Vereador de SP é acusado de cobrar propina; ucho.info explica como isso funciona na política nacional

Como sempre – O brasileiro precisa deixar de hipocrisia e admitir, de uma vez por todas, que política é negócio. Na maior cidade brasileira, São Paulo, o vereador Aurélio Miguel, ex-judoca e medalhista olímpico, está em seu terceiro mandato e é acusado de cobrar propina para não incluir determinadas construtoras e empreendimentos imobiliários em Comissão Parlamentar de Inquérito.

Ainda é prematuro afirmar que Aurélio Miguel é culpado ou inocente, pois é preciso aprofundar as investigações, mas é assim que a política funciona em todo o País. Não é diferente na Câmara dos Deputados e nem no Senado Federal. O melhor exemplo desse comportamento criminoso dos parlamentares ficou evidente na CPI do Cachoeira, que deixou de fora das investigações a Delta Construção e seu proprietário, o empresário Fernando Cavendish.

Esse movimento, que não saiu de graça, teve por objetivo evitar que as investigações chegassem ao Palácio do Planalto, alvejando Lula e Dilma Rousseff. Não ter o nome incluso em uma CPI pode custar até R$ 1 milhão, dependendo do apetite do criminoso com mandato. Ser excluído custa mais caro. Situação idêntica acontece com a apresentação de um simples requerimento de audiência pública. O alvo da audiência sempre tem um interlocutor que surge do nada e está disposto a pagar o que for para que o requerimento seja retirado.

Outro bom exemplo é a CPI dos Combustíveis, que funcionou na Câmara dos Deputados. Quanto custou para que gasolina adulterada fosse transformada em pizza? Há nos bastidores da política de São Paulo um escândalo, relacionado à CPI, em que uma sacola com US$ 300 mil foi apreendida por policiais rodoviários no porta-malas de um carro que seguia para o interior paulista. Como o destinatário do dinheiro era um político conhecido, o caso, que acabou na delegacia, foi abafado por ordens superiores.

Também na Câmara dos Deputados, uma discussão acerca de determinada bebida terminou da noite para o dia, sem qualquer explicação. Essa decisão repentina de acabar com o assunto rendeu a um grupo de parlamentares a bagatela de US$ 3 milhões.

No Novo Código Civil, em determinado artigo a substituição de um “e” por um “ou” custou R$ 3 milhões. E com essa mudança, quem pagou continua ganhando oceanos de dinheiro. O ucho.info denunciou largamente essa manobra, mas o editor acabou processado, condenado e teve recursos financeiros penhorados em conta bancária.

Certa vez, no Congresso Nacional, o editor portava em sua pasta de trabalho alguns documentos contra um banqueiro oportunista que era investigado por parlamentares em CPI. Apenas por esse detalhe, o de portar os tais documentos, acabou preso por ordem de um então senador, que integrava a tropa de choque do tal banqueiro. A detenção se deu na Polícia do Senado, mas logo foi resolvida por se tratar de um ato arbitrário do ex-senador.

Entender esse universo da política é uma questão de intimidade com a aritmética. E não precisa ter muita intimidade com os números. Um candidato a deputado federal por estado do Nordeste, por exemplo, gasta, em média, R$ 50 por voto. Eleito com 160 mil votos, o candidato terá gasto, em três meses de campanha, R$ 8 milhões. Em contrapartida, nos quatro anos de mandato o parlamentar receberá R$ 1,5 milhão, em valores brutos, de salário.

A conta é simples e não se tem conhecimento que no Brasil algum político tire dinheiro do bolso para ser patriota. O povo que arregace as mangas e cumpra o papel de vigiar aquilo que lhe pertence, pois o negócio em que se transformou a política nacional é movimentado com o dinheiro do contribuinte.

Vigiar a classe política é tarefa para corajosos, pois as retaliações são covardes e nem sempre se limitam a ações judiciais. É por isso que o ucho.info pede a sua contribuição para continuar existindo e ajudando o Brasil.