Justificativa do STF para as viagens das esposas dos ministros foi um achincalhe às mulheres

Explicação equivocada – O ucho.info aguardou alguns dias na esperança de que algum órgão do governo federal, sempre pronto aos discursos utópicos, emitisse nota de repúdio à explicação dada pelo Supremo Tribunal Federal sobre os gastos com passagens aéreas internacionais para as esposas dos ministros. A prática não é ilegal, mas é no mínimo amoral em um país onde pessoas reviram o lixo em busca de resto de comida.

Deixando a sociologia de lado, a explicação do STF de que as esposas dos magistrados viajam com os cônjuges quando a presença das mesmas é “indispensável” soa estranha. Quem casa, oficial ou oficiosamente, não o faz para ter ao lado alguém dispensável. A presença de uma mulher ao lado de um homem é sempre necessária e importante, sendo que algumas fazem a diferença de forma maiúscula e ininterrupta.

A alegação da Suprema Corte é no mínimo um desrespeito às mulheres, que em uma sociedade democrática têm os mesmos direitos dos homens, não importando a notoriedade ou a condição sócio-econômica. Afirmar que as esposas dos ministros viajaram quando não eram “indispensáveis” permite compreender que em outras situações elas são dispensáveis. Para que a polêmica não cresça e mal entendidos não brotem aqui e acolá, o STF precisa esclarecer o conceito de indispensabilidade, se é que essa situação de fato existe.

O governo do PT, que há muito vive às turras com o Judiciário, em especial com a Corte que condenou os mensaleiros, preferiu o silêncio para não alimentar novas fogueiras. Enquanto presidente da República, o messiânico e agora fugitivo Lula viajou algumas vezes na companhia da então primeira-dama Marisa Letícia. Quando esta foi considerada dispensável pelo próprio consorte, entrou em cena a segunda-dama, Rosemary Noronha, a Marquesa de Garanhuns.

Fora da seara do “gardelón” Luiz Inácio, o assunto poderia causar constrangimentos à presidente Dilma Rousseff, que em muitas das suas viagens oficiais tem a companhia da filha, figura que nada acrescenta na representatividade do País.

Voltando no tempo, outros presidentes também fizeram uso dessa tese da dispensabilidade de suas esposas, as quais foram substituídas por profissionais de alcova que normalmente gravitam na órbita da Praça dos Três Poderes.

Antes que as esposas dos ministros do Supremo sejam comparadas às “Rosemarys” da vida, é bom que a máxima instância da Justiça brasileira se pronuncie e saia em defesa dessas senhoras, pois nos lares dos magistrados é quase certo que a fervura subiu por causa de tão esdrúxula explicação.