A dança do eu te amo

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09Eleição é um tempo lindo, uma celebração de bons propósitos, a primavera das grandes amizades. Aécio e Serra se detestam; um jamais tomará cafezinho oferecido pelo outro sem ter um bom provador por perto. Mas o Sol brilha, brilham as estrelas, brilham os olhos de um ao ver que é desejável aliar-se ao outro.

Lula já criticou Dilma para amigos comuns, Dilma já se sentiu abandonada pelo protetor e patriarca. Lula sabe que Dilma, que antes da eleição já ignorou conselhos como o de livrar-se de Mantega, poderá, num segundo mandato, já que não terá como reeleger-se, esquecer os amigos do passado e eventualmente sugerir que ele, quando quiser encontrar-se com ela, marque uma audiência. Mas a eleição vem aí, um levanta o braço da outra, a outra se diz petista desde criancinha – o que será verdade, se considerarmos que só nasceu após esquecer o PDT.

Alckmin e Kassab, então? Kassab derrotou Alckmin na eleição para prefeito de São Paulo, e contou com o apoio de gente importante do partido de Alckmin – inclusive o governador José Serra. Alckmin acabou sendo sucessor de Serra no Governo e dedicou seu tempo a esquartejar Kassab, deixando-o quase sem saída. Quase: Kassab, adversário histórico do PT, virou amigo dos petistas desde criancinha e montou um partido forte, aliado a Dilma. Aliado, mas não tanto: não o suficiente para deixar de hostilizar o PT paulista. E, talvez tocado pela bondade que preenche o coração de políticos em época de eleição, para voltar a arrulhar com Alckmin (que, por sua vez, voltou a ser amigo de Serra).

A vida é bela!

Amores para sempre

No encontro do PT, em que Lula garantiu apoio a Dilma na luta pela reeleição, ficou claro que todos se amam. Dilma ama Lula que ama Tarso que ama Dirceu que ama Delúbio que ama Genoíno que ama Gleisi que ama Vargas que não ama ninguém. Drummond escreveu um belo poema sobre a teia de aranha dos amores e desamores, e o título que escolheu não poderia ser mais perfeito.

O amor é cego

O caso mais interessante de gente que tenta fazer o impossível para preencher expectativas equivocadas é o do ministro Gilberto Carvalho. Gilbertinho é homem de bastidores, discreto, com bom trânsito em importantes setores religiosos, capaz de montar articulações sem sair de sua escrivaninha.

Aí o colocaram na linha de frente, nos palanques, exposto a vaias – vaias que vieram, claro. Não podia dar certo. É como escalar Felipão, técnico vitorioso, para jogar no gol.

O amor também é surdo

No Encontro Nacional do PT, o ex-presidente Lula foi claríssimo. Muita gente fingiu que não ouviu, outros tantos deixaram as palavras do Grande Líder entrar por um ouvido e sair pelo outro sem passar pelo cérebro. Os meios de comunicação registraram as frases de Lula mas sem dar-lhes destaque. Eis o que disse:

“Nós criamos um partido político foi para ser diferente de tudo o que existia quando nós criamos esse partido. Esse partido não nasceu para fazer tudo o que os outros fazem. Esse partido nasceu [há 35 anos] para provar que é possível fazer política de forma mais digna, fazer política com P maiúsculo”.

“Precisamos então recuperar o orgulho que foi a razão da existência desse partido em momentos muito difíceis, porque a gente às vezes não tinha panfleto para divulgar uma campanha. Hoje parece que o dinheiro resolve tudo.Os candidatos a deputado não têm mais cabo eleitoral gratuito. É tudo uma máquina de fazer dinheiro, que está fazendo o partido ser um partido convencional”.

O tempo passa. Há 35 anos, Lula era aliado de FHC e adversário de Collor.

O fim do amor

O deputado mineiro Bernardo Santana, líder da bancada federal do PR, aquele que em seu gabinete trocou o retrato de Dilma pelo de Lula, fala com certeza, como quem tem informações de cocheira, sobre Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato da Polícia Federal: “O Youssef vai abrir o jogo. Dizem que vai entregar cerca de 45 parlamentares, entre deputados federais e senadores.”

Adeus, amor

Foi bom enquanto durou. Agora, a Petrobras está se livrando de 8.300 funcionários, graças ao Plano de Demissão Voluntária que implantou. São 12,4% dos empregados, parte de uma equipe de grande competência, que ajudou a transformar a Petrobras numa das maiores empresas do mundo. O objetivo do PDV é “adequar o efetivo da companhia aos desafios do Plano de Negócios e Gestão 2014-2018”. Em nota, a Petrobras diz que as dispensas ocorrerão por etapas, de modo a garantir “a necessária retenção do conhecimento, indispensável ao crescimento e à continuidade operacional, segura e sustentável, da companhia”. Com o PDV, a Petrobras espera reduzir suas despesas em R$ 18 bilhões até 2018.

O amor no papel

Um grupo de executivos engravatados, narra o excelente colunista Aziz Ahmed, de O Povo, do Rio, se reúne diariamente na Praça Quinze, perto do prédio da Bolsa de Valores fluminense. Como o fazem em seus escritórios, cuidam de câmbio: reúnem-se para trocar figurinhas da Copa.

Só eles? Não: a presidente Dilma Rousseff está trabalhando no seu álbum em parceria com o neto Gabriel.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.