Vaticano: envolvimento com indústria bélica e cavaleiros de Malta não são novidades

Bomba-relógio – Secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone repetiu nos últimos dias, desde o anúncio da renúncia do papa, que não há nos bastidores da Igreja Católica uma acirrada e sórdida disputa pelo poder. Trata-se de uma colossal inverdade. Joseph Ratzinger decidiu renunciar por causa dos escândalos e seguidos crimes que há muito dominam os intramuros da Santa Sé, começando pelos escândalos envolvendo o Banco do Vaticano, uma conhecida e longeva lavanderia internacional de dinheiro.

De nada adianta o papa Bento XVI usar interlocutores para exalar indignação em relação ao escândalo do ex-mordomo Paolo Gabriele, acusado de roubar documentos secretos da Santa Sé e repassá-los à imprensa. Gabriele foi apenas o fantoche de um enredo previamente ensaiado por integrantes da cúpula do Vaticano para estancar a criminosa queda de braços entre duas facções que há séculos se enfrentam nas coxias do Catolicismo. Fosse verdadeira sua indignação, Ratzinger, como chefe de Estado, não teria perdoado o mordomo Gabriele em dezembro de 2012.

Quem duela com Tarcisio Bertone é o cardeal Angelo Sodano, seu antecessor no cargo de secretário de Estado e ligado à Ordem dos Cavaleiros de Malta, organização que historicamente ficou conhecida como o braço armado do Vaticano e intimamente ligada à CIA, o serviço de inteligência norte-americano que também presta serviços à Santa Sé, por meio de alguns cavaleiros malteses. Pressionado por Sodano, o papa Bento XVI, em dos seus últimos atos oficiais como pontífice, nomeou o alemão Ernst von Freyberg para a presidência do Banco do Vaticano, como é conhecido o Instituto para as Obras da Religião (IOR).

Advogado, Ernst Von Freyberg, 54 anos, ocupará o cargo que estava vago há nove meses, desde a demissão de Ettore Gotti Tedeschi, escorraçado da instituição financeira em circunstâncias até hoje não esclarecidas, mas no rastro de mais um escândalo de lavagem de dinheiro de grupos criminosos.

Católico fervoroso, assim como o ex-presidente do banco, Von Freyberg é também membro da Ordem dos Cavaleiros de Malta e responsável pelas finanças da organização na Alemanha. A questão que ganhou espaço no noticiário internacional é o novo presidente do Banco do Vaticano continuará como dirigente do estaleiro alemão Blohm + Voss, que se dedica a embarcações de guerra e no momento constrói quatro fragatas para o governo alemão.

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse na última sexta-feira (15) que “o papa manifestou seu pleno consentimento à designação de Von Freyberg”. Acontece que Joseph Ratzinger não teve outra saída, pois foi pressionado para nomear o advogado alemão para a presidência do Vaticano, onde só trabalham e mantêm contas bancárias os membros do clero, das ordens religiosas, os diplomatas e os assessores do Sumo Pontífice.

A nomeação de Ernst Von Freyberg desagradou muitas facções religiosas que gravitam na órbita da cúpula do Vaticano e tem tudo para ser um enorme problema para o próximo papa. Para minimizar os efeitos das informações que continuam vazando pelos escaninhos da Praça São Pedro, o porta-voz disse que Beto XVI não conhece o novo presidente do banco do Vaticano, cuja escolha ficou a cargo do conselho de cardeais.

A declaração de Federico Lombardi sobre Ratzinger não conhecer o novo presidente do Banco do Vaticano é a mais nova piada santa. Não bastasse o fato de ambos serem alemães, Joseph Ratzinger e Ernst Von Freyberg integram a Ordem dos Cavaleiros de Malta. E não foi por acaso que uma das últimas audiências do papa, antes do anúncio da renúncia, ter sido dedicada a Matthew Festing, capo supremo da Ordem. Fora isso, basta ver algumas imagens do papa Bento XVI com a insígnia da Ordem dos Cavaleiros de Malta em suas vestes durante cerimônias oficiais.

Como mencionado acima, Angelo Sodano é ligado à Ordem dos Cavaleiros de Malta e o mais antigo integrante do Colégio Cardinalício, que escolheu o nome de Ernst Von Freyberg para presidir o sempre bisonho Banco do Vaticano. Ou seja, nesse enxadrismo do crime, camuflado com a mirra da fé, não há inocentes.

Muitos criticaram o fato de a Igreja Católica ter nomeado para a presidência do Banco do Vaticano alguém que ligado à industria bélica, o que em tese aparenta ser uma contradição, mas esse convívio com esse setor não é novidade na Santa Sé. O ex-presidente do banco, Ettore Gotti Tedeschi, é investigado por autoridades italianas por envolvimento em um escândalo de corrupção que em uma das pontas a Finmeccanica, indústria bélica italiana. Tedeschi, que preparou um dossiê sobre os três anos em que esteve à frente do Banco do Vaticano, teve sua casa e seu escritório revirados pela polícia.

Mas isso não é tudo na intimidade do Vaticano com a indústria bélica, o que é normal para uma instituição que, enquanto exala orações mentirosas e cumpre ritos embusteiros, dedica-se a crimes, como assassinatos e lavagem de dinheiro, sempre com a ajuda de alguns de seus braços armados. Para quem desconhece, o Banco do Vaticano é o segundo maior acionista da indústria italiana de armas Pietro Beretta Ltda, conhecida mundialmente, sendo superado no negócio apenas pela Beretta Holding SpA, grupo controlado por Gussalli Ugo Beretta.

Em outra matéria relataremos o envolvimento do Vaticano com o 3º Reich, de Adolph Hitler, e como braços da Santa Sé agiram para lavar dinheiro do crime organizado e atuar no mercado negro de ouro, além de conluios com ditadores.