Tem bububu no bobobó

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Quem é Val Marchiori? Há respostas simples: apresentadora de TV, integrante do programa Mulheres Ricas, fã de roupas e objetos de luxo, grande consumidora de champagne francês, famosa das que aparecem em revistas de famosas. Há respostas mais difíceis: é amiga do presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine. Isso terá algo a ver com o empréstimo a juros baixinhos que conseguiu, embora não tivesse quitado empréstimo anterior? Embora amigos, a ponto de um ex-motorista do Banco do Brasil, Sebastião Ferreira da Silva, ter contado que costumava buscá-la a pedido do presidente do Banco do Brasil, terão seus dois encontros em Buenos Aires e no Rio, hospedados no mesmo hotel, quando Bendine estava em missão oficial, ocorrido por pura coincidência? É o que ele diz.

O fato: Valdirene Aparecida Marchiori levantou quase 2 milhões e 800 mil reais a juros de 4% ao ano – para pessoas comuns, os juros são superiores a 8% ao mês. Garantia? A pensão de seus filhos menores. O prazo para pagamento é de 106 meses, nove anos, sendo seis meses de carência. O dinheiro vem de uma linha do BNDES, subsidiadíssima – e o caro leitor sabe quem paga o subsídio.

Outro fato: a empresa de Val, a Torke, gerencia sua carreira (contratos de publicidade, recebimento de pensões alimentícias). E pediu o empréstimo para comprar cinco caminhões semirreboques, que foram imediatamente repassados a outra empresa, a Veloz, de seu irmão e da cunhada.

Isso não é um escândalo. Escândalo é que seja só para ela, não para todos.

E ela explica

Val Marchiori dá a resposta da Torke: diz que o empréstimo é “disponível para todos os empresários brasileiros, seguiu todas as regras e normas exigida pelos bancos envolvidos, não tendo recebido qualquer favorecimento”.

O começo do jogo

Petrolão, Mensalão, Cartel dos Trens, tudo isso fica muito longe do cidadão comum. É outro mundo. Mas a história de Val Marchiori é bem mais próxima. É para todos? Pequenos empresários que não aguentam mais os prazos curtos e os juros altos, procurem o presidente do Banco do Brasil!

Aldemir Bendine, o Bom.

No tempo das vedetes

O título desta coluna é copiado de um clássico do teatro de revista. A peça rendeu filme com Ankito e um sucesso musical: http://youtu.be/HHOuN6yvbY4

O jeito certo

E, já que se falou em Petrolão, uma dúvida: tente remeter R$ 5 mil ou mais para alguém, sem nota fiscal. A remessa é comunicada às autoridades. Como é que os milhões e bilhões do Petrolão giram sem que os bancos saibam de nada?

Inculta e bela

Dilma capricha naquela língua estranha que usa, esquecendo com frequência de completar as frases. No debate da Record, usou uma palavra que deve ter aprendido naquele mesmo dia, de tanto que a repetiu: “estarrecida”. Aécio também foi fundo: “proponho uma proposta”, “vou enfrentar de frente”.

O vencedor não se sabe, mas o perdedor destas eleições é com certeza o Português.

Boa ideia

De Lula: “Onde estava Aécio quando esta moça (Dilma) foi presa e torturada?” Talvez em aula, talvez no recreio: na época, Aécio tinha nove anos.

E Lula, onde estava? Na data, era suplente da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos. Alguns anos antes, estava na Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Alguns anos depois, preso no Dops, na sala do delegado-amigo Romeu Tuma. E nesta segunda-feira, em ato de apoio a Dilma Rousseff, insultando dois jornalistas, William Bonner e Miriam Leitão, e xingando a mãe de Aécio. Que feio!

Sem samba e sem pandeiro

Há tempos, Yitzhak Rabin, heroi de guerra, foi embaixador de Israel nos Estados Unidos. Deixou o cargo, voltou à política israelense, ganhou as eleições e assumiu o Governo. Descobriu-se então que tinha deixado uma conta bancária nos EUA, com saldo de US$ 10 mil – dinheiro dele, nada roubado. Mas israelenses não podiam ter conta no Exterior. Rabin renunciou. O filho do primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, Omri, foi condenado à prisão por caixa 2 de campanha. Como o pai tinha tido um derrame, pôde ficar a seu lado, em liberdade. Quando o pai morreu, foi para a cadeia. A ministra da Economia do Japão, Yuko Obuchi, renunciou: seu partido usou verbas públicas para fins particulares. Yuko Obuchi disse que não sabia de nada, “mas que o desconhecimento não serve como desculpa”. A ministra da Justiça do Japão, Midori Matsushima, distribuiu na campanha leques de papel com sua caricatura, nome e cargo. A lei eleitoral não permite brindes. Ela renunciou. Que é que esses casos têm em comum?

Nenhum ocorreu no Brasil.

Que é isso?

Eliana Calmon, ministra aposentada do STJ, candidata derrotada ao Senado pelo PSB da Bahia, disse ao Correio Braziliense que não teve problema para financiar a campanha. “Escritórios de advocacia de São Paulo me ajudaram, isso me deixou muito satisfeita”.

Falta completar: quais escritórios? E por que?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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