CPI aprova a convocação de Perillo e Agnelo Queiroz, mas expõe a relação nevrálgica entre PT e PMDB

Barril de pólvora – Quando o ucho.info afirmou que a CPI do Cachoeira tinha tudo para dar em nada, muitos estranharam e duvidaram do paradoxo que tão bem traduz a realidade. Criada com o incentivo irrestrito do ex-presidente Lula para investigar a teia de relacionamentos do contraventor goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, a CPI do Cachoeira servirá apenas para arremessar ao patíbulo da culpa os adversários do Palácio do Planalto e do PT e proteger seus aliados. Mesmo que para isso seja preciso sacrificar alguns dos seus.

Nesta quarta-feira (30), a CPI aprovou a convocação dos governadores Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, e Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal. Isso só foi possível porque o PMDB decidiu dar o troco no PT, que se juntou ao PSDB para aprovar a quebra dos sigilos da Delta Construção em âmbito nacional, assunto que preocupa o governador do Rio de Janeiro.

A estranheza nessa sequência de manobras fica por conta do PSDB, que nesta quarta-feira ajudou o PMDB a blindar Sérgio Cabral Filho, amigo do empresário Fernando Cavendish, outrora dono da Delta e que patrocinou festas nababescas na Europa ao governador do Rio. Satisfeito com a blindagem a Cabral Filho apenas o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), que há dias garantiu, em mensagem por celular, proteção na CPI ao chefe do Executivo fluminense.

Empreiteira que mais cresceu desde a chegada de Lula ao poder central, a Delta passou a integrar inexplicavelmente o guarda-chuva empresarial do grupo J&F, controlador do frigorífico JBS Friboi e cujo principal executivo é o ex-presidente do Banco Central, Henrique de Campos Meirelles, pessoa da confiança do ex-metalúrgico. E nesse detalhe pode estar mais um tiro no pé do PT, cujos estilhaços podem alcançar o próprio Lula e sua sucessora Dilma Rousseff.

O racha entre o PT e o PMDB deve ultrapassar os limites da CPI, avançar pelos salões do Congresso Nacional e subir a rampa do Palácio do Planalto. Essa traição cruzada é reflexo dos desentendimentos que passaram a emoldurar a relação de ambas as legendas depois que a presidente decidiu mudar as regras do convívio com o PMDB. No caso de perder o controle dessa investida contra o PMDB, Dilma poderá ter sérios problemas mais adiante, pois o comando do partido está nas mãos de políticos experimentados, para não usar termo mais agressivo.

Esse cenário complexo de disputas tem como base o novo modelo de corrupção adotado pelo Planalto. Depois que o escândalo do mensalão veio à tona, Lula foi aconselhado a mudar a modalidade do “toma lá, dá cá”, optando pela que está em vigência até hoje. O de entrega de ministérios e autarquias a partidos da base aliada, com o compromisso (sic) de cada legenda se responsabilizar pelos malfeitos nas pastas que controlam.

Por certo surgirão opiniões dissonantes a respeito do tema, mas a contradita faz-se com tranquilidade a partir de rápida análise do currículo de cada um dos ministros. Nove entre dez ocupam cargos que não condizem com as respectivas especialidades, se é que negociata política pode ser assim considerada. Esse modelo contraria o discurso pós-eleição de Dilma, que garantiu aos brasileiros que seu ministério seria composto por pessoas técnicas e altamente capacitadas.

Acontece que a presidente recebeu de seu antecessor, o atabalhoado Lula, uma equipe ministerial que precisava ser mantida, pois só assim sua eleição foi possível. Dona de temperamento que não combina com a dependência ou a subserviência, Dilma declarou guerra ao PMDB ao negar alguns pleitos do partido, mesmo com a constante presença em palácio do vice Michel Temer, presidente licenciado da legenda. Acostumado ao escambo cada vez maior, o PMDB quer alargar a contrapartida para atender as imposições palacianas. Dilma, por sua vez, quer conduzir o governo como quem tira o prato de comida de um pitbull faminto. Ou seja, cardápio típico da velha arena do Coliseu, com direito a pizza.