Entrevista de Bruno Daniel, irmão do ex-prefeito de Santo André, foi uma espécie de inquisição televisada

Muito estranho – A expectativa que antecedeu a participação de Bruno Daniel no programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (27), só perdeu em tamanho à quase inquisição a que foi submetido o irmão do ex-prefeito Celso Daniel, de Santo André. Longe de ser um entrevistado, Bruno Daniel manteve a calma diante de massacre que tinha por objetivo anular as conclusões a que chegou a família do prefeito assassinado, muitas das quais fartamente comprovadas pelo Ministério Público.

Insistir na tese de que o assassinato de Celso Daniel foi um crime comum é não querer compreender o conteúdo das gravações telefônicas do caso, as quais foram divulgadas com exclusividade pelo ucho.info e cujos principais trechos estão disponíveis ao final desta matéria. De igual modo é irresponsabilidade ignorar o fato de que Celso Daniel foi barbaramente torturado. Em crime comum não há razão para tortura, quiçá não seja para se obter alguma informação.

O médico-legista Carlos Delmonte Printes, que acompanhou o caso, afirmou que Celso Daniel foi torturado antes de morrer. No dia 12 de outubro de 2005, Delmonte foi encontrado morto no seu escritório em São Paulo, em circunstâncias consideradas estranhas. Após investigações, a polícia concluiu que o legista morreu em decorrência da ingestão de três medicamentos.

No mesmo dia 12 de outubro, o editor do ucho.info, responsável pela divulgação das gravações do caso Celso Daniel, foi chamado por um destacado integrante da Justiça para ser informado sobre uma tentativa de intimidação e de um plano para matá-lo. O tal servidor do Judiciário, cujo nome será mantido em sigilo por questões de segurança, recebeu em seu gabinete um cidadão de nome Donizete, que disse que uma pessoa ligada ao caso é acostumada “a cortar o mal pela raiz”. A afirmação foi uma referência ao desejo dessa pessoa, à época com importante cargo na República, de eliminar o editor. De acordo com o servidor da Justiça, um desembargador, autoridades federais de segurança foram acionadas tão logo o capataz Donizete deixou o recinto. Na sequência, alguns familiares do editor (mãe e filhos) foram alvo de ameaças .

Antes disso, em fevereiro de 2003, o garçom Antonio Palácio de Oliveira, que na noite do sequestro de Celso Daniel serviu a mesa em que estavam o ex-prefeito e Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, foi assassinado. Quando morreu, Oliveira portava documentos falsos e tinha recebido um depósito de R$ 60 mil em sua conta bancária. A única testemunha da morte do garçom, Paulo Henrique Brito, morreu três semanas depois com um tiro nas costas.

Em dezembro de 2003, morreu, com dois tiros nas costas, o agente funerário Ivan Moraes Rédua, a primeira pessoa a reconhecer o corpo de Celso Daniel em uma estrada de terra no município de Juquitiba, na região metropolitana de São Paulo.

Celso Daniel, de acordo com declarações do irmão Bruno no programa Roda Viva, se envolveu em corrupção por imposição partidária e foi morto porque discordou do desvio do dinheiro de propinas para enriquecimento de alguns integrantes do Partido dos Trabalhadores.

Causou estranheza o fato de o editor deste site, um dos que mais sabem sobre o caso e que foi processado por ter divulgado as gravações telefônicas, ter ficado de fora do grupo de jornalistas que entrevistou o irmão de Celso Daniel, o professor e sociólogo Bruno Daniel.

Confira abaixo os principais trechos das gravações telefônicas do caso, divulgadas à época com exclusividade pelo ucho.info. Em uma delas, o atual ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, e Ivone Santana tratam a morte de Celso Daniel com frieza e desdém.

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Confira abaixo a íntegra da entrevista do sociólogo Bruno Daniel ao Roda Viva