Protestos: Abraji repudia novos ataques a jornalistas, que desde junho deste ano já somam 96

Situação preocupante – Quatro jornalistas foram agredidos na tarde desta segunda-feira (21), no Rio de Janeiro, durante a cobertura de protesto contra o leilão do Campo de Libra. Houve confronto entre manifestantes e agentes da Força de Segurança Nacional na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, próximo ao hotel que serviu de palco para o pregão de apenas um interessado.

A repórter Aline Pacheco, da TV Record, foi agredida por manifestantes com um soco nas costas. O fotógrafo Gustavo Oliveira, da agência britânica Demotix, foi atingido por uma pedrada. O também fotógrafo Pablo Jacob, de “O Globo”, e o cinegrafista Marco Mota, da TV Brasil, foram atingidos por balas de borracha disparadas por agentes da Força Nacional. Um veículo da TV Record foi virado por manifestantes.

Na última terça-feira passada (15), professores em greve fizeram grande protesto na capital fluminense, que terminou com dezenas de prisões e atos de vandalismo e violência. Na ocasião, o repórter fotográfico Pablo Jacob foi agredido por policiais com golpes de cassetetes. Na sexta-feira, (18), Pablo voltou a ser agredido – desta vez por manifestantes – quando cobria a soltura de pessoas detidas nas manifestações do dia 15. Além dele, os também fotógrafos Carlos Wrede, do jornal “O Dia”, e Luiz Roberto Lima, do “Jornal do Brasil”, também foram agredidos por manifestantes. O clima hostil persistiu no último sábado (19), quando novos alvarás de soltura foram expedidos.

Revolução dos Beagles

Em São Paulo o fim de semana também foi violento para a imprensa. A repórter Tatiana Farah, do jornal “O Globo”, foi alvo de dois disparos de bala de borracha durante protestos no último sábado (19). Tatiana cobria, em São Roque (interior de São Paulo), a manifestação contra o uso de animais (especialmente cães da raça beagle) em testes farmacológicos. Segundo a repórter, embora ela gritasse ser da imprensa e estivesse com as mãos para o alto, um policial do choque mirou seu rosto e disparou uma bala de borracha, que passou de raspão por seu couro cabeludo. Outro disparo feriu-a na região das costelas. Nesse mesmo protesto, manifestantes atearam fogo a dois veículos da TV TEM, afiliada da Rede Globo que cobre a região.

No dia 15 de outubro, de acordo com informações do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, o repórter fotográfico freelancer Yan Boechat foi vítima de violência policial. Boechat afirmou ter sido agredido ao tentar registrar a truculência de alguns agentes da PM contra um manifestante. Também no dia 15, o repórter fotográfico Guilherme Kástner, do “MetroNews”, conseguiu registrar em vídeo o momento em que foi atacado por policiais.

Com esses novos episódios, o número de ataques a jornalistas, contabilizado pela Abraji desde o início dos protestos, chega a 96. Manifestantes foram responsáveis por 25 episódios de agressão contra profissionais da imprensa. Os outros 71 casos, ou 74% do total, foram protagonizados por policiais ou agentes da Força Nacional. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) condena todos os atos de violência contra jornalistas, sejam praticados por manifestantes ou por policiais.

A Abraji cobra das autoridades mais preparo dos policiais para agir de maneira a garantir o direito de a imprensa trabalhar – e não o contrário, como vem ocorrendo. É inaceitável que o Brasil tenha quase 100 episódios de agressão, hostilidade ou prisão de jornalistas em pouco mais de quatro meses. Esse índice não é compatível com a democracia e fere o direito de toda a sociedade à informação.