Requião ignora escândalos passados, distorce os fatos e diz que chamou Cachoeira de “canalha”

Camisa de força – Quando o assunto é declaração ridícula, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) não deixa por menos. Sem ter como negar um encontro com o contraventor Carlinhos Cachoeira, no Palácio Iguaçu, o então governador do Paraná tentou justificar o fato alegando que recebeu o bicheiro apenas para insultá-lo. Ao jornal Gazeta do Povo, o ex-governador disse: “Eu lhe disse [para Cachoeira]: companheiro, você fez muito bem em vir até aqui. Pois eu quero conhecer o canalha que eu quero pôr na cadeia. E pus ele para fora do gabinete”.

A explicação de Requião torna-se tão pífia quanto o aludido insulto, quando um recuo na história mostra que o governo do Paraná manteve o contrato que permitia à Larami Diversões, empresa de Cachoeira, administrar a Lotopar, durante dezesseis meses depois daquele encontro no Palácio Iguaçu, que de hostil nada teve. O fim da parceria com a Larami só ocorreu em março de 2004, após um novo encontro entre Requião e Cachoeira, o que resultou em requerimento de informações na Assembleia Legislativa do estado.

Requião, que tenta aproveitar a CPI do Cachoeira para surgir em cena como paladino da moralidade, tropeça em outro detalhe de sua passagem pelo Iguaçu. Com a aquiescência do histriônico Roberto Requião, o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná contratou a Delta Construções – empreiteira de Fernando Cavendish e da qual Cachoeira seria sócio oculto – entre 2005 e 2008, período em que o agora senador comandou o estado. Traduzindo, pouco depois de romper com a Larami, em abril de 2004, e supostamente ter insultado Cachoeira, Requião assinou contrato milionário com outra empresa ligada ao bicheiro, para obras de conservação em estradas na região de Maringá.

Só mesmo sob estado de devaneio é possível acreditar na história fantasiosa contada por Requião. Pior ainda é imaginar que o então governador, que à época acumulava o cargo de secretário da Segurança Pública, recebeu em palácio um conhecido contraventor apenas e tão somente para aplicar-lhe uma carraspana. Nesse surrealismo de fazer inveja aos roteiristas de Hollywood nem mesmo o senador paranaense acredita.

Enquanto tenta arremessar adversários políticos no olho do furacão, Requião poderia explicar ao povo paranaense, pelo menos, o imbróglio envolvendo o irmão, Eduardo, ex-superintendente do Porto de Paranaguá e acusado na Operação Delta, da Polícia Federal, de ter sido o principal beneficiário de um suposto esquema que renderia propina de U$S 5 milhões (quase R$ 9 milhões) na licitação para a compra de uma draga produzida na Chi¬¬na.

Outro assunto que ainda carece de explicação é a confusão envolvendo a ex-primeira-dama do Paraná, Maristela Quarenghi de Mello Silva, investigada pela Polícia Federal por remessa ilegal de divisas ao exterior. Durante as investigações, a PF descobriu um depósito de no valor de R$ 250 mil feito por Maristela para a agência da Caixa Econômica Federal em Parnamirim, Rio Grande do Norte. O dinheiro foi transferido para a Tupi Câmbios, em Foz do Iguaçu, e de lá remetido para o exterior.

O melhor que o senador Roberto Requião tem a fazer é se contentar com a própria insignificância.