Cardozo trata com deboche o cartel do metrô de SP, mas um vagão do Mensalão pode descarrilar

Carência de fosfato – Como acontece de forma corriqueira na política brasileira, quando um partido ataca o adversário, o deboche normalmente aparece no final da estocada. É o que faz o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, que vem tratando com desdém e ironia a reação do governo de São Paulo diante do posicionamento chicaneiro do Cade, que investiga suposta formação de cartel para participar de licitações no metrô paulistano.

Questionado sobre o assunto, Cardozo disse que o governo de São Paulo está com “os nervos à flor da pele” desde que detalhes das investigações realizadas pelo Cade vazaram para a imprensa. “Estão com nervos à flor da pele por razões que desconheço. Querem transformar em político o que é investigativo”, declarou o ministro.

A declaração de José Eduardo Cardozo mostra de forma inequívoca sua incapacidade para ocupar o cargo que recebeu da presidente Dilma Rousseff. É inimaginável que o titular da pasta da Justiça, que deveria dar o bom exemplo no âmbito do respeito às leis, defender a violação do sigilo de uma investigação, assim como o vazamento criminoso de informações. Em países sérios e responsáveis, Cardozo já estaria demitido e respondendo a um processo na Comissão de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil, pois ultrapassa as fronteiras da ética um operador do Direito que incentiva a violação das leis.

No que se refere a “transformar em político o que é investigativo”, o ministro deveria ser mais cuidadoso com suas declarações, evitando jogo de palavras, pois se a memória do povo é curta, há jornalistas que sabem muito mais do que ele gostaria que soubessem. Considerando que a matemática prega que a ordem dos fatores não altera o produto, o que é investigativo pode ser facilmente se transformar em político. Para tal, basta recuar no tempo e fazer uma parada em 2005, ano em que o Congresso Nacional instalou a CPI dos Correios para escarafunchar o maior escândalo de corrupção da história nacional, o Mensalão do PT.

A CPI dos Correios transcorria em meio à queda de braços protagonizada por governistas e oposição, quando um fato novo surgiu no cardápio da Comissão. O esquema criminoso que alimentou o caixa do Mensalão do PT, operado pelo publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado pelo STF a quarenta anos de prisão. Muito estranhamente, o responsável pelo derrame de dinheiro no caixa do Mensalão passou a ser defendido com fervor por alguns integrantes do PT, todos com clara vocação para as ações oportunistas. E José Eduardo Cardozo por certo lembra-se de tal fato.

Caso a amnésia seletiva tenha desembarcado na seara da memória do ministro da Justiça, alguém há de reavivá-la em questões de segundo. O que provocaria uma hecatombe política sem precedentes, capaz de tirar do sério um calmo e abusado banqueiro tupiniquim.