Youssef enviou fortuna ao exterior por vias legais, mas não se pode acusar a esmo bancos e corretoras

dolar_25Usina de manchetes – O esquema de corrupção e desvio de dinheiro dos cofres da Petrobras, comandado por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, enviou para o exterior, por vias legais, a bagatela de US$ 234 milhões. A afirmação consta de depoimento prestado à Polícia Federal por Leonardo Meirelles, sócio de Youssef no laboratório-lavanderia Labogen, criado para, entre tantos objetivos, fraudar o Ministério da Saúde.

Conhecido como um especialista no universo do câmbio, Alberto Youssef usou canais legais do sistema financeiro para remeter dinheiro ao exterior, em especial para a China e Hong Kong. Esse procedimento criminoso não é novidade para os leitores do ucho.info, pois desde as primeiras denúncias, em janeiro de 2009, que culminaram na Operação Lava-Jato, sempre demos destaque a essas operações ilegais de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Sendo assim, não há razão para a imprensa noticiar o fato como sendo o maior dos furos de reportagem.

Sempre soube-se que Youssef usava um intricado esquema para enviar recursos ao exterior, mas a estrutura montada pelo doleiro e por José Mohamed Janene, já falecido, usava empresas de fachada e muitas outras nem tanto para esse tipo de operação. O projeto inicial de Janene passou a funcionar com mais largueza a partir da aquisição de empresas em dificuldades financeiras ou que buscavam investidores. Janene e seu bando assumiam o controle das empresas, sem que os respectivos contratos sociais fossem modificados. Ou seja, as companhias funcionavam sob a responsabilidade dos verdadeiros donos, alguns deles vítimas da quadrilha.

Com empresas reais sob o controle de José Janene e seus estafetas, o grupo passou a operar no mercado financeiro sem despertar a desconfiança de bancos e corretoras. Até porque, as operações de câmbio eram absolutamente legais e passaram pelo crivo das autoridades financeiras, começando pelo Banco Central.

De tal modo, deve-se considerar como um ato de irresponsabilidade sugerir em reportagens que instituições financeiras faziam parte do esquema criado por Janene, que desde 2010, após a morte do “Xeique do Mensalão”, passou a funcionar sob a batuta de Alberto Youssef. Recentemente, um grande jornal brasileiro enxertou em matéria sobre a Operação Lava-Jato duas corretoras de câmbio, como se ambas fossem cúmplices de Youssef e seus sequazes.

Quando o Supremo Tribunal Federal decidiu pela não obrigatoriedade de diploma universitário para o exercício do jornalismo, a “pelegada” dos sindicatos patrocinou uma sonora fuzarca, na esteira da desculpa que o banco da faculdade ensina ao jornalista noções de ética. Integrante da seara dos “sem diploma”, o editor do ucho.info reconhece a importância do ensino acadêmico, mas entende que ética aprende-se em casa, no seio da família, não esquentando o banco da escola. Ademais, o exercício do jornalismo exige, acima de tudo, vocação e bom senso, o que ultimamente tem faltado a alguns profissionais da área.

Isto posto, devem ser classificadas como levianas as acusações que fazem alguns veículos de comunicação no âmbito de instituições financeiras vítimas do esquema Janene-Youssef, pois não se pode imputar culpa aos chamados terceiros de boa fé. Por trás de uma instituição financeira, que é vítima de um esquema criminoso, existem seres humanos que não contam com bola de cristal para descobrir com antecedência as muitas transgressões que têm espocado ao longo do período mais corrupto da história brasileira. O máximo que se consegue é manchar a reputação dessas instituições indevidamente acusadas, sendo que recuperar a credibilidade custa muito ou pode até não acontecer.

Há de surgir alguém para afirmar que a defesa que ora fazemos decorre de solicitação por parte de alguma instituição financeira que tropeçou no mar de lama que recheia a Operação Lava-Jato, mas sabem os leitores que o ucho.info não faz jornalismo de encomenda, apenas exerce o direito de informar e a obrigação de revelar a verdade dos fatos, não importando a quem doa. Daí a fazer jornalismo como um alfaiate que esculpe um terno ou atacar a honra de quem não tem culpa tem uma enorme distância.

Quando um jornalista, por pressão do empregador, começa a extrapolar os limites da ética e do bom senso, produzindo matérias dúbias e manchetes estrondosas, é porque pouco conhece a respeito do escândalo em questão. O ucho.info faz esse protesto sem qualquer constrangimento, pois nos dedicamos durante sessenta e dois meses às denúncias que permitiram a deflagração da Operação Lava-Jato, em março deste ano. Em suma, não por acaso somos “A MARCA DA NOTÍCIA”.

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