O Dia das Mães e todas as mães da minha vida

    (*) Ucho Haddad –

    Passei a semana cobrando de mim mesmo um texto em homenagem ao Dia das Mães. Sou avesso a datas, mas não resisti aos apelos de alguns leitores e à pressão do calendário. O que de alguma forma é um presente à minha mãe, que desfruta da sensação de como foi válido enfrentar todas as dificuldades e covardias alheias para me ver jornalista, mesmo que ainda com muito por fazer na profissão.

    Por isso e muito mais é que comemoro diuturnamente a minha mãe. Na verdade, comemoro sempre, a cada instante, três mães. A que me pariu – e não é quenga como insinuam alguns desafetos – e se dedicou, a que me criou e a que inventei para ter a honra ultrajada pelos adversários. No melhor estilo mãe de juiz de futebol na boca maldita dos torcedores do time perdedor.

    Por isso nada escreverei para as minhas mães. Afinal, cada vez que alguém fala mal da terceira – o que virou rotina – as outras duas ganham as nuvens da honradez. Esses detratores da dignidade alheia, que não sabem conviver com a verdade dos fatos, desconhecem o bem que me fazem ao dedicar impropérios à mãe do imaginário, criada com esse propósito específico. E suas respectivas mães não têm culpa pelas lambanças dos filhos.

    Mas o que escrever no Dia das Mães se não for para a própria mãe? Apesar do oximoro, escreverei de forma pontualmente genérica. Deixando minhas mães no oráculo que lhes pertencem, preciso reconhecer que as mães dos meus filhos são excepcionais. Desencontros emocionais à parte, elas são competentes no mais importante e sacro papel a se interpretar sobre a face da Terra. Tenho filhos que me dedicam amor incondicional, o que me alegra sobremaneira. E isso só é possível pela participação das mães na vida de cada um deles.

    Ser mãe é um ato que vai muito além de gestar e parir. É um estado de alma que independe da existência de filhos. Ser mãe é cuidar, preocupar-se, ocupar-se, querer bem, dedicar-se, amar sem saber a razão. É desdobrar-se, reinventar-se, sofrer de alegria, chorar de emoção. Diante dessas pessoas curvo-me pela capacidade inconteste de doação ao próximo, algo que só quem tem a essência materna é capaz de fazer.

    Inovo nesta homenagem e dedico meu pensamento a pessoas absolutamente especiais em minha vida. Sem nominações, tenho amigos, de ambos os gêneros, que foram e são verdadeiras mães comigo. Cuidam de mim como se tivessem me parido. Acolhem-me no momento de dor, por mim desdobram-se quando a dificuldade se apresenta. Não muitos, é verdade, mas os poucos que assim agem são inenarráveis.

    Abrindo uma exceção à regra aqui estabelecida, cito o nome de um amigo que me fez repensar a relação com os meus filhos. Fouad, que por razões óbvias me dou o direito de chamá-lo de “Laurence da Arábia”, consegue a proeza de ser mãe no exercício da paternidade. Pai, ele consegue ser mãe das filhas. Além da amizade inconteste que me dedica, Fouad me presenteia, sem saber, com sua porção maternal. Trata-se de algo tão magistral, que quando telefono para saber como ele e as filhas estão (a mulher Bia também) deixo a conversa com uma resposta que sequer passa por seu pensamento. Ele me ensina sem perceber que também é preciso ser mãe, mesmo sendo pai.

    Fouad, o meu amigo de quatro décadas, é dessas figuras indiscutíveis. Como se mãe fosse, sempre tem uma palavra que sufoca a fervura da discórdia. Personalidade forte, doçura ímpar, pode até não resolver o conflito no momento da fúria alheia, mas deixa sobre o clamor da discussão uma receita de esperança, um convite à reflexão. Coisa de mãe competente. Arrisco a afirmar que ele é a mãe que todas as mães gostariam de ser. Até a mãe do Che Guevara gostaria de ter sido como o Fouad é. Firme, mas sem perder a ternura jamais.

    Volto às mães e rendo-me às sogras. Como escrevi, tive sogras ímpares. Algumas dignas de serem esquecidas, mas outras poucas simplesmente inesquecíveis. Foram comigo uma mãe de aluguel. Dedicaram-me carinho tão maternal, que até as filhas ficaram enciumadas. Essas mães postiças que colecionei, com muito cuidado levo-as em reservado canto da alma.

    Mas o que seriam dessas sogras adoráveis – as viperinas também – se não fosse a maternidade? Foram suas filhas que permitiram esse doce convívio. E a elas, as filhas, que também experimentaram a magia da maternidade, deixo aqui a minha reverência, pois ser mãe, muito além de padecer no paraíso (a citação é de Gilbran Khalil Gilbran), é um desafio que poucos homens seriam capazes de enfrentar.

    Sendo assim, aproveitando que meu amigo é uma mãe das Arábias, a todas as mães, minhas e de tantos outros, desejo “Salaam Aleikum”. Para quem não é parente do Fouad, que a paz de Deus esteja sobre vós.