PT condena operação na Cracolândia, mas adota estranha mudez no caso do show de Rita Lee

Dois lados – Quando Luiz Inácio da Silva assumiu o poder central, em janeiro de 2003, após ser derrotado nas urnas uma vez por Fernando Collor de Mello e duas por Fernando Henrique Cardoso, o editor do ucho.info afirmou que a partir daquele instante o País passaria a enfrentar um processo de “cubanização”. Ou seja, Lula e sua horda colocariam o Brasil nos trilhos da esquerda radical. À época, muitos foram os que nos criticaram, porém, tempos mais tarde, os mesmos críticos foram obrigados a reconhecer que era lógico o pensamento do editor.

Na ocasião, o projeto de poder deflagrado pelo PT não dava, pelo menos de chofre, evidências claras de que o pior poderia acontecer, principalmente porque o populismo barato que ainda emoldura os programas sociais, marca registrada das ditaduras modernas, cegou o raciocínio nacional e anestesiou a consciência coletiva.

Com o encolhimento sistemático da oposição, processo que ganhou força com os esquemas de corrupção endossados pelo Palácio do Planalto, Lula cumpriu, a passos largos, várias etapas do projeto totalitarista do PT. O que os oposicionistas imaginavam ser fácil de derrotar nas urnas acabou avançando de forma assustadora e preocupante. Esse cenário de preocupação é facilmente comprovado pelas posições ambíguas dos atuais donos do poder. Quando os governantes de oposição comentem algum deslize político-administrativo, o fato ganha reverberação impressionante por parte da cúpula petista, que apela ao minimalismo, ou até mesmo ao silêncio obsequioso, quando o mesmo acontece na seara de companheiros de legenda.

Cracolândia

Em dezembro passado, a presidente Dilma Vana Rousseff lançou projeto para o combate ao consumo de crack no País, como se somente os petistas tivessem a solução para uma das maiores chagas da vida nacional. Com o governo paulista e a prefeitura de São Paulo saindo na frente e antecipando a operação, o Palácio do Planalto perdeu a oportunidade de levar o tema para o palanque eleitoral das eleições municipais deste ano. Por conta da desvantagem, diversos estafetas de Dilma foram acionados para criticar a operação da Polícia Militar, aprovada por 82% da população da cidade. A motivação eleitoral que recobre a troca de farpas entre o PT, o PSDB e alguns outros partidos, por conta da operação na Cracolândia, prova que a política nacional é a mais perigosa de todas as drogas.

Montados na tese do politicamente correto, os petistas defendem a tese de que o combate ao crack deve ser tratado como um problema social. Já os tucanos, que entendem ser esse um problema que envolve uma atividade criminosa, o tráfico de drogas, preferem colocar a Polícia Militar à frente da operação.

Show de Rita Lee

Desde que chegou ao Planalto Central, o PT passou a usar o discurso duplo. E isso se deve ao fato de que em um país com dimensões continentais como Brasil nem tudo sai como o planejado. Fora isso, é preciso considerar que o PT dança conforma a música, ou seja, age em função de cada interesse. Na noite do último sábado (28), a cantora Rita Lee fez em Aracajú o último show da carreira. Em dado momento, a roqueira percebeu que policiais passaram a agredir alguns dos seus fãs, que, segundo relatos, estariam fumando maconha. A PM de Sergipe decidiu, então, partir para a violência.

Inconformada com o ocorrido, Rita Lee, que lembrou ter enfrentado a ditadura e não ter medo de intimações, desafiou os policiais a prendê-la e chamou-os de “cachorros” e “filhos da puta”. Confusão armada, Rita Lee foi intimada a comparecer à Corregedoria da PM para esclarecer o entrevero. Diante da negativa, a cantora foi conduzida à delegacia, onde foi indiciada por “desacato e apologia ao crime ou ao criminoso”.

Pois bem, o governador de Sergipe, Marcelo Déda, petista de quadro costado, estava presente ao evento e nada fez para impedir a ação truculenta da Polícia Militar do estado. Déda, que classificou a apresentação de Rita Lee como um “espetáculo deprimente”, colocou o PT palaciano em maus lençóis ao dizer que “ela [Rita Lee] tentou estimular o público contra os policiais. A atitude da cantora poderia levar uma confusão generalizada. A polícia não tinha feito nenhum tipo de ação que justificasse (a atitude da roqueira)”.

Traduzindo para o bom e velho português, o usuário de droga só deve ser tratado pelo viés social na cidade de São Paulo, onde o PT tem interesses políticos declarados. Do contrário, fora da Pauliceia Desvairada, o dependente químico é caso de polícia. Ademais, na opinião dos petistas, “cachorros” e “filhos da puta” são os policiais militares paulistas que participaram da operação na Cracolândia. Sem contar que Rita Lee não foi informada a respeito da nova ordem nacional, que apenas os petistas podem reclamar da atuação dos policiais.

Apologia ao crime

Em ambas as situações – no show de Rita Lee e na Cracolândia – a apologia ao uso de drogas é crime previsto em lei e deve ser punido com rigor. Rita Lee é pessoa pública e formadora de opinião, o que lhe transfere a obrigação de ter cuidado com suas palavras. A roqueira deve condenar o uso da violência por parte dos policiais, mas não pode incentivar o uso de drogas. No caso da Cracolândia, dias depois de serem expulsos do local, os usuários de drogas retornaram e foram recebidos com churrasco realizado em uma das ruas da região, sem que a PM, vigiada pelos defensores dos direitos humanos, pudesse agir. O que configura incentivo ao tráfico e ao uso de drogas, o que é proibido por lei.