Dirceu se considera ‘prisioneiro político de julgamento de exceção’, mas esquece fala de Silvio Pereira

Jogo de cena – Enquanto estava no poder dando ordens, José Dirceu de Oliveira e Silva não considerava ao extremo as consequências dos atos que tomava. Ministro-chefe da Casa Civil no primeiro governo do companheiro Lula, o cassado Dirceu foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal no processo do Mensalão do PT por formação de quadrilha e corrupção ativa, crimes que, seguida a dosimetria adotada no caso de Marcos Valério, pode render ao ex-comissário palaciano pena de prisão de até quinze anos e em regime fechado. Pelos mesmos dois crimes, o publicitário mineiro foi condenado, pela maioria dos ministros do STF, a 10 anos e 7 meses de prisão, sendo 7 anos e 8 meses por corrupção ativa e 2 anos e 11 meses por formação de quadrilha. Em relação a Dirceu, a pena pode ser aumentada pelo fato de o Ministério Público Federal ter acusado de ser o chefe da quadrilha.

José Dirceu continua firmando que o Mensalão do PT nunca existiu e que jamais chefiou uma quadrilha, mas não se pode esquecer uma declaração do ex-secretário-geral do partido, Silvio Pereira, que em 2006 revelou os bastidores do esquema criminoso de compra de parlamentares por meio de mesadas. À época, Silvio Pereira disse que o PT tinha como objetivo arrecadar R$ 1 bilhão por meio do mensalão e que, assim, como Delúbio Soares, apenas cumpria ordens superiores. Silvinho, como é conhecido o petista, também disse que os chefes do esquema eram o então presidente Luiz Inácio da Silva, José Dirceu, José Genoino e Aloizio Mercadante.

Repetindo a toada melancólica de outros petistas envolvidos em escândalos, José Dirceu disse na última terça-feira (23), durante jantar com amigos e correligionários, que no de ir para a cadeia se declarará “prisioneiro político de um julgamento de exceção”. Trata-se de um oportunismo apelativo de fazer inveja a autores de novelas mexicanas, mas essa horda de saltimbancos que decidiram surrupiar os cofres nacionais precisa compreender que ninguém está acima da lei.

Passado o segundo turno das eleições municipais, o PT divulgará um duro manifesto com críticas ao Judiciário. A estratégia da legenda é aliviar a situação dos companheiros condenados cobrando do Supremo o julgamento dos réus do “mensalão tucano”. Ou seja, essa epopeia não terminará tão cedo.