Acidente da TAM: decisão absurda de procurador mostra que a política não é seara de coincidências

denise_abreu_13Raciocínio em curto – A cada dia que surge o Brasil confirma a sua condição de paraíso dos absurdos. São tantos os absurdos que pululam do Oiapoque ao Chuí, que a imprensa não consegue relatá-los de uma só vez. Isso obriga os jornalistas a selecionarem os absurdos mais absurdos, com a devida desculpa pela redundância necessária.

O desvario que reina no País ganha força quando na parte final de um processo judicial um promotor decide mudar a qualificação de um suposto crime. O ucho.info faz referência à decisão utópica e descabida do procurador da República Rodrigo De Grandis, que à Justiça Federal solicitou que o crime de homicídio de que são acusados Denise Abreu e Marco Aurélio dos Santos de Miranda deixe a classificação de culposo, quando não há a intenção de matar, passando para doloso, quando há a intenção de matar.

Jamais o País viu um absurdo jurídico tão monumental, mas De Grandis acredita que essa mudança é absolutamente normal e encontra embasamento na lógica do Direito. Acusado de ter sido negligente ao não dar a devida importância a um pedido da Justiça suíça, que buscava informações sobre o cartel metroferroviário formado por empresas multinacionais em São Paulo, Rodrigo De Grandis, que ofereceu denúncias no caso do acidente com o avião da TAM, quer que Denise Abreu e Marco Aurélio de Miranda sejam condenados a 24 anos de prisão. Pelo menos é essa a pena a que serão condenados ambos os réus se a Justiça Federal seguir o entendimento do procurador da República.

Aparentemente em busca de holofote, como forma de compensar o escorregão no caso do cartel paulista de trens, De Grandis mostra que não deu a devida atenção ao resultado das investigações do maior acidente da aviação brasileira, que provocou a morte de 199 pessoas, em 17 de julho de 2007. Se alguma atenção foi dispensada ao relatório final das investigações, o procurador por certo não compreendeu o que foi apurado pelas autoridades policiais.

Então diretora jurídica da Agência Nacional de Aviação (Anac), Denise Abreu não tinha como prerrogativa do cargo decidir sobre questões técnicas em aeroportos do País. O máximo que lhe permitia, nesse caso, é exigir das autoridades do setor o cumprimento das regras e da legislação vigente. Alegar que Denise autorizou a liberação da inacabada e superfaturada pista do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, é algo tão viável quanto tocar harpa com luvas de boxe. Só mesmo um irresponsável é capaz de acreditar em algo semelhante.

No momento em que tenta reverter a classificação do crime de homicídio para doloso, Rodrigo De Grandis afirma nas entrelinhas que Denise Abreu e Marco Aurélio dos Santos de Miranda assumiram os respectivos cargos na condição de “serial killers”. Sabem os leitores que o ucho.info não faz jornalismo de encomenda, assim não tergiversa diante da verdade, mas pelo fato de ter acompanhado de perto e nos bastidores o caso do acidente com o Airbus da TAM cumpre o dever de defender a verdade a qualquer preço, mesmo que isso tenha consequências terceiras. O que não existe neste site é a complacência coma covardia de algumas autoridades, que como verdadeiros deuses saem apontando o indicador na direção de um e outro.

É no mínimo inconcebível que um procurador da República, de quem espera-se conhecimento jurídico e doses rasas de bom senso, tome uma atitude absurda como a divulgada pela imprensa na segunda-feira (7).

Como faz desde o início do caso, o ucho.info volta a afirmar que se culpados existem no trágico acidente aéreo, esses encontram-se no Palácio do Planalto. O Ministério Público Federal deveria ter arrumado coragem extra e ter arrolado como culpados o então presidente Luiz Inácio da Silva e a gerentona inoperante Dilma Rousseff, que à época chefiava a Casa Civil. A quem compete cuidar dos assuntos relacionados à aviação civil e tem sob sua tutela a Infraero. Ou seja, a denúncia de crime de homicídio doloso deveria ter sido direcionada a Lula e Dilma, que foram negligentes ao não darem a devida importância às questões do setor.

Na política inexistem coincidências e por isso o ucho.info alerta para um fato. A decisão de Rodrigo De Grandis foi tomada na última sexta-feira (4), um dia antes de o instituto Datafolha divulgar a mais recente pesquisa eleitoral, em que Denise Abreu aparece pela primeira vez como candidata à Presidência da República e com 1% de intenção de voto. O que para muitos pode parecer um mero e inexpressivo detalhe, o fato de Denise ter alcançado 1% de intenção de voto significa que a pré-candidata do PEN não apenas incomoda, mas assusta os palacianos.

Considerando-se o fato de que Denise Abreu é pré-candidata por uma legenda chamada de “nanica” e que ainda não apareceu na propaganda eleitoral, o índice de 1% de intenção de voto é mais representativo do que os 10% de Eduardo Campos, que até outro dia estava no noticiário como governador de Pernambuco. Como Denise Abreu sabe demais sobre os bastidores do Palácio do Planalto e pode provocar um estrago nada agradável, custa pouco atrapalhar sua pré-candidatura.

Resumindo, é difícil saber onde há maiores incitações ao pensamento: na decisão do procurador da República ou no resultado da última pesquisa eleitoral.