Vai passar

(*) Carlos Brickmann –

O clima no Supremo é solene: pessoas formais, formalmente vestidas, com adereços que indicam seu elevado status, usando uma linguagem empolada, muitas vezes inacessível ao cidadão comum. Há coisas que dá para entender: pessoas de mais idade, com roupas desconfortáveis, reúnem-se depois do almoço para ouvir longos e eruditos discursos. Alguns dormem – e indicam a nós, o cidadão, que a coisa pode ser importante, mas é chata.

Nova cena. Aquele senhor que adorava denunciar a imoralidade dos outros, e acabou perdendo o mandato de senador quando descobriram a sua imoralidade, apareceu na noite de Brasília, no badaladíssimo restaurante Piantella. Abalado, envergonhado? Não, isso é para gente comum, não para Demóstenes Torres, que ainda se sente um pai da pátria, mesmo desmascarado. Sentou-se ao lado do pianista e cantou ao microfone, para o restaurante cheio, Let me try again (deixe-me tentar de novo), de Samy Cahn e Paul Anka, que foi sucesso na voz de Frank Sinatra. Ganhou palmas. É Brasília: fosse um lugar menos habituado a pessoas como ele, talvez preferisse cantar outro sucesso de Paul Anka que fez sucesso na voz de Sinatra, My way: “And now/ my end is near/ and so I face/ the final curtain” (e agora meu ocaso está próximo, e portanto encaro as cortinas que se fecham”).

Ninguém levou Delúbio Soares a sério quando ele disse que, no final, tudo iria virar uma piada de salão. Pois não é que Delúbio estava certo?

É vendaval

Dilma Rousseff foi a Londres para a abertura dos Jogos Olímpicos, gastou cerca de R$ 1 milhão e foi eclipsada por Marina Silva, que foi de graça, a convite dos organizadores, despertando muitos ciúmes na comitiva. Dilma não vai para o encerramento dos Jogos: escalou seu vice, Michel Temer, para representá-la. Temer vai levar, sabe-se lá por que, 25 assessores.

O nome do jogo

Já está ficando constrangedor: há gente no Supremo fazendo o possível para apressar o julgamento, sob a alegação de que assim permitirá o voto do ministro Cézar Peluso (cuja aposentadoria, por idade, está marcada para 3 de setembro). Por que tanto desespero, por que tanta pressa?

Comecemos pela hipótese boa: os entusiastas de Peluso o consideram um grande penalista, cujo voto terá grande importância. Sem problemas: podem pedir-lhe, caso o julgamento se atrase e não permita seu voto, um parecer, que iluminará a decisão de todos. Não se pode jogar nas costas de um juiz, por melhor que seja, a responsabilidade por um julgamento coletivo. E ninguém é insubstituível. Ruy Barbosa já se foi e o Direito continua.

E há a hipótese difícil de aceitar. Estariam todos convencidos de que Peluso, no meio do julgamento, já tenha seu voto decidido? E os advogados de defesa que ainda não expuseram seus argumentos, perdem seu tempo? Ou, pior, Peluso seria apenas um pretexto, para que a decisão do Supremo saia antes ou depois das eleições municipais e cause efeito nas urnas?

Não, não, não: que o julgamento siga seu ritmo correto, sem lentidão, sem pressa. O importante não é o voto de Peluso, não é que haja uma decisão antes das eleições: é que no julgamento se faça justiça.

As outras batalhas 1

Marcos Valério que se cuide, mas depois do julgamento do Mensalão ele terá outra batalha complicada: o Mensalão mineiro, que anda mais devagar do que discurso do senador Suplicy, será empurrado para o primeiro plano. O PT não apenas garante que não há Mensalão como se irrita por ver que o Mensalão mineiro, com gente graúda do PSDB (como o deputado Eduardo Azeredo), tenha ficado meio esquecido.

Vai dar o troco – e Marcos Valério, também envolvido no Mensalão mineiro, apanha de novo.

As outras batalhas 2

Há ainda a CPI de Carlinhos Cachoeira. Surgiram alguns fatos que, ao que tudo indica, terão repercussão no futuro. A senadora Kátia Abreu, do PSD do Tocantins e líder da bancada ruralista, acusou Andressa Mendonça “Cachoeira” de ter tentado intimidá-la, dizendo ter um dossiê contra ela. Andressa já foi acusada pelo juiz Alderico Rocha de tê-lo ameaçado com um dossiê (por isso teve a prisão decretada e está em liberdade sob fiança).

Tudo o que envolve a bela Andressa merece interesse especial da imprensa.

As outras batalhas 3

A última batalha também envolve um dos escolhidos pelo PT como inimigo preferencial. Diz a Polícia Federal que houve pagamentos de Cachoeira ao escritório em que o antigo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, é sócio hoje. Brindeiro foi procurador-geral nos dois mandatos de Fernando Henrique e, depois disso, se associou a um escritório de advocacia, que, em 2008 e 2009, recebeu R$ 680 mil de Cachoeira – tudo legal, aberto, com nota.

Mas agora há referências a mais de R$ 800 mil em pagamentos “para Brindeiro”, sem maiores identificações. É uma boa briga.