. Na Ediouro, os do padre Reginaldo Manzotti se esgotaram; na Paulus, saíram os títulos de teologia e os infanto-juvenis, segundo publico a “Agência Estado”.

Livros como “Ágape” (Globo), o best-seller de 6 milhões de cópias do padre Marcelo, o mais vendido na Bienal, “Tempo de Esperas”, do padre Fabio, e “Vivendo de Bem com a Vida”, da bispa, integram o segmento que mais cresce no País, segundo a última pesquisa do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, realizador da Bienal, com a Fagga Eventos e a GL Events. Em 2010, o incremento foi de 40%, em relação a 2009.

É difícil conciliar a vida sacerdotal com as demais funções do senhor, como cantar, escrever, apresentar programa de TV, ou em todas estes papeis há o chamado a evangelizar?

Você mesmo disse: em tudo que faço existe o compromisso com a evangelização. Por isso mesmo, enquanto canto, escrevo e apresento o programa de TV, exerço minha função sacerdotal de evangelizador.

Uma pergunta meio comprometedora: cantar, escrever, apresentar ou ser padre?

Em nenhum desses momentos e atividades deixo de ser padre. Pelo contrário: cantar, escrever, apresentar um programa ou atender um grande número de pessoas em um show cria para mim uma oportunidade única de evangelizar através desses meios. Em tudo que faço tenho a consciência de que sou entendido como padre.

Como viver o sacerdócio diante de tantos fatores contrários (assédio, disponibilidade de tempo, exposição, correria, compromisso com a Igreja, etc)?

Invertendo a pergunta: o compromisso com a Igreja e com a evangelização é que me faz seguir adiante, encarando possíveis dificuldades como a falta de tempo, por exemplo. É inevitável a necessidade de estabelecer uma agenda de compromissos que – também de forma inevitável – não vai cobrir todas as solicitações. Dentro das possibilidades humanas de atender a quem puder, procuro me equilibrar e manter a serenidade, focado no trabalho, sem me ocupar com questões como assédio e exposição.

Quantos livros e CDs? De todos os trabalhos, existe um em que o senhor destaca? Por quê?

São 10 livros, 14 CDs, 2 DVDs e 1 Blu-ray. Gravo e lanço um novo trabalho esse ano ainda. Não tenho preferência explícita por nenhum dos trabalhos, uma vez que cada um tem seu tom e seu sentido próprio. Se for mesmo para destacar algum, penso sempre no mais recente.

Quando senhor afirma que arte e religião caminham juntas, como define esta frase?

A arte, assim como a religião, é uma via para a transcendência humana. Não são poucos os exemplos dessa associação. Grandes obras de arte estão intimamente ligadas ao cotidiano religioso. Quando pensamos no Vaticano é quase automática a lembrança do Gênesis pintado por Michelangelo na Capela Sistina, assim como é forte a associação da Semana Santa barroca representada pela arte genial de Aleijadinho e Mestre Ataíde, só para ficar entre os mais conhecidos. A música vai pelo mesmo caminho. Cantar e ser acompanhado por milhares de vozes é um ato libertador e transcendental.

Se não me falha a memória, um de seus autores preferidos é Adélia Prado. Quais outros escritores o senhor lê?

Com certeza, Adélia Prado! Sou um admirador confesso de sua poesia e tenho a satisfação de tê-la como amiga. Gosto muito de Guimarães Rosa e de vários outros autores nacionais, como Graciliano Ramos e Euclides da Cunha, além de autores mais recentes. Leio também pensadores como Bakhtin, Foucault, Barthes, Bourdieu, Hume e Spinosa, entre outros.

Como e onde busca inspiração para escrever? De onde vem esta verve literária?

Minha matéria-prima é o cotidiano e a observação.

Da criança de Formiga ao nacionalmente conhecido padre Fábio de Melo muita coisa mudou. Pensou um dia que atingiria esse patamar?

Diria que me preparei enquanto padre pensando sempre em me comunicar com as pessoas da melhor forma. Antevia que os meios atuais de comunicação poderiam proporcionar um contato amplo com o público e foi isso que aconteceu, de maneira crescente e espontânea. Costumo repetir que escrevo, componho e canto com a intenção de fazer um bem àquele que me lê e me escuta. É nesse sentido que planejo que tudo deve acontecer.