Copa: entre os discursos bizarros de Lula e as explicações esdrúxulas de Felipão

(*) Ucho Haddad –

ucho_20Não sei o que é pior: ouvir o Lula falando que a Inglaterra fracassou na Copa porque não sabe jogar em bons estádios ou enfrentar o Felipão tentando explicar a evolução (sic) da seleção brasileira. Uma vitória por quatro gols a um sobre a fraca seleção de Camarões foi o bastante para ressuscitar o ufanismo boquirroto da população de um país mergulhado em grave crise

A seleção ainda corria pelo gramado do Estádio Mané Garrincha e já era possível ouvir por toda parte gritos, xingamentos descabidos e o som das sul-africanas vuvuzelas. Isso porque boa parte dos brasileiros decidiu comemorar de forma efusiva um feito semelhante a chutar cachorro morto.

Lobista da empreiteira que mais construiu estádios para a desnecessária Copa do Mundo, o malandro Lula só poderia surgir em cena com alguma declaração absurda. Disse o sujeito que acredita ser um misto de reencarnação de Messias com elixir de Aladim: “O que o país tinha para mostrar já mostrou. Os estádios estão todos inaugurados, da melhor qualidade, para qualquer inglês morrer de inveja”.

Afetado desde a infância pela idiotia, Lula sequer tem noção das palavras que pronuncia. Desprovido de raciocínio lógico, o ex-presidente faz dos discursos desconexos a arma para persuadir a fatia ignara da população, que, diga-se de passagem, não é pequena.

Fosse pouco, Lula não poupou os brasileiros e foi além: “É a primeira vez que uma equipe de futebol perde por excesso de qualidade dos nossos estádios. A Inglaterra não estava acostumada a jogar em um campo da qualidade dos que temos aqui”. Se falar besteira fosse crime no Brasil, Lula já teria sido condenado à pena de morte.

Primeiro foi a tal da “elite branca”, culpada pelos xingamentos dirigidos à “companheira” Dilma no Itaquerão, durante a cerimônia de abertura da Copa. Em seguida surgiu a suposta inveja dos ingleses em relação aos estádios tupiniquins construídos com o suado dinheiro do contribuinte. Que Lula é um idiota todos sabem, mas não se pode desprezar a inteligência do responsável pelo período mais corrupto da história brasileira. O povo, como a folclórica mulher de malandro, apanha e ainda dá risada. É mais um momento hiena que o apedeuta proporciona aos brasileiros.

Como se não bastassem as besteiras balbuciadas por Lula, que continua acreditando ser o dono do Brasil, o técnico Luiz Felipe Scolari cujo palavrório também frequenta a seara do absurdo, abusou da paciência dos cidadãos de bom senso. A seleção brasileira passou apertos diante dos camaroneses, mas Felipão disse ao final do jogo que a equipe está melhorando. Um dos que marcaram presença nas insanas desculpas do treinador verde-louro foi o atacante Fred, que ainda não mostrou a que veio.

Disse o “magistral” Felipão que o centroavante está evoluindo à medida que a seleção se aproxima do equilíbrio. É importante que alguém avise ao treinador que a Copa termina em 13 de julho e que até lá surgirão muitas pedras no caminho. E que não há muito tempo para experiências e balões de ensaio. Fred pode até marcar mais alguns gols até o final do mundial, mas sua convocação permanece no campo do inexplicável.

Em busca de um gordo e derradeiro contrato após a Copa, Fred é o jogador errado na seleção errada. Isso porque um centroavante clássico, que vive de sobras, não tem futuro em um time de incompetentes “fominhas” que não sabem dividir a bola porque precisam justificar aos seus clubes os altos salários que ganham. O pior é que esses espertalhões não estão alcançando seus objetivos. Por isso continuo torcendo para que a seleção tropece o quanto antes.

Com fama de “retranqueiro”, o que explica a sua burra e costumeira complacência com vitórias anoréxicas de apenas um gol, Felipão consegue dizer que a defesa da seleção brasileira é espetacular. Ou tenho ligado a televisão no canal errado ou desaprendi o que é bom futebol. Só mesmo um louco é capaz de tecer elogios a Daniel Alves, Thiago Silva, Oscar, Marcelo e David Luiz.

Quando penso que David Luiz, o Sansão de araque do onze nacional, foi vendido por R$ 186 milhões, fico imaginando a extensão do arrependimento de quem pagou a essa fortuna por um zagueiro que tem medo da bola chutada por um adversário ou, então, entrega a redonda para o oponente como se fosse a Madre Teresa de Calcutá em seus momentos de caridade.

Thiago Silva anda tão sumido que já há quem o chame de Wally da Copa do Mundo. Até porque, todos estão a procurá-lo. Oscar, que aterrissou no Brasil como a tábua de salvação, erra cem jogadas e acerta uma, mas merece a confiança de Felipão. O cachorro do meu vizinho faz muito mais com a bola do que esse gênio chamado Oscar. O lateral Marcelo dispensa apresentação, uma vez que seu único grande feito na Copa foi o gol contra no jogo de abertura. Daniel Alves ouviu dizer que cabelo pintado em tons prata ajuda a ganhar jogo. Tem levado uma bola nas costas atrás da outra, mas ele continua achando que é a versão moderna e baiana do Professor Smith, da série “Perdidos no Espaço”.

O problema é que a fala utópica de Lula e as explicações insuportáveis de Felipão começam a anestesiar o pensamento dos brasileiros, que já não se recordam que a malandragem palaciana sangrou os cofres públicos em nada menos do que R$ 35 bilhões para fazer um evento futebolístico desnecessário, enquanto compatriotas morrem nas filas dos hospitais, para não me estender em tantos descalabros que se esparramam pelo País. Esses ufanistas não se lembram da roubalheira de que foram vítimas e lotam estádios que custaram verdadeiras fortunas, quando na verdade deveriam protagonizar um blecaute de torcedores.

Teve truque até mesmo na fabricação das imprestáveis caxirolas, invenção do tresloucado e esperto Carlinhos Brown, mas os brasileiros estão a comemorar sem que exista motivo para isso. Os descalabros que marcaram a preparação da Copa do Mundo foram tantos, que a essa altura o Brasil deveria ser um enorme velório. Mas não, aqui é a terra da alegria, da boa vida, do alto astral, do futebol maroto, dos ladrões com mandato, dos idiotas que viram doutores honoris causa.

Assim caminha o País, para a alegria dos marginais que se instalaram no poder. Eu continuo torcendo pelo Brasil e, como sempre, contra a seleção.

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.

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