Ninguém chuta cachorro morto

(*) Ucho Haddad –

ucho_23Fazer jornalismo não é tarefa simples em qualquer lugar do planeta. No Brasil, o ofício é um desafio constante, pois aqueles que detêm o poder tentam, de maneira quase sistemática, calar quem ousa noticiar a verdade. O que mostra que o Brasil é uma democracia fajuta, mentirosa, para inglês ver. Em mais uma operação covarde e orquestrada, liderada por alguém que não tem coragem de tomar a frente da missa que encomenda, nova investida surge contra mim, no momento em que o “assassinato de reputações” está na boca da opinião pública.

Confesso estar acostumado a essas investidas rasteiras que brotam dos subterrâneos fétidos do poder, mas os que de novo assacam contra mim sabem que nada irá deter-me, pois é com o Brasil e com os brasileiros o meu compromisso maior. Não será com uma nova investida que alguém me impedirá de levar a cada leitor a notícia como ela é. O grande enigma para esses detratores da honra alheia é como um jornalista independente sobrevive durante tanto tempo, mesmo que debaixo de saraivadas criminosas e asfixia financeira.

O fato de saber lidar com a artilharia adversária pode suscitar ao menos um questionamento: a razão por estar discorrendo sobre o assunto. Faço isso porque a cada leitor devo respeito. Quem age como se fosse um bedel de campo de concentração o faz porque não se conforma em ter suas mazelas relatadas. Algo que faço com determinação e destemor, pois o Brasil não mais suporta o avanço da corrupção e dos desmandos. Foi por essa razão que, ciente dos riscos que correria, abri mão de uma vida confortável no exterior para, retornando à terra natal, lutar pelo País.

Com o passar dos anos tornei-me não apenas um arquivo ambulante, mas possuidor de documentos altamente comprometedores. E isso vem preocupando muitos poderosos, os quais ao longo dos anos tentaram me eliminar de alguma maneira. Se não fisicamente, agiram de forma indireta, assassinando a reputação que conquistei como jornalista. E para isso se valem dos proxenetas da comunicação, que por algum punhado do vil metal vendem a consciência com o mesmo despudor de uma mulher de “trottoir”.

Não sou melhor que esse ou aquele, aqui ou acolá, mas faço o meu trabalho com muita dedicação e determinação. Contudo, uma coisa é certa: procuro fazer sempre o melhor, cada vez melhor. Fora isso, a maneira como passei a fazer jornalismo nos últimos cinco anos levou muita gente a perder o sono. Nada tão diferente do jeito que fazia antes. Nessa receita que me acompanha há décadas adicionei algumas pitadas de didática ao texto jornalístico. Foi o suficiente para fazer com que o cidadão acordasse para a realidade.

Quem agora investe contra mim já tentou de tudo para comprar o meu silêncio. Em todas as ocasiões a resposta foi não. E assim continuará sendo, pois a minha consciência não é mercadoria de lupanar. De ataques pela imprensa de aluguel a sequestro de familiar, passando por destruição de bens e processos judiciais, tudo entrou no cardápio dos alarifes. O esquema de corrupção é tão acintoso e devasso, que à sombra do desinteresse da polícia coube-me desarticular o plano de sequestro que me colocava na alça de mira. Ofertas de suborno foram inúmeras, mas preferi a riqueza infinda da consciência tranquila. Essa decisão incomodou ainda mais os que agora se voltam novamente contra um jornalista que resiste aos desmandos dos adversários.

Não me curvarei diante de ataques que repetem a cantilena mentirosa e covarde da primeira investida, assim como não me deixarei intimidar pela truculência dos que se incomodam com a forma como exerço o ofício que acertadamente escolhi. Se esses que ora ressuscitam para um novo ataque creem que será possível deter o meu jornalismo, lembrem-se dos efeitos das investidas anteriores. O tiro saiu pela culatra e o meu trabalho ganhou novos adeptos. O que vem se repetindo nos últimos dias.

Quem garantiu que me mataria está contemplando o nascer do astro-rei de forma geometricamente distinta. Até então a promessa covarde e fajuta não foi cumprida, mas estou atento aos movimentos de quem está na prisão, pois seus tentáculos com o mundo exterior são nefastos e peçonhentos. Outro que perdeu tempo e dinheiro tentando me derrubar, já experimentou a sordidez do cárcere em duas ocasiões. A depender do meu trabalho, passará uma temporada atrás das grades. O jogo é bruto, é verdade, mas enfrentarei com coragem e dignidade, sem jamais agir com um suicida do jornalismo. Paciência não me falta, perseverança também.

Alto foi o preço pago por ter contribuído decisivamente para a elucidação do esquema criminoso que desaguou na CPI dos Correios e culminou com a prisão dos mensaleiros. O maior escândalo de corrupção da história verde-loura está em seu primeiro capítulo. Um desdobramento da Ação Penal 470 já está em curso, o que significa que muita lama há de jorrar dessa vala de desmandos e corrupção. A Justiça ainda perceberá que o caixa do Mensalão recebeu muito mais dinheiro do que se noticiou até agora. É exatamente o operador dessa cornucópia criminosa e do mal que está por trás da sórdida investida que se ergue contra mim, mais uma vez.

Ninguém chuta cachorro morto, mas aquele que for me atacar precisa antes de tudo analisar o próprio currículo. Voltam-se contra mim novamente porque sempre incomodei e continuo incomodando, apenas por noticiar a verdade de forma clara, coerente e didática. Se o incômodo alheio surge em cena repetidas vezes, só posso acreditar que estou no caminho certo.

Certa vez, o brilhante Mario Quintana escreveu: “Todos esses que aí estão atravancando o meu caminho, eles passarão… Eu passarinho!”. É exatamente assim que sinto, sem ter qualquer dúvida em relação à escolha que fiz. Obrigado pela leitura, obrigado pelo apoio e muito obrigado principalmente pela confiança.

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.