Dois clássicos do cinema que também servem como instrumentos para a sala de aula

(*) Carlo Iberê, do CineLux

Dois filmes entraram na agenda do final de semana por conta do ofício de pai, o clássico “12 Homens e Uma Sentença”, dirigido por Sidney Lumet, em 1957, e “Amnésia”, de Christopher Nolan, que não virou um clássico, mas fez algum sucesso na virada do século em função de roteiro e argumento bastante originais.

Ambos fazem parte da prova de Filosofia da Escola das Nações, em Brasília. Em tempos de aplicação da pena de morte nos Estados Unidos, de verdades definitivas e poucos contestadas, tanto na política como no dia-a-dia da participação organizada na vida do País, acertou o professor.

Em “12 Homens…”, Henry Fonda, acompanhado de grande elenco masculino, interpreta o papel de “Jurado 8”. O filme, com pouco mais de uma hora e meia de duração, se passa dentro de uma sala onde 12 jurados estão reunidos para decidir sobre uma sentença de morte.

A culpa do réu é praticamente unânime, até chegar a vez do Jurado 8 usar a palavra para questionar os demais, a estabelecer o contraditório, a dúvida, e até a estimular a disputa intelectual entre os demais.

“Amnésia” é um filme mais difícil, exige atenção, concentração, para ser visto, pois tem um roteiro complicado em função das idas e vindas no tempo, da repetição de situações, da alternância de cenas em preto e branco e em cores.

Muito bem dirigido por Nolan, o ator Guy Pearce interpreta Leonard, um investigador de uma companhia de seguros que perde a capacidade de memória recente após a morte da esposa.

O fio condutor entre as duas películas está na busca da verdade, a luta contra as unanimidades, como diria Nelson Rodrigues. “Amnésia” vai um pouco além, mostrando melhor a questão da manipulação da verdade. Quando não se tem memória, ou seja, conhecimento para formar opinião, a manipulação fica mais fácil.

Juntando passado, presente e futuro, lembrei que nos meus 14-15 anos as ditaduras militares, no Brasil e na América Latina, estavam no auge e poucas escolas iam além do bê-a-bá, diante da avalanche de “Brasil Ame ou Deixe-o” e outros “Eu te amo meu Brasil”.

Olhando o futuro, que será construído e protagonizado por essa “galerinha” que hoje vive com liberdade, informação e tecnologia, é possível acreditar em mais participação, mais contestação, mesmo que sob outras bandeiras, mais atuais.

Como mostra o curtinha abaixo, produzido por uma antenada galera, com muito jeito para cinema, convocando para a “Marcha Contra a Corrupção“, no próximo dia 12, em Brasília. Ainda bem que não se fazem mais crianças como na época da ditadura. Veja o vídeo no site do DF-TV, da Globo Brasília.