Conformados e preguiçosos, brasileiros se calam diante de aval do BC à bisonha fusão Itaú-BMG

Escárnio oficial – Em um país minimamente sério e com um povo sabedor de seus direitos e conhecedor da lógica, algumas decisões tomadas pelo governo brasileiro jamais seriam aceitas, não sem antes provocarem protestos dos mais variados. Mas no Brasil, essa terra de ninguém, o mais importante até dias atrás era tirar o deputado Marco Feliciano da presidência da Comissão de Direitos Humanos, como se vivêssemos em um reduto de probidade e acertos.

Na terça-feira (23), sem que a massa pensante da população se manifestasse, o Banco Central (BC) aprovou a associação entre o Itaú-Unibanco e o Banco BMG na área de crédito consignado, sob a alegação de que “a operação não gera efeitos adversos à concorrência no mercado avaliado e que apresenta viés pró-concorrencial”. Desculpa no complexo “economês” para que a opinião pública não perdesse tempo em entender o negócio que resultou na criação do “Banco Itaú BMG Consignado”.

Que essa parceria bisonha aconteceria todos sabiam, mas é preciso ressuscitar fatos recentes que comprometem a decisão do governo do PT, que chegou ao poder central, em janeiro de 2003, no vácuo do discurso mentiroso da transparência e da retidão.

O mais importante empréstimo consignado feito pelo BMG foi ao Partido dos Trabalhadores, operação que recheou o escândalo de corrupção que ficou mundialmente conhecido como Mensalão. Os empréstimos concedidos ao PT pelos bancos BMG e Rural foram classificados por ministros do Supremo como fraudulentos, quando na verdade foram fictícios.

A explicação para essa epopeia bancária torna-se simples a partir do momento que a recente história política do PT é analisada com mais atenção e afinco. É sabido que no mundo do capitalismo inexistem benemerências e que banqueiros não acordam diariamente para caridades. O dinheiro arrecadado com a cobrança de propinas em Santo André, no ABC paulista, estava depositado em contas bancárias no exterior e precisava ser repatriado de alguma forma. E esse conjunto de empréstimos dúbios foi a saída encontrada pelos alarifes que ainda insistem em afirmar que o assassinato de Celso Daniel foi um crime comum. Coincidência ou não, o BMG conseguiu escapar do maçarico condenatório que foi aceso durante o julgamento da Ação Penal 470, no Supremo Tribunal Federal.

No contraponto, o Banco Itaú-Unibanco, que há muito investe em propaganda e marketing para vender aos clientes uma imagem de retidão, fechou os olhos para esse escárnio que emoldurou o maior escândalo de corrupção da história política brasileira.

Para quem não se recorda, essa parceria aprovada pelo BC torna-se ainda mais obtusa quando relembramos o moribundo fim do Banestado, instituição financeira que pertencia ao governo do Paraná e que mereceu uma CPI no Congresso Nacional, que deu em nada depois de um acordo espúrio com o PT.

O Banestado transformou-se, por meio das contas CC-5, em um misto de lavanderia financeira e catapulta de dinheiro ilegal para o exterior. A um passo da bancarrota, o Banestado acabou no colo do Itaú, através de operação capitaneada por fundos abutres de investimentos gerenciados pelo Goldman-Sachs. Os chamados créditos podres foram comprados por valor simbólico, sem que aos devedores fosse dado o mesmo privilégio, ou seja, o da quitação das dívidas com acintosos descontos.

Antes de assumir a operação do Banestado, o Itaú aguardou a liquidação da polêmica agência de Nova York do outrora banco estatal paranaense. A ordem para essa faxina de liquidação partiu de Tereza Grossi, então funcionária do Banco Central, que disparou para a mais badalada cidade do planeta um dos seus estafetas, o polêmico Vânio Aguiar. Para quem não se recorda, Tereza Grossi foi condenada pela Justiça Federal, juntamente com antigos parceiros do BC, na operação de salvamento dos bancos Marka e Fontecindam.

No mundo as coincidências simplesmente inexistem, exceto quando o vil metal fala mais alto. Por causa desse apêndice permissivo da regra, a coincidência fez com que Tereza Grossi acabasse na diretoria do Itaú, enquanto Vânio Aguiar abocanhava o cargo de liquidante do Banco Santos, cuja falência classificamos, sem receio de qualquer equívoco, como uma das mais covardes operações do mercado financeiro verde-louro.