O que aprendi com Barbosa

(*) Lígia Fleury –

ligia_fleury_04Era uma vez um país onde a população dormiu por muitos e muitos anos, após um exaustivo movimento de Diretas Já e dos Caras Pintadas! Tempos marcados por personagens incógnitos e também reais, com suas caras pintadas de verde e amarelo, cores que representavam um país que parecia, naquele tempo, determinado a conquistar o ouro e a preservar suas matas, representados por suas cores na Bandeira Nacional.

O povo queria votar para eleger seu representante maior. Era o direito ao voto que o cidadão exigia, era o início de um tempo denominado democracia. Nossa! Era um status e tanto. Imagine o leitor que as pessoas puderam falar o que pensavam, puderam escolher seu presidente de acordo com as propostas partidárias, apresentadas por meio de campanhas. Mas nem tudo foi um sucesso. Acredita que o mocinho virou bandido? Pois é! Confiscou o dinheiro do povo que o elegeu. Traidor! De novo, a população se uniu, pintou os rostos e, com a mesma força que o elegeu, o destituiu. Nossa! Um status e tanto! O povo, unido, tirou do poder quem do povo tirava suas economias. Vitória! Vitória?

De repente, surge um ser. Extraterrestre? Coelho da cartola? Bicho papão? Ladrão? Do povo para o povo. Do igual para o igual. Do analfabeto para o analfabeto. Povo sofrido, aceitou a mágica sem pensar duas vezes. Nossa! Quantas conquistas! Bolsas de todos os jeitos e tamanhos para o povo! Viva! Não precisa trabalhar, não precisa nem estudar. Decadência do ensino…

O povo aprendeu que qualquer um pode chegar ao poder. Desqualificaram o ensino, o saber falar, escrever. Conhecimento? Ah! Esse se confunde com informação o tempo todo. São tempos de esconder a verdade, de utilizar apenas um significado para palavras que por vezes têm mais de um. Exemplo? Quadrilha! Podem abolir do dicionário todas as definições que se diferem da dança típica das festas juninas. Ninguém do Planalto, no Castelo de sua Alteza, viu, ouviu ou conhece alguém que roubou o povo.

A palavra de ordem passou a ser “desconheço”, como sinônimo de “não sabia”. Mas foi para isso mesmo que o povo saiu às ruas naquela época? Lembro-me bem da força dos jovens por um país mais justo, honesto e transparente. O caldo entornou? O tiro saiu pela culatra?

O tempo passou e a população percebeu que o que se mostrava como conquistas eram, na verdade, mentiras. Transporte público ineficiente. Atendimento à saúde só para o Castelo de sua Alteza. Educação nem pensar… o que fazer?

Pintar as caras novamente? Protestar? Ora, sem escola, sem educação, os que saem às ruas não conhecem o verdadeiro sentido de um protesto. Não pintam os rostos; se escondem atrás de máscaras. Não protestam; destroem patrimônios públicos e privados. Não conhecem democracia; são vítimas de uma ditadura fantasiada de democracia.

E, mais do que de repente, surge o Salvador da Pátria. É ele! Sabedor de si, pela busca da verdade e da transparência. Todo Conto de Fadas tem seu príncipe e esse não ficaria sem.

Ele lutou, gritou, provou verdades pautadas na lei. Penalizou criminosos, colocou atrás das grades parte do Reino de sua Alteza. Ah! Esse enfrentou o mal, matou inúmeros leões por dia. Um herói? Não! Apenas um cidadão do bem, que fez cumprir a lei de um país sem direção. Esse mocinho não foi além do que a Constituição determina e ficou conhecido como herói. Um herói que chegou para salvar o povo do Tsunami Corrupção. Mas do jeito que chegou, saiu. Pela porta da frente. Será? A verdade do Castelo será conhecida? Esse Conto de Fadas virou também um mistério? O que aprendi com ele?

Que Contos de Fadas não são mesmo reais, mas servem para as crianças brincarem com o imaginário. Aprendi que Contos viram Fábulas! Qual a mensagem? O poder corrompe e incorruptíveis não têm espaço. É muita pressão! Uma fábula com duas mensagens. A outra? No Brasil real, quem age com a verdade e com a lei vira notícia e é… ameaçado? Mistério no Reino de sua Alteza! Não deveria ser o contrário? Esse castelo era de areia? Tsunami o levou…

Era uma vez um país que vivia de bola e de samba.

(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.