Economia cresce 1,5% no segundo trimestre, mas comemoração do governo é precipitada e descabida

Muita cautela – Economia brasileira registrou crescimento de 1,5% no segundo trimestre deste ano, na comparação com o primeiro, motivo suficiente para a trupe do Palácio do Planalto acionar a manivela do ufanismo oficial. Ainda ministro da Fazenda, Guido Mantega, que é alvo de piadas no mercado financeiro, inclusive no internacional, comemorou a pontual reação da economia e voltou a fazer profecias.

Na manhã desta sexta-feira (30), Mantega disse a jornalistas que “o fundo do poço foi superado”. “O pior passou, o fundo do poço foi superado não só no Brasil, mas no mundo todo. O mundo caminha junto”, afirmou o ministro. “Estamos numa trajetória de recuperação do crescimento que vai persistir nos próximos anos”, completou.

A declaração de Guido Mantega é no mínimo interessante, pois até outro dia a crise não havia chegado ao Brasil e os aludidos solavancos econômicos aconteciam por culpa dos Estados Unidos. Agora Mantega, que ousa posar de versão genérica de Messias, diz que “o mundo caminha junto”.

A soberba do ainda ministro é tamanha, que ele ousou dizer que a partir de 2014 o Brasil retomará o crescimento na casa de 4% ao ano. Trata-se de um discurso conhecido, vociferado no início dos últimos dois anos, mas que acabou implodido pela realidade do cotidiano.

Acreditar nas palavras de Guido Mantega é um ato de irresponsabilidade, pois os fatos da economia mostram um cenário avesso. Para o terceiro trimestre, que termina em 30 de setembro, o mercado financeiro espera crescimento zero do PIB. Já para o último período do ano, a aposta é de meio ponto percentual, o que, como muito esforço, permitirá que o PIB alcance a marca de 2%.

Mesmo assim, essa aposta corre o risco de despencar no meio do caminho, pois a alta do dólar comprometerá sobremaneira a economia verde-loura. Há detalhes que Guido Mantega finge não saber ao comentar o momento da economia. A indústria brasileira está estocada, especialmente por causa das compras de final de ano, mas não há garantia de que o comércio responderá à altura. Isso porque os preços das mercadorias estarão acima das previsões do comércio, uma vez que o dólar elevado compromete a reposição na indústria.

Como se fosse pouco, a elevação da Selic e a consequente alta das taxas de juro ao consumidor inibirão a compras. Para completar, em julho o setor de serviços, responsável por 70% do PIB, demitiu 7 mil trabalhadores, um dado considerado preocupante. De quebra, a confiança da indústria não é das melhores, assim como desanimadora é a do consumidor, em parte pelo avanço da inflação. Sendo assim, resta saber por qual razão o Palácio do Planalto está em festa.