Justiça dos Estados Unidos condena Bradley Manning a 35 anos de prisão

(Reuters)
Caneta pesada – O ex-soldado norte-americano Bradley Manning foi condenado a 35 anos de prisão por ter divulgado informações oficiais dos Estados Unidos ao site Wikileaks. A juíza Denise Lind pronunciou a sentença nesta quarta-feira (21), em Fort Meade, no estado de Maryland.

A pena originalmente pleiteada pela promotoria era de, no mínimo, 60 anos de detenção. Antes, o informante fora considerado culpado em 20 de 21 quesitos de acusação, incluindo espionagem, furto de propriedade do governo e criminalidade informática.

A juíza militar já antecipara que seriam descontados cerca de três anos e meio da sentença, pelo fato de Manning estar atrás das grades desde maio de 2010, tendo passado nove meses em cela solitária. Lind o sentenciou, ainda, a despensa do Exército por desonra.

Novas críticas

Em 2010, Manning, então cabo do Exército, vazara para o Wikileaks centenas de milhares de despachos diplomáticos e documentos militares secretos dos EUA. Entre os mais polêmicos encontrava-se um vídeo de 2007 mostrando um ataque aéreo dos EUA a Bagdá, operação que deixou vários mortos, entre os quais dois jornalistas.

A ONG “Repórteres Sem Fronteiras” (RSF) classificou como “desproporcional” a sentença contra Manning. Segundo o porta-voz da RSF, Michael Rediske, o veredicto é “mais uma prova de que os EUA precisam ter finalmente uma lei de proteção aos informantes”.

Desde o 11 de Setembro, a opinião pública americana aceitaria facilmente demais, quando a segurança nacional é utilizada como argumento contra a liberdade de imprensa e outros direitos civis, lamentou o funcionário da organização de direitos humanos.

“Se o presidente Barack Obama não der logo fim a sua campanha contra os whistleblowers, logo os jornalistas dos EUA terão cada vez menos meios de revelar irregularidades por parte do governo e das autoridades”, declarou Rediske, a partir da sede da RSF em Berlim.

Caso Greenwald-Miranda

Para acentuar a excepcional dureza da pena contra Manning, a ONG evocou casos passados de delatores nos EUA. Assim, entre 1971 e janeiro deste ano, denunciantes em casos de projeção internacional, como Daniel Ellsberg, Thomas Drake ou John Kiriakou, ou tiveram seu processo suspenso ou foram condenados a penas de, no máximo, dois anos e meio de reclusão.

A conclusão da RSF é que o atual veredicto teria como fim intimidar eventuais imitadores. Michael Rediske exigiu que as instâncias de recurso e apelação da Justiça militar americana esgotem todas as possibilidades de um abrandamento da pena contra Manning.

Em seu comunicado, a Repórteres Sem Fronteiras mencionou, ainda, a recente retenção em Londres de David Miranda, companheiro do jornalista britânico Glenn Greenwald. O incidente seria um indicador de que os EUA estaria tentando interceptar a rede de repórteres que “há semanas publicam as informações do ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA), Edward Snowden, sobre os exorbitantes programas de vigilância dos serviços secretos americanos e britânicos”, afirmou a ONG. (COm DW e agências internacionais)