Calar é ruim, falar é pior

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_07O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, do PCdoB, reagiu do seu jeito às reportagens da imprensa britânica sobre a insegurança pública no Brasil: disse que visitar nosso país é menos perigoso do que foi, para os ingleses, a guerra do Iraque. Que beleza! Os britânicos devem estar felizes de gastar seu dinheiro para passear num país menos perigoso do que uma guerra com o Exército mais poderoso do Oriente Médio. Já dizia minha sábia vovó Maria que o silêncio é de ouro.

Mas nem sempre. Falta um mês para o início da Copa, um grande evento turístico internacional. O caro leitor sabe quem é o ministro do Turismo? Soube de alguma iniciativa de Sua Excelência para atrair mais turistas e convencê-los a ficar no Brasil o maior tempo possível, passeando, divertindo-se e comprando?

O ministro não está sozinho na cruzada para provar que o silêncio nem sempre é de ouro. O jogo inaugural da Copa, maior torneio esportivo do mundo, deve ocorrer no estádio do Corinthians, em São Paulo. O caro leitor sabe quem é o secretário de Esportes do Estado? E o secretário municipal de Esportes?

Talvez seja melhor que não se manifestem nem entrem em ação. Pois a Prefeitura paulistana entrou em ação: o estádio do Corinthians é chamado, na programação oficial da FIFA e nos ingressos da partida inaugural da Copa, de Arena de São Paulo. A Prefeitura colocou placas de trânsito bilíngues com os dizeres “Estádio Itaquera” e “Itaquera Stadium”. O turista que procura a Arena de São Paulo, ou The San Paulo Arena, talvez tenha alguma dificuldade para orientar-se.

Prepare seu coração…

O caro leitor queria uma CPI? Pois tem três: duas sobre a Petrobras (uma mista, de deputados e senadores, outra só de senadores), uma (mista) sobre o Metrô de São Paulo. Traduzindo: desse mato não sai coelho. O deputado Mendonça Filho, DEM de Pernambuco, exigiu que o presidente do Senado, Renan Calheiros, PMDB de Alagoas, levasse a CPI a sério. Ficou sozinho: Aécio Neves estava lá, mantendo-se em ruidoso silêncio; havia muitos socialistas de Eduardo Campos, competindo para ver quem ficava mais quieto.

E as CPIs? Bem, um dia desses, quem sabe. A Copa está chegando, depois vem o recesso, depois a campanha eleitoral – deixa o tempo rolar, quem é que quer saber de investigar alguma coisa?

…pras coisas que eu vou contar

O portal Congresso em Foco (http://congressoemfoco.uol.com.br/) levantou a ficha dos parlamentares da CPI da Petrobras no Senado. Dos dez até agora indicados, cinco estão sendo investigados pelo Supremo (ou enfrentam processo). Gim Argello (PTB-Brasília) responde a seis inquéritos e já tem condenação em segunda instância. Valdir Raupp (PMDB-Roraima) tem quatro ações penais. Vital do Rego (PMDB-Paraíba) responde a um inquérito. Acir Gurgacz (PDT-Roraima), a dois inquéritos. E Ciro Nogueira (PP-Piauí), a um.

Mas o mundo foi rodando

O Ministério Público estadual de São Paulo e a Procuradoria da República pediram à Suíça a quebra do sigilo bancário e o bloqueio das contas de 20 investigados no caso do cartel do Metrô e dos trens urbanos de São Paulo. E como pretende defender-se o PSDB, em cuja dinastia, iniciada em 1994 por Mário Covas, ocorreram os fatos a ser investigados?

Simples: os senadores Aécio Neves e Aloysio Nunes Ferreira levantam casos de cartel em obras do Governo Federal. Provar que nada houve? Não: mostrar que os outros fazem as mesmas coisas.

Mas com gente é diferente

Aécio disse que as investigações vieram com muitos anos de atraso, mas vão derivar também para outros cartéis. Mais um que abandona um companheiro de partido, o homem-forte do Governo Covas, Robson Marinho, que até agora sofre sozinho a acusação de ter sido beneficiado pelo cartel. Aécio não mencionou a necessidade de investigar o Secretariado de Covas, mais os subordinados cuja tarefa era verificar a lisura dos contratos. É impossível que um só secretário, por mais poderoso que fosse, cuidasse sozinho da empreitada.

Esse tipo de coisa ou se divide, contentando todos os corruptos, ou não dura os 20 anos que durou.

Estranho no ninho

O MTST, Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, invadiu uma gleba próxima ao estádio do Corinthians, onde começará a Copa do Mundo, e foi em seguida muito bem recebido pela presidente Dilma. Na foto, próximo à presidente, o líder supremo do MTST: Guilherme Boulos. Sem-teto é o que ele não é. É formado em Filosofia, filho de um médico de excelente reputação, professor de Medicina da Universidade de São Paulo. Veste-se informalmente, mas com apuro. Há mais de dez anos este rapaz de classe média alta se dedica a invadir propriedades dos outros.

Nada a estranhar: Bruno Maranhão, há pouco falecido, que liderava o Movimento de Libertação dos Sem-Terra, dirigente do PT e amigo de Lula, morava num palacete do Recife e tinha um bom apartamento em São Paulo, num bairro caro, Higienópolis. Maranhão também invadia a propriedade dos outros. E liderou a invasão ao Congresso, com quebra-quebra e 41 feridos.

Macacos, não

Não, não somos todos macacos. Não com a banana nesse preço.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.