A hora do tiro ao alvo

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13As pesquisas que mostram o crescimento de Marina Silva liquidaram de vez a gentileza dos adversários. Agora, para Dilma e Aécio, é hora do jogo bruto. No segundo turno há duas vagas, disputadas por três candidatos. E dois deles acham que Marina é que deve sobrar.

Aécio até prefere livrar-se de Dilma, mas sabe que esta missão é quase impossível. Dilma acha que, se Marina for ao segundo turno contra ela, terá o apoio de Aécio; e acha também que, se Aécio for ao segundo turno, não terá certeza do apoio de Marina. Em 2010, Marina, com quase 20 milhões de votos, preferiu a neutralidade e foi para casa, largando Serra sozinho. Por que não repetir a dose?

Só resta saber quem será o primeiro a atirar em Marina. Dilma a detesta, mas pode esperar que ela e Aécio se desgastem. Aécio é mais conciliador e gostaria de aproveitar a briga sem entrar nela. Mas, de qualquer modo, o marido de Dilma, até agora um discreto militante muito próximo do PT, será chamado ao ringue. A discussão em torno do dono do jatinho que caiu, dos recursos usados para comprá-lo, da maneira como foi cedido ao candidato, já é o início da campanha para desconstruir também Eduardo Campos. Serão acusações verdadeiras?

Não importa: como dizia o estadista alemão Otto von Bismarck, nunca se mente tanto como depois da pescaria, durante a guerra e antes da eleição. Se a verdade estiver por perto, que venha armada. E se proteja, porque ninguém gosta dela.

O profeta

Marina cresce nas pesquisas, e hoje será entrevistada no Jornal Nacional; o Governo Dilma ganha pontos na avaliação do eleitorado; Aécio, embora herdando boa parte da estrutura política de Campos, que não aceita Marina, corre o risco de ficar fora do segundo turno. Mesmo assim, o senador Romero Jucá, que integrou todos os Governos anteriores, declara voto em Aécio, embora desobedecendo à orientação de seu partido, o PMDB.

Um leitor assíduo desta coluna, que acompanha com sagacidade a política brasileira, chama Jucá de “nosso Frank Underwood” (de House of Cards) e acredita que ele “deve saber algo de que nós ainda não sabemos”. É uma boa observação – se bem que, se seu candidato perder, Jucá terá aderido ao vencedor antes que tenhamos tempo de dizer “É Tóis”.

É o que parece

O PSL deixa a coligação de Marina Silva. Vale pela formalização: enquanto estava na aliança, 21 dos diretórios regionais do partido apoiavam Aécio, e quatro Dilma. Eduardo Campos tinha dois.

E daí? Daí, nada.

Euforia virtual

O deputado pastor Marcos Feliciano, do PSC paulista, é campeão do Facebook, com 1 milhão e 340 mil curtidas – mais que Marina, mais que Aécio, mais que Dilma. Feliciano é o preferido de religiosos conservadores, em 2010 foi o segundo evangélico mais votado, deve reeleger-se bem. Mas que não se iluda com curtidas.

Ter amigos no Facebook é como ficar rico no Banco Imobiliário.

Muro lotado

Os tucanos têm fama (justificada) de ficar em cima do muro. Mas não lhes falta companhia. Neste domingo, fez um ano que o senador boliviano Roger Pinto, que o Governo brasileiro tinha deixado em banho-maria, fugiu de seu sombrio asilo na nossa Embaixada em La Paz e entrou no Brasil. Até hoje o Governo petista não definiu sua situação, deixando-o num limbo jurídico. Retirar o asilo ao perseguido político é inimaginável; conceder-lhe permanência no Brasil desagradaria o presidente boliviano Evo Morales, tão queridinho de Dilma que pôde até mandar suas tropas ocupar uma refinaria da Petrobras sem ouvir sequer um pio de reclamação. A opção do Governo petista é ficar em cima do muro.

Primeiro-amigo

A boa-vontade do Governo brasileiro para com Evo Morales vai além de tolerar a ocupação militar da Petrobras na Bolívia. E agora vai criar problemas para a presidente da Petrobras, Graça Foster: o senador Ricardo Ferraço, do PMDB capixaba, a convidou para explicar por que o Brasil concordou em pagar mais pelo mesmo gás boliviano – quase meio bilhão de dólares – sob a alegação de que seria “um gás rico”, “com componentes nobres”.

Mesmo que o tal gás rico tenha os tais componentes nobres, para que o Brasil precisa dele, se não tem nenhuma usina capaz de separá-los e queima tudo junto, como se gás comum fosse?

Caetano disse: é sim (ou não)

As investigações sobre a Petrobras podem pegar fogo nesta semana, se o ex-diretor Paulo Roberto Costa fizer mesmo o acordo de delação premiada (e podem incendiar o ambiente político inteiro se Alberto Youssef também resolver contar o que sabe). Mas há outra possibilidade: um advogado de prestígio, Nélio Machado, que representa Paulo Roberto Costa, pediu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região que afaste do caso o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. Segundo Machado, nenhum dos fatos atribuídos a seu cliente aconteceu no Paraná – portanto, Moro não poderia acompanhar o caso. A troca de juiz faria tudo recomeçar.

E, até lá, a eleição teria passado, os eleitos estariam comemorando, chegariam as festas de fim de ano. E 2015 será outro ano.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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