CPI da Petrobras precisa englobar a parceria de Leoni Ramos com Furnas em leilão de hidrelétrica

pedropaulo_leoniramos_01Curto-circuito à vista – No Senado Federal continua o cabo de guerra na órbita da CPI da Petrobras. Enquanto os partidos de oposição insistem na criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito específica para investigar a petroleira, o governo e a base aliada insistem em ampliar o espectro da das investigações. Os governistas defendem a inclusão, na CPI, de temas como o cartel de trens de São Paulo e o porto de Suape, em Pernambuco. O objetivo, covarde e bandoleiro, é atingir o PSDB, de Aécio Neves, e o PSB, de Eduardo Campos. Aécio e campos são candidatos à Presidência da República, contra enrolada Dilma Vana Rousseff. Fora isso, o PT quer complicar a vida de Geraldo Alckmin em São Paulo, como forma de dar fôlego extra à campanha de Alexandre Padilha, candidato do partido ao Palácio dos Bandeirantes.

O ucho.info entende que uma CPI deve ter fato determinado, o que não significa que os demais escândalos, além dos da Petrobras, não devam ser investigados. Os oposicionistas deveriam aceitar a proposta rasteira do governo, desde que foi possível inserir outros assuntos para serem investigados, como já noticiamos anteriormente.

Um tema que certamente tiraria o sono de mais da metade dos frequentadores do palácio do Planalto e de toda a cúpula petista atende pelo nome de Usina Três Irmãos, em São Paulo, que continua sob a tutela da CPFL, mas que recentemente foi alvo de um estranho leilão que acabou suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

O caso é complexo e a oposição ainda não deu a devida atenção ao imbrógio. No leilão de “Três Irmãos”, o único consórcio a apresentar lance foi o Novo oriente, formado por Furnas e um grupo de empresas que integram o Fundo Constantinopla. O controle do consórcio Novo Oriente é do Constantinopla, cuja composição foi mantida em segredo até mesmo depois do leilão realizado na BM&F Bovespa, em São Paulo.

No conturbado leilão, o tal fundo foi representado pela gestora Cypress, mas coube a Furnas informar ao mercado, por meio de nota, a identificação dos sócios no negócio: GPI Participações e Investimentos S.A., Goldenbank Participações S.A, Darjan Participações S.A. e Cialo Participações S.A., além da Cypress Associates Gestão e Participações Ltda.

Exceto a Cypress, todas as empresas que compõem o Fundo Constantinopla funcionam no mesmo endereço (Rua Padre João Manoel, 923, 11º andar – São Paulo), sendo que três delas (Darjan, Cialo e Goldenbank) foram criadas na mesma data, 31 de março de 2005, e têm como diretores-presidentes pessoas que são sócias na GPI.

O nó que a oposição ainda não identificou começa agora. Pedro Paulo Leoni Ramos, figura proeminente na corrupta “República de Alagoas”, como ficou conhecida a era Collor, aparece como diretor-presidente do Goldenbank. Um de seus sócios da GPI, Ricardo Kassardjian, comanda a Darjan. Outro sócio, João Mauro Boschiero, preside a Cialo.

Acontece que na edição do dia 7 de abril a revista Época traz reportagem em que afirma que Pedro Paulo Leoni Ramos e João Mauro Boschiero são pessoas que exercem grande influência na BR Distribuidora, onde até ser demitido trabalhava Nestor Cerveró, responsável pela feitura do relatório técnico que serviu de base para o Conselho de Administração da Petrobras autorizar, em 2006, a compra da obsoleta e superfaturada refinaria de Pasadena, no Texas.

É importante destacar, apenas para que os leitores recobrem a memória, que Pedro Paulo Leoni Ramos, conhecido nos subterrâneos do poder como “PP”, e João Mauro Boschiero não apenas integraram a equipe do então presidente Fernando Collor, mas atuaram como braços avançados no nada ortodoxo Paulo César Farias, o PC.

Durante a meteórica e conturbada era Collor, o “globetrotter” Boschiero presidiu a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), tendo contribuído sobremaneira para extirpar o Decreto-Lei nº 210, que regia a política do trigo, comercializado pelo Banco do Brasil. A dupla, PP e Boschiero, em diversas ocasiões tentou intimidar e aterrorizar empresários do setor de trigo, algumas vezes com um discurso estranho que em países sérios terminaria na delegacia mais próxima. Na ocasião, a comercialização de trigo, nacional ou importado, foi transferida do Banco do Brasil para a CONAB.

Ao longo da administração de João Mauro Boschiero, milhares de toneladas de trigo desapareceram dos armazéns da CONAB, sem qualquer explicação até a presente data. Boschiero também teve o nome envolvido no escândalo de importação de leite em pó, que na Europa era utilizado para consumo animal, mas no Brasil o produto foi entregue aos laticínios.

É no mínimo estranho o fato de Leoni Ramos e Boschiero, duas figuras controversas, se associarem a Furnas para arrematar em leilão a concessão de geração de energia da usina hidrelétrica de Três Irmãos, no interior de São Paulo. Comenta-se à boca pequena no universo empresarial paulista que Pedro Paulo Leoni Ramos tem fortes ligações com Franco Papini, cunhado do ainda ministro da Fazenda, Guido Mantega. Considerando que no mundo da política não há espaço para coincidências, é bom as autoridades abrirem os olhos, pois fumaça é sinal de fogo.

Na reportagem da revista Época, Leoni Ramos é mencionado como sendo um dos que depositaram polpudas quantias em dinheiro nas contas bancárias do doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal na esteira da Operação Lava-Jato.

A mesma matéria menciona a empresa Glencore Trading como uma das maiores vendedoras de derivados de petróleo do planeta, sendo que grande parte dessa operação se refere ao fornecimento de petróleo e derivados para a Petrobras.

A Glencore mantinha, até recentemente, seu diretor jurídico (Manoel Luis) como diretor jurídico da CODESP, empresa do governo federal que administra o Porto de Santos. Manoel Luis foi exonerado do cargo não vácuo da Operação Porto Seguro, sob a acusação de envolvimento com o ex-senador Gilberto Miranda, que se valeu da quadrilha liderada por Rosemary Noronha, a namorada de Lula, para conseguir avançar em seu projeto de construção de um novo porto na Ilha de Bagres, no litoral paulista.

Como podem dois personagens controversos da República de Alagoas estabelecer uma parceria com Furnas com o objetivo de participar de um leilão promovido pelo desgoverno petista de Dilma Rousseff? Como pode o diretor jurídico de uma das maiores operadoras do Porto de Santos tratar dos assuntos jurídicos da CODESP? Nesse angu tem caroço de sobra e se continuarem mexendo pode aparecer um novo escândalo: o “Mensalinho do Porto de Santos”.