Salada russa

    (*) Ipojuca Pontes –

    “Lula é um gangster, ele chefia uma organização criminosa capaz de roubar, matar, caluniar e liquidar qualquer um que ameace seu projeto de poder” (Heloísa Helena, ex-senadora do PT)

    Circula na internet uma petição que objetiva banir o senador Renan Calheiros da presidência do Senado Federal. Segundo a AVAAZ, promotora da ação (uma Ong multinacional especialista em financiar milionárias campanhas de propaganda, promover protestos nas ruas e pressionar governos), a petição on-line já ultrapassa um milhão e meio de assinaturas. Quando o abaixo-assinado contar com 1,6 milhão de assinantes (montante exigido para protocolar projetos de “iniciativa popular” no Congresso), a Ong multinacional pretende enviá-lo ao Senado e à presidência da República. O porta-voz da AVAAZ diz que, com o ato, pretende “causar reboliço na mídia”. Em paralelo, a validade da dita petição vem sendo contestada, visto que muitos peticionários assinam o abaixo-assinado duas ou mais vezes, sendo que um deles, dos EUA, falsifica a assinatura do próprio Barack Obama.

    No resumo da ópera, Renan Calheiros, das Alagoas, terra do inefável Cacá Diegues e Collor de Mello, que se iniciou na vida política como integrante do PC do B, é acusado pelo procurador-geral da República, Roberto Rangel, por crimes de peculato, falsidade ideológica e utilização de documentos falsos. Para o procurador-geral – igualmente acusado pelos dirigentes do PT de engavetar as investigações da Operação Vegas, envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira -, o atual presidente do Senado apresentou notas frias para justificar gastos de sua verba indenizatória com a ex-amante, o que caracteriza desvio de recursos públicos. A coisa fede por todos os lados.

    No plano teórico – pois sempre os há – centenas de “cientistas políticos” e viúvas espirituais do fracassado Maquiavel (em geral marxistas pétreos) se refinam em dizer que a ética dos políticos não tem nada a ver com a ética do cidadão comum – aquele sujeito que acredita em Deus e na honestidade.

    Por sua vez, para desmoralizar a tese de que a ética é um “meio” e não um “fim”, levantada pelo presidente do Senado em discurso presunçoso, finórios falantes da praça entoam em coro o achado fosforescente de que a ética é um “princípio”, ignorando que a ética, desde Aristóteles, não é principio de coisa alguma, mas, simplesmente, um dever.

    Na prática, como se sabe, o presidencialismo de coalizão vigente no Brasil cabe tudo e permite qualquer “malfeito”. PT e PMDB, sócios do condomínio, dividem o botim do poder: o Lulopetismo exerce a presidência da República e toma para si o uso dos recursos da nação e o aparelhamento ideológico do Estado, e o PMDB, por seu lado, para manter o status, fica com a vice-presidência, o comando do Senado e da Câmara Federal e alguns ministérios – os dois partidos convivendo como na fábula do sapo e do escorpião. O mais extraordinário de tudo, numa relação de conveniências escusas, é que foi o PMDB de Sarney e Renan Calheiros que nocauteou a famigerada CPMF e deu um basta no intentado terceiro mandato de Lula da Silva.

    Nesta salada russa onde ninguém escapa, o que mais admira é a ação caolha das Ongs. Malfeito por malfeito, Lula ganha de goleada de Renan. Nos seus oito anos de governo, mais de 480 escândalos barra pesada foram catalogados. O dito procurador-geral, Roberto Gurgel, acaba de enviar ao Ministério Público de Minas depoimento em que o operador Marcos Valério denuncia o ex-presidente como beneficiário direto do Mensalão, acusando-o, entre outros crimes, de beneficiar-se de R$ 100 mil para pagar despesas pessoais. Então, por que não fazer um abaixo-assinado para levar o Dr. Lula ao cárcere?

    (Mas atenção! A petição tem de ser feita logo, antes que surjam novas denúncias e o indigitado Lula se diga, mais uma vez, “apunhalado pelas costas”).