Blindagem de Cavendish na CPI do Cachoeira não causa estranheza e também não é de graça

(Foto: Alan Marques - Folhapress)
Tabela de preço – Encontro secreto ao longo de CPIs não é novidade alguma. Basta lembrar o polêmico encontro, na garagem do Senado Federal, entre o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) e o publicitário Marcos Valério, durante a vigência da CPI dos Correios. Esse tipo de situação acontece independentemente de quem esteja no poder, pois muitas vezes o investigado tem muito mais conexões com os investigadores do que imagina a vã filosofia.

A resistência da base aliada em convocar Fernando Cavendish, dono da Delta Construção, para depor na CPI do Cachoeira é facilmente explicada pelo derrame de dinheiro patrocinado pelo empresário no caixa de muitas campanhas eleitorais pelo Brasil. Fora isso, da noite para o dia nenhuma empresa transforma-se em uma das maiores empreiteiras do País apenas porque seu proprietário financia festas de arromba na Europa e dança nas elegantes ruas de Paris movido a goles extras e com um guardanapo amarrado na cabeça.

Como sempre afirma o ucho.info, política é negócio dos bons e restrito a um punhado de alarifes, que atuam de forma dual como gatunos profissionais e paladinos da moralidade. O adiamento da convocação de Fernando Cavendish e do ex-diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, que na terça-feira (12) confirmou ao senador Pedro Simon (PMDB-RS) seu desejo de revelar o que sabe, não causou qualquer surpresa àqueles que diuturnamente acompanham o cotidiano da política nacional. O esquema que sustenta os bastidores da política e forte e com dinheiro de sobra.

Como o objetivo da CPI do Cachoeira não é investigar as transgressões do contraventor goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, mas fustigar a oposição e esvaziar o julgamento do Mensalão do PT, além de gerar recursos em ano de campanha, o que resta aos doutos parlamentares é fingir que são contra as imoralidades que surgem diuturnamente a partir do caso que se transformou em uma espécie de cornucópia de escândalos.

Deputado federal pelo PDT fluminense, Miro Teixeira lançou na quinta-feira (14), durante sessão administrativa da CPI, o termo “tropa de cheque” para se referir a alguns parlamentares que aproveitaram o feriado prolongado da Semana Santa para um encontro com Fernando Cavendish em Paris. Não é preciso qualquer esforço para adivinhar quem participou desse trem da alegria patrocinado pelo dono da Delta, pois basta acompanhar com doses mínimas de atenção as próximas sessões da CPI. Quem repentinamente passou a defender Cavendish por certo já está no lucro. Os que criticaram com vigor o termo lançado por Miro Teixeira devem se recolher com a devida urgência, porque uma chacoalhada mais forte pode trazer à tona escândalos que os brasileiros ainda desconhecem.

Uma análise minuciosa do movimento de apresentação de requerimentos a uma CPI e eventuais retiradas, além da evolução patrimonial repentina de alguns parlamentares, pode explicar o que muitos acreditam ser estranho. Como se fosse pouco, quando alguns estão faturando de forma demasiada em CPI polêmica, uma ciranda forçada entra em cena para que outros também faturem. E assim roda o universo político brasileiro.