Morreu em Londres, aos 77 anos, o jornalista e escritor Ivan Lessa, um dos marcos do jornalismo brasileiro

(Foto: BBC)
Minuto de silêncio – Despediu-se da vida o jornalista e escritor Ivan Lessa, dono de humor refinado e de uma das mais ácidas penas do mundo das notícias. Com Millôr Fernandes e Paulo Francis, formou a mais reluzente trinca do Pasquim. Jornalista com todas as letras, Lessa morreu em Londres, onde morava desde 1978.

Com enfisema pulmonar e sofrendo de graves problemas respiratórios, Ivan morreu na sexta-feira (8), em casa, aos 77 anos. Filho do escritor Orígenes Lessa e da cronista Elsie Lessa, o agora já saudoso Lessa publicou “Garotos da Fuzarca” (contos, de 1986), “Ivan vê o mundo” (crônicas, de 1999) e “O luar e a rainha” (2005).

Em seu polêmico decálogo, Ivan exibia sua preocupação com a pequenez que tomou conta do jornalismo, preservando as honrosas exceções. “Não quero entrar com meu plangente violão do saudosismo, mas o nosso jornalismo piorou. Muito mesmo”, dizia. Ao mudar-se para Londres, Ivan levou na alma não apenas um Brasil de décadas passadas, mas um jeito inconfundível de fazer jornalismo. Escrevia como ninguém, com começo, meio e fim. E quem lia seus textos ia até o final, sem direito a paradas ou desvios de atenção. Foi e sempre será um mestre da escrita.

Ivan Lessa tinha razão quando dizia sobre a corrosão da qualidade jornalística. Distante da terra natal, Lessa foi um monumento às letras noticiosas, uma referência que as novas gerações de jornalistas talvez desconheçam, o que confirma sua tese sobre a decadência do jornalismo verde-louro.

Desde que chegou à capital dos ingleses, em janeiro de 1978, Lessa cumpria com talento de sobra e pontualidade britânica o seu trabalho no serviço brasileiro da BBC. Sua última crônica – eram três semanais – foi publicada na sexta-feira. Reservado e avesso aos aplausos, Ivan Lessa morreu no escritório de casa. Atendendo ao seu desejo, o corpo será cremado em Londres.