Opinião – 12 anos do ucho.info

(*) Carlos Brickmann –

Repórter, sem dúvida. Repórter dos bons, daqueles que trazem informações novas, confirmadas, de preferência relacionando-as com outras informações disponíveis e formando um quadro dos acontecimentos.

Impiedoso? Como repórter, sim: publica o que apura, e já perdeu muitos amigos por isso. Mas dedica boa parte de seu tempo a mulheres detidas, num atendimento permanente, voluntário e gratuito. Aquele turco enorme, de traços duros, sempre à busca de notícias, tem coração. Mais ainda, tem amor no coração.

O Ucho engana, também: é duro, coloca a notícia acima de tudo, tem cara de bravo, convive o tempo todo com pessoas sofridas, mas abriga um insuspeito lado poético. No seu portal http://ucho.info/ implantou uma boa seção cultural, que nada lhe rende, só traz custo; mas é onde divulga o noticiário de lançamentos, exposições, cujo espaço é cada vez mais reduzido nos veículos tradicionais. E onde dá vazão aos poemas que compõe – ao vê-lo, quem diria que não apenas gosta de poesia como também a cultiva?

Mas nada é perfeito. Ucho Haddad não sabe ganhar dinheiro, não tem a menor ideia de como isso se faz. E, recusando-se a aderir aos governos de plantão, sejam de quais partidos forem, não tem perdão: uma empresa que queira patrociná-lo estará sujeita aos humores dos governantes, que pressionam quem quer que dê oportunidade a um jornalista sério, um jornalista não comprometido com o poder. Ah, nossos empresários privados, tão vulneráveis! E tão felizes com essa vulnerabilidade, que lhes proporciona a possibilidade de, docemente constrangidos, submeter-se a pressões tão indignas que só mesmo com maiores benefícios poderão sentir-se menos humilhados!

O fato é que, com tudo contra, Ucho Haddad está completando 12 anos de jornalismo independente, de imprensa sem patrão, dando voz a quem não a tem. Parabéns – não ao Ucho, porque para ele isso é sua natureza; mas aos consumidores de informação, porque com ele têm onde buscá-la. E vamos em frente, Ucho: doze, mais doze, mais doze, sem dar descanso aos poderosos que pensam que podem tudo. Ou pensariam, se pudessem pensar.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.