Para que dúvidas não existam e ilações não ocorram

    (*) Ucho Haddad –

    Aos amigos, leitores e seguidores devo explicações sobre o projeto de “fundraising” para manter no ar o ucho.info, um dos poucos veículos de comunicação independentes do País e que trata a notícia com responsabilidade e sempre tendo como base a verdade dos fatos. Foi uma decisão muito difícil de ser tomada e à qual resisti durante meses a fio, mas fui aconselhado por profissionais especializados a seguir tal caminho.

    Ainda estamos longe de alcançar as contribuições necessárias, mas o começo é uma luz no fim do túnel. Temos nos desdobrado para enfrentar as dificuldades que diariamente são impostas pela ousadia criminosa de quem está no poder, mas continuamos firmes em nosso propósito de seguir adiante com um trabalho que está prestes a completar doze anos. Em outras palavras, não estou no comando de um projeto, mas de algo concreto, testado, experimentado e reconhecido por muitos.

    Nos últimos dias, fui questionado por algumas poucas pessoas sobre as contribuições, inclusive com a sugestão de publicar mensalmente no site um balancete com os valores recebidos e gastos. Não estou à procura de investidores, não quero transformar a empresa em uma sociedade anônima e não sonho em comercializar ações na Bolsa de Valores. O meu desejo, assim como o de todos que no site trabalham, é defender o Brasil e os brasileiros. O que tem sido feito desde o primeiro dia.

    Quando compro uma revista no jornaleiro não peço o balancete da editora. O mesmo acontece quando ligo a televisão a cabo. Pago por algo do meu interesse, sem me preocupar com a contabilidade da empresa que edita a revista ou da que leva um programa televisivo ao ar. Pago por um conteúdo que vai ao encontro dos meus interesses.

    Perguntado fui sobre a possibilidade de elaborar um plano de negócios a ser apresentado a eventuais colaboradores. Não é o caso, pois em um país onde a democracia tem muitas sombras e vários subterrâneos, esse tipo de projeto é inviável. Fazer o jornalismo que fazemos é viver em campo minado e repleto de incertezas financeiras. Não porque gastamos tresloucadamente, mas porque nunca sabemos o que virá adiante.

    Há dias em que nada acontece, há outros em que é preciso andar com seguranças. Há dias em que os computadores são atacados, há outros em que os telefones estão grampeados. Há dias em que as ameaças são feitas por telefone ou por e-mail, há outros em que a intimidação se consuma no âmbito da materialidade. Defender-se não tem preço e não permite previsões financeiras. Cada dia é um dia, casa segundo é um segundo. Quando sigo para algum compromisso profissional ou reportagem, saio com a sensação de que não voltarei. Assim aprendi a viver depois que abracei essa causa, a de defender o Brasil e os brasileiros.

    De igual maneira nunca sabemos como reagirá a pessoa que é foco de determinada matéria. Ela pode vestir a carapuça, mas pode partir para a Justiça com um pedido indevido e absurdo de indenização, como já ocorreu diversas vezes. Esse é o risco do jornalismo, mesmo que a seriedade e a ética pautem o desempenho do ofício. Estamos em um país onde prevalece a tese burra do poder e do tráfico de influência. Advogados custam dinheiro, indenizações custam muito mais. Decisões judiciais covardes e truculentas por mais de uma vez nos colocaram à beira do precipício. Condenam sem direito ao contraditório, arrancam o pouco dinheiro que apenas dorme na conta bancária. Só não chegamos ao fundo do poço porque Deus foi parceiro e nossa disposição para lutar foi enorme.

    Quero esclarecer que nem em sonho estou à procura de pessoas que custeiem minhas despesas pessoais ou que me garantam uma vida boa. A minha trajetória profissional e a experiência de mais de trinta anos são suficientes para que consiga o que alguns imaginam que procuro com o “fundraising”. Trabalho dezoito horas por dia, sete dias por semana. É uma missão árdua, que encaro com prazer e muita dedicação. Sem medo, sem preguiça. Sempre estive ciente dos riscos que acompanham o tipo de jornalismo que faço. Mas não há como ser diferente, não há como ser conivente com o que aí está. Por isso me arrisco. Faço isso por mim, pela minha família, por cada um dos leitores, por cada brasileiro de bem, por cada desavisado que acredita nos embustes oficiais.

    Em um dos e-mails, recebido há dias, o signatário sugeriu que o nosso problema é financeiro. Sim, é verdade, o nosso problema é financeiro, é ter como custear um veículo de comunicação que não se vende e não se rende, mas é constantemente sufocado pela força do poder. Por isso peço contribuições. Não estou à frente de uma casa clandestina de jogos, um ponto de tráfico de drogas, um prostíbulo. Peço colaborações para manter intacto um site de notícias sério e que ao longo do tempo se transformou em trincheira da cidadania. Isso é crime, é injusto? Se for, paro por aqui!

    Questionado fui por que não publicamos os dados bancários para que depósitos sejam feitos em nossa conta. Não faço isso publicamente por questões de segurança. Como já citei anteriormente, não fazemos jornalismo para bajular um ou outro, mas para apontar o dedo na direção da omissão do Estado, da transgressão da autoridade, da mentira oficial, do engodo que traz a chancela política. E por conta disso a divulgação dos dados bancários de forma aberta pode se transformar em armadilha. A todos os interessados em colaborar informaremos, por e-mail, os dados de nossa conta bancária.

    Tomo como exemplo mais recente a matéria sobre a renúncia de Bento XVI. É verdadeira, imparcial, correta, reveladora para muitos que desconheciam os fatos. É resultado de trinta anos de investigações, análises e estudos. De ameaças, perseguições por parte de criminosos, de ofertas milionárias para comprar o meu silêncio. Mas a publicação da referida matéria despertou a ira de muitos. Ira essa que foi manifestada nos bastidores, mesmo no prolongado feriado do Carnaval. Assim foi no caso Celso Daniel, assim foi no escândalo do Mensalão. Nos dois últimos casos, de tudo tentaram contra mim e minha família. De ameaças a sequestros, tudo aconteceu. Por isso preservo alguns dados e informações que podem facilitar a ação de adversários inescrupulosos. Mas estou pronto a revelá-los aos que ao meu lado estiverem, aos que desejam manter o site no ar.

    Meu desejo é deixar um país melhor para os que virão. Minha preocupação é encontrar alguém que tenha capacidade e coragem para dar seguimento ao meu trabalho quando aqui não mais estiver. Quando o Ucho acabar, o ucho.info precisa continuar de qualquer forma. Isso custa dinheiro, porque nem todos são idealistas e patriotas. Esse é o melhor plano de negócios que poderia apresentar. Mesmo assim, reforço que não procuro um grupo de pessoas que me mantenha. Desde que retornei ao Brasil, em 2000, muitas foram as oportunidades para que antecipasse a aposentadoria e mergulhasse no oceano do dinheiro imundo. Preferi manter a fidelidade que dedico aos meus ideais e a cada leitor. Abri mão do conforto material e financeiro, patrocinado pelo dinheiro sujo, e optei pela consciência limpa e a sensação do dever cumprido.

    Quero apenas manter funcionando o ucho.info, que ao longo dos anos ajudou o brasileiro a se defender e a ele proporcionou algumas conquistas. Ainda há muitas outras conquistas para oferecer a cada um, pois só consigo pensar na primeira pessoa do plural.

    Nos dias atuais, desconfianças fazem parte do espetáculo da vida, infelizmente. Aos que em mim confiam, o meu eterno muito obrigado. Aos que estão em dúvida, analisem a fundo o meu trabalho. Aos que desconfiam e não mudam, sinto muito.