Acusado de envolvimento no Mensalão do Amapá, senador discute financiamento de campanha

Fio trocado – Quanto mais se acompanha o dia a dia da política, mais incompreensível o tema se torna. Isso acontece porque, como sempre afirmamos, a política é a arte da incoerência. E como tal, em seu cenário inexistem coincidências.

Na manhã desta quarta-feira (11), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) realizou sessão para discutir assunto que há muito transita pelo parlamento sem solução: o financiamento de campanha. A sessão caminhava para o seu final quando o presidente do colegiado cedeu a palavra ao senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

Como se sabe, Randolfe chegou ao Senado para causar polêmica, assim como fazem muitos dos integrantes do PSOL, o que não significa que estejam sempre errados ou na contramão da lógica. Porém, causou estranheza a ênfase que o senador amapaense dispensou ao assunto.

Para quem não sabe ou não se recorda, Randolfe Rodrigues foi alvo de um escândalo de corrupção que só não foi adiante nas trilhas da Justiça porque o Ministério Público usou uma metodologia estranha para interpretar os fatos. O agora senador foi acusado de ter se beneficiado de um “mensalão” criado no Amapá pelo então governador João Capiberibe (PSB). O alvo desse esquema criminoso era um grupo de deputados da Assembleia Legislativa do Amapá, que recebiam mensalmente a quantia de R$ 20 mil.

Randolfe Rodrigues, de acordo com a acusação, não apenas recebeu a propina, mas assinou documento atestando o recebimento do dinheiro. Perícia grafotécnica realizada nos documentos confirmou como sendo de Randolfe as assinaturas, mas a Procuradoria-Geral da República preferiu desconsiderar os laudos periciais.

O então procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deu parecer favorável a Randolfe e determinou o arquivamento da denúncia, sob a alegação de que não seria crível um parlamentar assinar recibos que comprovassem um ato ilícito.

Ao procurador da República não cabe dizer se é crível ou não determinado ilícito, mas apenas analisar o caso com base nas provas carreadas ao processo. Caso o exame grafotécnico tivesse sido acolhido pela PGR, por certo Randolfe Rodrigues já seria réu em processo no STF.