PT pune deputado que se reuniu com integrantes do PCC, mas ignora denúncias semelhantes

pt_03Dupla face – Exigir coerência da classe política nacional é tarefa hercúlea. A impossibilidade fica patente quando na mira está o PT, partido que ao longo dos últimos onze anos provou sua inconteste vocação para o banditismo político, não importando a seara de atuação.

Preocupado com a reação da sociedade brasileira nas urnas de outubro próximo, o PT decidiu suspender, por dois meses, a filiação do deputado estadual Luiz Moura (SP), acusado de ter participado de reunião em cooperativa de transportes da cidade de São Paulo que contou com a presença de nove integrantes do Primeiro Comando da Capital, o PCC, facção criminosa que domina o sistema penitenciário paulista e de outros estados da federação.

Não há como negar que o tal encontro foi no mínimo estranho, mas é precipitada a decisão da cúpula do PT paulista de punir por antecipação o parlamentar. Não se trata de defender o deputado petista, mas de a ele conferir o que prevê a Constituição Federal como um dos pilares da democracia: o amplo direito de defesa. O PT, que sempre defendeu essa prerrogativa democrática e constitucional, agora rasga o discurso apenas para passar à opinião pública uma imagem que não coaduna com a realidade que reina nas coxias da legenda. A de que os transgressores são ejetados do partido.

A incoerência do PT está na forma dual em que escândalos e acusações são interpretados pela direção do partido. Padrinho político de Luiz Moura, o secretário de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, também mantém boas relações com integrantes da facção criminosa. Quando ocupava a mesma pasta na administração da “companheira” Marta Suplicy, Tatto foi acusado de beneficiar perueiros ligados ao PCC. E na ocasião Jilmar Tatto sequer foi incomodado pela cúpula petista. Tanto é assim, que o prefeito Fernando Haddad convidou-o para assumir a pasta novamente.

Se a régua de punição do PT tem eventuais ligações com o crime organizado como baliza, que o partido trate de aplicar a mesma regra para José Dirceu de Oliveira e Silva, que atualmente passa uma temporada forçada no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, por conta da condenação imposta pelo Supremo Tribunal Federal no rastro do julgamento da Ação Penal 470 (Mensalão do PT). Em 2006, semanas antes da onda de ataques criminosos que paralisaram a maior cidade brasileira, São Paulo, Dirceu viajou para La Paz, onde se reuniu com o boliviano Gabriel Herbas Camacho, deputado federal ligado ao presidente e líder cocalero Evo Morales. Para quem não sabe, Gabriel é irmão de Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, líder maior do PCC.

Mas a história da simpatia petista pelo PCC não para por aí. Em 2006, dias antes das eleições daquele ano, a polícia paulista flagrou conversas telefônicas entre lideranças do PCC. Em um dos telefonemas, gravados com autorização da Justiça, integrantes da facção criminosa combinavam que os familiares estavam dispensados das visitas em dado final de semana para participar da eleição e votar obrigatoriamente em José Genoino. Ora, se a regra vale para Luiz Moura, também deveria valer para Dirceu e Genoino. Ou será que no PT as punições dependem da patente de cada “companheiro”?

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