Tem jeito, sim. Mexa-se!

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Há pouco mais de 40 anos, uma ligação interurbana de Porto Alegre a São Paulo só era feita depois de 20, 30 horas de espera. A carne nos açougues era embrulhada em jornal; e, se o peso fosse inferior ao pedido, era completado com um pedaço de carne inferior, o contrapeso, ao mesmo preço da carne mais cara. Quem tinha um Fusquinha usado estava muito bem de vida. Mais recentemente, um computador produzido por estatal nacional tinha sistema operacional pirateado (e mal) do MS-DOS; e supostamente se baseava num modelo inglês da Ferranti, concebido para ajustar a pontaria dos canhões navais. Supostamente – porque o equipamento só tinha de nacional a plaquinha que cobria a marca britânica.

Melhorou muito; e certas coisas que nos parecem óbvias, como comprar carne, recebê-la numa embalagem higiênica e pagar só o que for recebido são bem recentes. As coisas andam devagar, mas andam. Ligação interurbana é instantânea, os celulares não são grande coisa mas existem e funcionam, o cartão de crédito se popularizou, já se admite que o corno não tem direito de matar a esposa, o cidadão consegue votar em quem quer, não em quem o patrão manda. Importante: nunca dantes na história desse país houve um período tão longo de democracia, em que pela sétima vez há sucessão presidencial pacífica, pelo voto.

Esse país não tem jeito? Tem – embora a segurança pública tenha piorado, embora a educação pública tenha decaído. Questão de tempo; e de boas escolhas.

Dependem de sua boa escolha, hoje, os próximos passos. Capriche no voto.

Tem jeito, não 1

Antônio Argeu Nunes Vieira, PMDB, ex-prefeito de Boa Viagem, no Ceará, reuniu-se com o governador cearense Cid Gomes, do PROS (ambos da base de apoio da presidente Dilma Rousseff) para discutir a construção de uma delegacia e de um novo presídio na cidade.

Detalhe curioso: Antônio Argeu está condenado a 49 anos de prisão por financiar o assalto ao Banco Central, em Fortaleza, em que foram roubados mais de R$ 160 milhões. Recorre em liberdade.

Tem jeito, não 2

Mesmo para os padrões éticos extremamente flexíveis de nosso país, a história dos Correios é demais: o deputado estadual petista Durval Ângelo disse que, se o PT vai bem em Minas, “tem o dedo forte dos petistas dos Correios”.

Explicou direitinho, tudo gravado em vídeo, que o Correio mineiro promoveu reuniões políticas nas 66 regiões em que divide o Estado, ampliando em pelo menos 10 pontos percentuais a expectativa de voto de Dilma e do candidato petista ao Governo Fernando Pimentel. Só? Não: há vídeos também que mostram carteiros distribuindo de casa em casa a propaganda do PT; e denúncias de que o material de outros candidatos, com remessa paga, simplesmente não foi entregue.

Descrição fotográfica

O repórter Cláudio Tognolli, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, relata com surpresa a impressão que teve ao assistir ao debate:

“Achei que era a sessão Formas de Vida do Discovery ou o bar do Star Wars 2: mas eram Luciana Genro e Levy Fidélix discutindo”.

Jeitinho

Ponto curioso do debate presidencial na Rede Globo: uma frase de Levy Fidelix. “Não fujo do pau”.

Pelo jeito, já se avança no caminho de um acordo.

Sem jeito

No clássico livro O Cão dos Baskervilles, o detetive Sherlock Holmes diz que a pista mais importante do crime era o latido do cachorro. Que latido?, perguntaram-lhe. Pois era exatamente aquilo o importante. O cachorro não tinha latido.

Nesta campanha presidencial, as declarações mais importantes foram as que não aconteceram: as de Rosemary Nóvoa de Noronha, que foi chefe do Gabinete da Presidência da República em São Paulo, afastada depois que a acusaram de tráfico de influência. A Operação Porto Seguro da Polícia Federal a atingiu no final de 2012. No início de 2014, a Justiça Federal iniciou processo criminal contra ela e mais 17 pessoas.

Daí em diante, silêncio estrondoso: o barulho do silêncio foi tamanho que Rose Noronha passou a campanha toda sem ser ouvida. Até hoje não se sabe como é que viajava no avião presidencial sem constar na lista de passageiros; nem como é que oposição e imprensa a esqueceram tão depressa.

Presidenta independenta

Da presidente Dilma Rousseff, PT, criticando mais uma vez, com suas frases características, a proposta da candidata oposicionista Marina Silva, PSB, de dar autonomia, por lei, ao Banco Central:

“Agora, virou moda independentizar o Banco Central. Só me falta independentizar a Polícia Federal”.

Os jornalistas que acompanham o noticiário político de Brasília já se habituadizaram a compreendizar as palavras de Dilma.

A oponenta

Mas, de qualquer maneira, não é fácil. Marina Silva foi colega de partido de Dilma por muitos anos, foi sua colega no Ministério de Lula, e comentou com ela, durante o debate: “A forma como você fala, toda atrapalhada”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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