Em nome da Rosa

(*) Carlos Brickmann –

Como disse Julieta a Romeu, na frase de Shakespeare, “que há em um nome? Se uma rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume!”

Mas não no Brasil: aqui, quando morre alguém, seu nome é polvilhado por todo o país, como se isso tivesse importância. Houve época em que tudo na Bahia recebeu o nome de Luiz Eduardo Magalhães, filho do cacique ACM, esperança baiana de chegar à Presidência da República. Houve época em que São Paulo foi mergulhada em placas de Franco Montoro e de Mário Covas. Nada contra os homenageados; tudo contra esse tipo de homenagem que só serve para atrapalhar a vida de quem mora nas áreas que mudam de nome.

A homenagem funciona? Perguntemos: onde fica o Estádio João Havelange? E o Aeroporto Governador André Franco Montoro? Quem foi Mário Filho, nome oficial do Estádio do Maracanã? O Aeroporto 2 de Julho, de Salvador, cujo nome comemora a Independência da Bahia, virou Aeroporto Luiz Eduardo Magalhães. Ninguém se atreve a usar, para o aeroporto, a sigla natural, ALEM.

Mas a festa continua. A Câmara Federal quer trocar o nome do Aeroporto de Congonhas, SP, para Congonhas – Deputado Freitas Nobre. Freitas Nobre foi um parlamentar corretíssimo, ativo, honrado. Não merece virar um apêndice de nome que ninguém vai usar. E querem trocar nomes consagrados de parques e avenidas pelo de Oscar Niemeyer.

Por que não dar seu nome a um belo, novo e útil equipamento urbano, para que a população dele se recorde com carinho?

Nhô ruim, nhô pior

Dizem por aí que a proposta de acréscimo do nome de Freitas Nobre a Congonhas saiu a pedido de políticos que queriam evitar o mal maior: a ideia, atribuída a Sarney, de homenagear Romeu Tuma. Este colunista lembra que Congonhas já é uma homenagem: o aeroporto tem esse nome por ter sido construído, há 76 anos, no Campo das Congonhas (um arbusto ali abundante); e pode homenagear também Lucas Monteiro de Barros, visconde de Congonhas, que foi presidente do Supremo Tribunal de Justiça e senador, e viveu de 1767 a 1851.

E daí, e daí?

Ninguém quer saber se Hugo Chávez toca piano. Luiz Fux, ministro do Supremo, é tão bom na guitarra quanto o senador Suplicy como cantor. Mas Chávez e Fux não devem ser avaliados pela musicalidade. Seu campo de trabalho é outro e é nele que se devem destacar. Por que, então, debater as ideias políticas de Oscar Niemeyer? Ele não se tornou famoso como teórico do comunismo, mas como arquiteto.

Discuti-lo ideologicamente é como debater Chico Buarque pelas opções políticas. A Banda é ótima, pense ele o que quiser de Cuba e dos EUA.

É vendaval

O caro leitor ainda tem dúvidas sobre o motivo dos altos impostos e do baixo retorno? Aqui vai um bom exemplo: em Itacaré, cidade baiana com 24 mil habitantes, os vereadores dobraram os próprios salários, mais os do prefeito, vice-prefeito e secretário. Na verdade, não é bem o dobro: é um pouco mais. O prefeito passa a ganhar R$ 17 mil, quase o mesmo que o prefeito de São Paulo, com população 500 vezes maior.

Como a eleição já passou, é pagar sem reclamar.

O sertão…

Clima tenso na Câmara Federal: nesta terça, entra em votação um projeto que permite a participação de empresas estrangeiras em 49% do capital das aéreas brasileiras (hoje é de 20%), aumenta o tempo diário em que a tripulação pode voar (das 12 horas diárias do regulamento atual para 19) e permite a contratação de pilotos estrangeiros, com contratos até cinco anos (hoje, estrangeiros podem apenas trabalhar como instrutores, por prazo máximo de seis meses).

A proposta é relatada pelo tucano mineiro Paulo Abi-Ackel.

…vai virar mar

Os sindicatos da categoria ameaçam entrar em greve se o projeto for aprovado como está. Exigem, no mínimo, a manutenção da carga horária e da proibição de pilotos estrangeiros. O mais curioso na história, entretanto, é saber quem é o porta-voz dos sindicalistas: o deputado Jerônimo Goergen, do PP – exatamente, o partido de Paulo Maluf.

Este colunista acreditava que o beija-mão de Lula, Haddad e José Dirceu a Maluf, nos jardins de sua mansão, seria o fato político mais extravagante que iria presenciar em sua longa carreira. Enganou-se: o malufismo falando em nome de sindicalistas é, com larga vantagem, um evento muito mais esquisito. Aliás, lembremos: Paulo Abi-Ackel era garoto quando seu pai, ministro da Justiça da ditadura, radical entre os radicais, proibiu o filme Império dos Sentidos.

E levava seus colegas de escola ao auditório do Ministério para vê-lo.

Queremos Mantega

De um excelente jornalista econômico, Teodoro Meissner, editor da também excelente newsletter Bastidores, do Fórum de Líderes (www.lide.com.br):

“O perspicaz leitor já deve ter percebido que minha admiração por Mantega é escassa. Mas torço para que ele fique. Se sair, Dilma pode colocar Aloizio Mercadante no lugar. Ou Luciano Coutinho. Ou… Acredite, caro leitor, o que está ruim sempre pode ficar pior”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.