Lula discursa no Senado e exalta postura democrática de Sarney, que age como ditador no Maranhão

Jogo rasteiro – Certa feita, Otávio Mangabeira, então governador da Bahia (1947-1951) e constantemente citado por este site, balbuciou uma frase que se adaptada torna-se a mais completa tradução do Brasil atual: “Pense num absurdo, na Bahia tem precedente”. Queiram ou não os brasileiros, o Brasil tornou-se o reino dos absurdos.

Nesta terça-feira (29), ao discursar na tribuna do Senado, o ex-presidente Lula exaltou o papel do senador José Sarney, então presidente da República, durante a Assembleia Nacional Constituinte.

“Em nenhum momento, mesmo quando era afrontado no Congresso, o senhor levantou um único dedo, uma só palavra para criar qualquer dificuldade aos trabalhos da Constituinte, que certamente foi o trabalho mais extraordinário que o Congresso já viveu. (…) Por isso presidente Sarney, já que Ulysses não está entre nós, eu quero dizer claramente que o senhor merece a minha homenagem como comportamento digno como presidente da República, de permitir que nós disséssemos aqui dentro todos os desaforos que achávamos que tínhamos direito de falar contra o senhor”, declarou Lula na sessão solene do Senado para comemorar os 25 anos da promulgação da Constituição Federal de 1988.

Há cinco décadas comandando o Maranhão com mão de ferro, o caudilho José Sarney não é a candura vociferada por Lula no plenário do Senado Federal. Sarney conseguiu aniquilar o Maranhão a ponto de o estado ser o mais miserável da federação, não sem antes ter implantado na terra do arroz de cuxá um regime de Apartheid de fazer inveja aos sul-africanos do passado.

Sarney, que de democrático nada tem, nem mesmo em sonho aceita críticas. Prova maior de seu comportamento totalitarista, algo que disseminado entre os integrantes do clã, e a forma covarde e rasteira como ataca os adversários políticos que ameaçam sua quase capitania hereditária. Uma das maiores ameaças ao clã Sarney é o ex-deputado federal Flávio Dino, atual presidente da Embratur.

O risco de a hegemonia obtusa do clã desmoronar começou a surgir nos protestos de junho passado, quando os maranhenses foram às ruas para protestar contra o grupo político que sonha em manter-se no poder. A voz rouca das ruas ganhou eco nas recentes pesquisas eleitorais, que revelam o fraco desempenho dos candidatos da “famiglia” Sarney. Nos últimos levantamentos dos institutos de pesquisa, Flávio Dino aparece na dianteira com quase 60% de apoio dos eleitores do estado, cenário que indica que a eleição pode ser liquidada ainda no primeiro turno.

Por causa dos resultados das pesquisas de opinião o jogo sujo operado pela “famiglia” entrou em cena quase um ano antes da eleição, situação que confirma o desespero de José Sarney e sua turma, que em caso de derrota certamente serão desmascarados na primeira auditoria mais aprofundada no Maranhão.

Estafeta de luxo de José Sarney ao longo de décadas, o deputado federal Francisco Escórcio (PMDB-MA) foi escalado para atura como ponta de lança na cruzada contra Flávio Dino. Escórcio, conhecido nos bastidores como “Chiquinho de Sarney”, vem tentando promover uma devassa nas contas da Embratur, na esperança de encontrar alguma irregularidade que comprometa Dino, o candidato que tira o sono da “famiglia” da Praia do Calhau.

Há dias, Escórcio protocolou requerimento ao Ministério do Turismo cobrando explicações sobre a decisão da Embratur de abrir 13 escritórios de representação no exterior. O estafeta do senador também denunciou Dino à Comissão de Ética Pública da Presidência, acusando-o de usar o cargo para fazer campanha antecipada no Maranhão. “Dino trabalha em Brasília de segunda a quarta e viaja na quinta para o Maranhão. Quem você acha que está pagando isso?”, questiona Escórcio.

Com a experiência que amealhou na eleição de 2010, quando por pouco quase impôs uma histórica derrota a Roseana Sarney, o presidente da Embratur disse que prefere não comentar os devaneios de encomenda de Escórcio. “Todas as viagens não oficiais são pagas pelo PCdoB ou por mim”, garante Dino.

Por questões óbvias, as denúncias de Chiquinho de Sarney ganharam espaço nos veículos que fazem parte do Sistema Mirante de Comunicação, de propriedade da “famiglia” do senador. Na edição do último domingo (27), o jornal “O Estado do Maranhão” publicou reportagem sobre obras-fantasmas que teriam recebido emendas parlamentares do próprio Flávio Dino, quando era deputado federal. Foram R$ 5,6 milhões para a construção de ginásios e campos de futebol na cidade de Caxias. Contudo, diferentemente dos muitos hospitais prometidos por Roseana, as tais obras existem e já foram inauguradas. Há dias, Dino teve de se defender de outra denúncia covarde e mentirosa, a de que recebia salário da Universidade Federal do Maranhão mesmo sem dar aula. Uma nota oficial da própria instituição desmentiu a acusação.

Os sucessivos ataques da “famiglia” Sarney levaram Flávio Dino a revidar. Em denúncias ao Ministério Público, o presidente da Embratur acusa o secretário de Infraestrutura do Maranhão e pré-candidato ao governo, Luis Fernando Silva, de usar helicóptero oficial para reuniões partidárias. O PCdoB de Dino também questiona o que classifica como “manipulação do orçamento” por parte da governadora Roseana Sarney. “A análise da lei orçamentária mostra que Roseana cortou verbas de saneamento, educação e segurança pública, enquanto triplicou o orçamento de Infraestrutura, pasta do pré-candidato deles”, afirma o deputado estadual Rubens Júnior (PCdoB).

Diante de câmeras e microfones o senador José Sarney, assim como a filha, destila falsas pílulas de democracia, pois é sabido que o jogo sujo no Maranhão deve crescer de forma assustadora até a eleição, principalmente porque o Palácio do Planalto trabalha por Flávio Dino.