Depoimento de testemunha confirma matérias do ucho.info sobre número de mortos no Massacre do Carandiru

Muito mais – Remarcado para esta segunda-feira (15) em decorrência de mal estar de uma jurada há uma semana, o julgamento de 26 policiais militares acusados de participação no Massacre do Carandiru começou no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste da capital paulista. A invasão do presídio que produziu oficialmente 111 mortos e foi ordenada pelo então governador Luiz Antonio Fleury Filho, aconteceu no sistema prisional do Carandiru, em 2 de outubro.

Durante depoimento na fase de acusação, o ex-presidiário Antonio Carlos Dias, que participou do julgamento na condição de testemunha, disse acreditar que o número de mortos na unidade prisional foi pelo menos o dobro dos 111 anunciados pelo governo.

“Só os corpos que vi saindo do segundo andar eram mais de cem pessoas. Esses 111 eram as pessoas que tinham família, que recebiam visitas”, disse Dias aos a leitura das peças.

A declaração do ex-presidiário confirma as inúmeras matérias do ucho.info sobre o caso, nos quais afirmamos que o número de mortos foi superior a 300. A diferença entre o número oficial de mortos e o real é explicada pela retirada dos corpos em caminhões de lixo, que adentraram ao presídio para recolher a sujeira originada pela briga entre dois grupos rivais.

Os corpos que jamais foram reclamados eram de pessoas fora do estado de São Paulo, cujos familiares jamais souberam o paradeiro dos parentes e nem mesmo que estavam presos. Assim o governo paulista conseguiu enganar a opinião pública acerca de uma página negra da história da mais importante unidade da federação.

A invasão do Carandiru foi comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, condenado, em 2001, a 632 anos de prisão por 102 mortes ocorridas no extinto sistema penitenciário, mas absolvido cinco anos mais tarde.

Coincidências numéricas na vida do coronel

O coronel Ubiratan Guimarães sempre teve o número 111 marcado em sua trajetória. De acordo com declaração do próprio militar, 111 era o número do cavalo que montava nos seus tempos de Regimento de Cavalaria da Polícia Militar de São Paulo.

Depois de assumir mandato de deputado estadual, na condição de suplente, Ubiratan conquistou vaga no Legislativo paulista com o número 14.111. Por conta desse macabro detalhe, o partido decidiu conservar o número da candidatura como homenagem ao coronel. Coincidência ou não, Ubiratan foi sepultado no número 111 da Rua Luís Nunes, na Zona Norte da capital paulista, no dia 11 de setembro de 2006.