Defesa da Airbus sobre acidente em Congonhas é confusa, mas confirma a inocência de Denise Abreu

tam_12Querosene na fogueira – Ocorrido em 17 de julho de 2007 e considerado a maior tragédia da aviação brasileira, o acidente com o Airbus 320 da TAM, no aeroporto de Congonhas, que deixou 199 mortos, voltou a fervilhar no noticiário nacional nesta segunda-feira (1). Isso porque a Airbus se manifestou no processo a que responde na Justiça brasileira e acusou a Infraero, a TAM e os pilotos pelo acidente.

Ao se defender no processo que lhe move a empresa Itaú Seguros, responsável pelo seguro da TAM e incumbida de pagar as indenizações decorrentes do acidente, a Airbus afirmou que o comandante Kleyber Aguiar Lima e o copiloto Henrique Stefanini Di Sacco, mortos na tragédia, foram os principais culpados. A TAM e a Infraero, responsável pela administração do aeroporto de Congonhas, contribuíram para a tragédia.

Em mais um capítulo nebuloso do caso, a Airbus tenta escapar da responsabilidade e também da possibilidade de ter de ressarcir a Itaú Seguros em R$ 350 milhões, valor inicial da ação judicial que ainda não tem sentença.

Enquanto a Airbus assume o comando desse jogo de “empurra”, fica claro que o ucho.info não errou ao afirmar, logo de início, que Denise Abreu, então diretora jurídica da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), jamais teve culpa pelo acidente aéreo ocorrido no aeroporto paulistano. O Ministério Público Federal errou de maneira grosseira ao creditar a então diretora da ANAC a liberação da pista do aeroporto de Congonhas, que é de atribuição exclusiva da Infraero, órgão que sempre esteve vinculado à Casa Civil da Presidência da República. Isso significa que Dilma Rousseff deveria estar sendo processada no lugar de Denise Abreu.

A pista do aeroporto de Congonhas passara por reforma antes do acidente e dependia de liberação, concedida pela Infraero. Portanto, a culpa pelo acidente é do governo federal, já que a Infraero liberou uma pista que não tinha condições de receber aeronaves do porte do A320 em dias chuvosos. Tanto é assim, que dias antes um avião da companhia Pantanal derrapou em Congonhas e acabou parando no corredor de grama que separam as pistas.

Estratégia da defesa

A Airbus, possivelmente orientada por seus advogados, decidiu colocar no rol dos culpados a TAM, sua maior cliente na América Latina, sob a alegação de “ambiente permissivo e desorganizado na companhia aérea”. Se de fato essa é a impressão que a Airbus tem da TAM, a fabricante de aeronaves não deveria correr o risco de fornecer equipamentos à empresa, já que isso coloca em risco sua reputação.

Trata-se de um jogo sórdido de bastidores, com o fim específico de eventualmente não ser condenada em um processo que ainda terá novos capítulos. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa), vinculado à Aeronáutica, investigou o trágico acidente e não encontrou provas que pudessem responsabilizar os pilotos. O máximo que o Cenipa fez foi elencar possibilidades: erro dos pilotos ou do projeto da aeronave, que não alertou a tripulação sobre o problema da assimetria dos manetes; A Polícia Federal, que também investigou o caso, chegou a conclusão idêntica.

Absurdo consentido

Depoimentos de pilotos afirmam que em Congonhas todas as aeronaves derrapam, mais ou menos dependendo das condições do tempo. Entre as muitas causas do acidente está a construção de um bordel vertical a poucos metros da cabeceira da pista do aeroporto, o que faz com que em termos práticos a pista de pouso fica mais curta, uma vez que o procedimento de aproximação da aeronave fica comprometido. A obra foi autorizada pela prefeitura de São Paulo e recebeu o aval da Aeronáutica. Em suma, um absurdo consentido.

Logo após o acidente com o Airbus 320, o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, apareceu em cena para gazetear a falsa informação de que o governo federal se debruçaria sobre o projeto de construção de um novo aeroporto em São Paulo, com o objetivo de diminuir drasticamente o número de pousos e decolagens em Congonhas. Conversa fiada da pior qualidade, pois nem mesmo a distância entre as poltronas das aeronaves, Jobim conseguiu aumentar como havia prometido na ocasião.

A irresponsabilidade do governo é tamanha, que Congonhas, de acordo com anúncio oficial, terá o número de voos aumentado em breve, o que mostra o descaso das autoridades em relação ao aeroporto que é um porta-aviões estacionado fincado em um mar de carros e edifícios. Quem conhece as redondezas de Congonhas sabe o quão perigoso é aterrissar no mais movimentado aeroporto brasileiro.

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